A metodologia de aconselhamento do Projeto Calçada já alcançou mais de 101 mil crianças e adolescentes ao longo dos últimos 24 anos. São frequentes os relatos de educadores e líderes de organizações parceiras sobre os impactos de nossas iniciativas na vida daqueles que, direta ou indiretamente, tiveram sua autoestima ameaçada ou mesmo destruída. Confira a seguir alguns desses testemunhos e seja você o (a) próximo (a) a seguir junto conosco nesta missão de transformação de vidas.
“Amo ser parte do projeto Lifewords, uma parceria que agrega muito no nosso projeto, Reviva Sertão. Acho muito boa a relação com a liderança. De fácil acesso e suprindo todos as questões possíveis.” – Distrito Luz
“Nos sentimos abençoados com essa parceria. Somos gratos por tamanha contribuição na vida de nossas crianças. Obrigado a está equipe maravilhosa. Deus os abençoe e recompense.” – Associação Comunitária Ebenézer
“Tínhamos um menino que sempre foi muito tímido e retraído. Hoje ele tem se mostrado muito animado, mais espontâneo e carinhoso. O que mais ficou visível nele foi o impacto na autoestima. Nós da equipe, entre os educadores, percebemos a noção de pertencimento que a aplicação do Bolsa Verde gerou nas crianças. O acolhimento através desta iniciativa afeta diretamente na redução de faltas das crianças na escolinha. Após o aconselhamento, elas estão mais interativas e carinhosas.” – Casa Cruzeiro
“A melhora no relacionamento foi uma mudança que chamou a minha atenção, pois as crianças que participaram dele, algumas com problemas familiares que acabavam afetando o relacionamento interpessoal, mudaram com os colegas. Elas também estão muito mais participativas. Isso trouxe uma visão diferente do trabalho do Bolsa Verde e a sua importância para o crescimento saudável da criança.” – Bom Samaritano
“Após o aconselhamento, foi perceptível a mudança de comportamento em uma criança que apresentava agressividade, dificuldade de relacionamento com os demais, desânimo… Após o atendimento, essa criança apresenta alegria no olhar, tem autoestima elevada, se relaciona melhor, com respeito e amor. Ela aceitou a Jesus, foi batizada. Enfim, foi algo extraordinário para nós. O que mais impactou a equipe foi a mudança no comportamento das crianças, que gerou afetividade e mais respeito no falar.” – Projeto Reintegrar
“Penso que o Projeto Calçada é um ministério muito impactante na vida das pessoas que são alcançadas. Queremos continuar neste ano de 2024 com uma atuação ainda maior.” – Rebusca.
“J. é um menino que deixou a escola no ano passado, por ter concluído o curso. Fiz alguns aconselhamentos com ele porque tinha a autoestima muito baixa, estava sempre se escondendo debaixo do boné. Esse menino não se relacionava com ninguém. Hoje encontrei J. na rua, ele caminhava na companhia de outra ex-aluna, e estava sorrindo. Ele me cumprimentou com alegria. Comentei com outros colegas sobre a mudança que Deus fez na vida de J., como Deus o libertou.” – Chile
“A mudança é notória na vida de uma das crianças aconselhadas com a Bolsa Verde. Ela está muito mais sociável e tem apoiado os professores da EBD na classe de crianças menores.” – Bolívia
“Elsia (pseudônimo por questão de segurança) tem 13 anos e há algum tempo sofre com o bullying em sua escola. As dores no seu coração são tão profundas que ela tem se automutilado para buscar alívio. O aconselhamento com o Bolsa Verde ajudou-a a compartilhar o que estava guardado no seu coração. Depois de aconselhada, ela não se cortou mais. Sua família percebeu mudanças em seu comportamento, que antes era muito introvertido. Nossa organização segue acompanhando essa adolescente.” – El Salvador
“Jaime (pseudônimo por questão de segurança) não para a escola há mais de uma semana, devido à situação que vivia. E mesmo quando comparecia às aulas, não fazia as atividades. Sua mãe contou que após o aconselhamento com o Bolsa Verde, esse menino tomou a decisão de continuar com os estudos, porque isso agrada a Deus, e também disse que deve ser melhor a cada dia em todos os aspectos de sua vida. A mãe do Jaime não frequentava as atividades da igreja, mas ultimamente tem sido participativa e já está sendo discipulada e cuidada pessoalmente pela liderança da igreja.” – Venezuela
Como aplicar o Bolsa Verde Para aconselhar com o aplicativo Bolsa Verde, os interessados (as) participa de uma capacitação presencial ou online. Eles aprendem a desenvolver uma conversa pessoal, lúdica e transformadora, respeitando a individualidade e fase de desenvolvimento das crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social.
Esta ferramenta é desenvolvida para trabalhadores sociais, professores, psicólogos, assistentes sociais, líderes religiosos ou outro (a) profissional recomendado (a) por uma organização parceira. Mais informações sobre o Bolsa Verde você encontra AQUI.
Como uma organização que preza pela proteção de crianças e adolescentes, nós do Projeto Calçada acreditamos que todos os menores devem ser tratados com dignidade e respeito. Temos em nossa Política de Proteção a Crianças e Adolescentes diretrizes de boas práticas a serem seguidas por todos os envolvidos, e que previnem e lidam com todas as formas possíveis de violência contra eles: desde medidas de sensibilização até medidas de proteção, para mantê-los longe do perigo. Por isso, comemoramos a decisão do UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância – de pedir às autoridades brasileiras responsáveis que interrompam apreensões de crianças e adolescentes sem flagrante no país e assegurem integralmente os direitos de meninas e meninos.
No início de janeiro, O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, protocolou junto ao Supremo Tribunal Federal um pedido para restabelecer a proibição da apreensão de menores, exceto em casos de flagrante, nas praias do Rio de Janeiro.
A medida havia sido suspensa em dezembro de 2023 pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), que vetou a proibição desse tipo de apreensão durante a Operação Verão.
O UNICEF alerta que a medida atinge em especial crianças e adolescentes negros das periferias de grandes centros urbanos. A nota do Fundo diz que a apreensão de menores, sem flagrante, “viola expressamente direitos fundamentais de meninas e meninos garantidos pela Convenção sobre os Direitos da Criança (CRC), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pela Constituição Federal de 1988”.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 230, estabelece que, no Brasil, é crime “privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente”. Seguindo na mesma linha, a Constituição brasileira assegura, nos seus artigos 5 e 227, a proteção integral da criança e do adolescente e seu direito à liberdade, enquanto pessoas em desenvolvimento.
Já o artigo 37 da Convenção sobre os Direitos da Criança, que foi ratificada por 196 países, entre eles o Brasil, indica que os países devem garantir que nenhuma criança e nenhum adolescente “seja privado de sua liberdade de forma ilegal ou arbitrária”.
Caminhos para a segurança pública O UNICEF diz que o debate sobre segurança pública no Brasil precisa alcançar governos, polícias, sociedade civil e os próprios adolescentes e jovens, definindo “soluções baseadas em evidências e voltadas à prevenção e à resposta às diferentes formas de violência e à garantia de cidades mais seguras e inclusivas para todos”.
No dia 24 de maio, um evento especial aconteceu no Morro da Providência, no Rio de Janeiro. O Encontrão Rio, contou com a participação de 25 colaboradores das organizações parceiras da Missão Aliança que atuam na cidade do Rio de Janeiro: Lifewords,Casa Semente e Casa Cruzeiro.
Anualmente um grupo de cada um dos 14 parceiros da Missão Aliança no Brasil se reúnem em Curitiba, para fortalecimento dos vínculos, cuidado emocional, compartilhamento de experiências e fundamentação teórica da praxis. O Encontrão Rio surgiu do desejo de compartilhar parte do encontro de Curitiba com os membros das organizações parceiras que não puderam comparecer. O evento seguiu o tema de Curitiba: “Transformação, Reconciliação e Empoderamento”, e trouxe reflexões profundas e momentos inspiradores para todos que estavam presentes.
“O dia teve início com parte do grupo se encontrando na Central do Brasil, subindo de kombi até parte do trajeto e caminhando pelas escadarias, “becos e valados” do Morro da Providência (primeira favela do Brasil) até a Casa Cruzeiro, onde ocorreu o encontro. O grupo foi recebido pela equipe da Casa Cruzeiro com um maravilhoso café da manhã enquanto se deslumbrava com a vista privilegiada da cidade.” – relata, Luciana Falcão, Coordenadora do Brasil do Projeto Calçada.
Já na sala ampla da Casa, George Guimarães, da Casa Semente, conhecido por seu talento musical, conduziu um momento de louvor, enchendo o ambiente de alegria e espiritualidade. A reflexão bíblica sobre a reconciliação foi ministrada por Bebeto Araújo, Diretor da Missão Aliança no Brasil. Um momento que tocou profundamente os corações presentes.
Durante o Encontrão, houve também o compartilhamento de boas práticas, destacando o poder da mobilização comunitária. Vladimir Oliveira, da Igreja Cristã Redenção Baixada e Casa Semente, trouxe inspirações por meio do projeto “Café com os pastores de Jardim Gramacho”, evidenciando a importância da diaconia colaborativa.
Um dos momentos emocionantes foi a apresentação da Casa Cruzeiro, conduzida por Luke Simone, Jessica Xavier e Marlene Ramires, que compartilharam histórias de transformação e impacto positivo na comunidade. O trabalho em grupo liderado por Clenir Xavier, Diretora Internacional do Projeto Calçada, deu voz às crianças e adolescentes, proporcionando um tempo de muita reflexão e um exercício dos presentes, os quais por meio de desenhos feitos pelas crianças que seus projetos atendem, buscaram compreender o que as crianças e adolescentes estavam expressando com sonhos e contribuições para a transformação da comunidade. “Foi muito bom concluir o quanto é importante escutar as crianças e adolescentes, não deduzir o que querem falar, mas escutá-las, empoderando-as para trabalhar com elas, não apenas por elas e para elas.” disse, Luciana.
A palestra sobre o “Programa Economia do Reino”, ministrada por Aline de Aquino, da Missão Aliança, inspirou os presentes a repensarem suas práticas empreendedoras, promovendo uma economia sustentável e ética na comunidade.
No encerramento, Cleiton Souza, da Casa Semente conduziu um momento de silêncio, com a prática da Lectio Divina, proporcionando um ambiente de reflexão e conexão espiritual, preparando os participantes para a Ceia do Senhor, ministrada por Luke. Luciana Falcão conduziu o encerramento do evento junto com o grupo articulador e com a palavra de gratidão e oração de Bebeto Araújo. “Encerramos esse dia, que já nos fez sonhar com um novo encontro para o próximo ano.” – enfatiza, Luciana.
Entre os participantes, estava Sônia Cristina de Medeiros, membro do Conselho Consultivo da Lifewords, que compartilhou sua experiência e seu sentimento de gratidão por ter participado do Encontrão.
“Eu fiquei muito impactada com o Encontrão, agradeci muito a Deus por ter podido participar daqueles momentos. O que ouvi me fez refletir muito sobre o que Deus tem pra mim”, afirmou Sônia com entusiasmo.
A parceria entre a Lifewords, a Casa Semente e a Casa Cruzeiro, em conjunto com a Missão Aliança, mostrou o poder do trabalho colaborativo na transformação da realidade local. “Temos um ótimo relacionamento com os parceiros da Missão Aliança no Rio de Janeiro. A Casa Semente estamos acompanhando desde a sua fundação. E a Casa Cruzeiro, mais recentemente. Ambas são também nossas parceiras no uso da metodologia da Bolsa Verde. Quando estamos juntos fica claro o respeito, o amor e tanta sinergia que há entre nós. Por isso, o pensamento do fortalecimento da rede de parceiros da Missão Aliança na cidade do Rio, onde estamos sediados, de modo que possamos cooperar mutuamente ainda mais e fomentar iniciativas potentes, criativas e colaborativas. O Encontrão Rio mostrou que estamos no caminho!” – finalizou, Luciana Falcão.
Para um desenvolvimento saudável, faz-se necessário um ambiente seguro composto por cuidadores amorosos, estáveis, que supram necessidades básicas da criança. Necessidades como: alimentação balanceada, cuidados físicos, proteção, atenção, afeto e carinho. Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento. Dos 0 aos 3 anos é a fase que o indivíduo mais aprende, não haverá outro momento no ciclo vital que ocorrerá tanto aprendizado. Assim, as primeiras experiências e interações deixarão marcas no corpo e no cérebro que moldarão toda a formação dos circuitos e da arquitetura do cérebro. Uma criança curiosa, que mostra-se animada para aprender, explorar e brincar, sinaliza que teve experiências positivas, pais participativos, presentes, com estímulos adequados, ou seja, um ambiente seguro que a permitiu crescer seguramente e ser nutrida física e emocionalmente. Esse desenvolvimento começa a correr riscos quando esta criança está inserida em circunstâncias muito difíceis, que se estendem por dias, semanas, meses e anos. Circunstâncias estas que configuram ambientes instáveis, com pouca interação positiva, que as expõe à violências.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve um aumento de mais de 20% de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes de 2020 para 2021. Apesar de existir uma enorme variabilidade de comportamentos e atitudes que podem ser prejudiciais à criança e ao adolescente por parte dos adultos ou cuidadores, os mais reconhecidos nas pesquisas como maus-tratos infantis, são a negligência física e emocional e o abuso psicológico, físico e sexual.
Os impactos da agressão contra crianças e adolescentes são diversos, tornando não apenas a infância comprometida, mas também a adolescência, pois aumenta o fator de risco já existente nessa fase, para o desenvolvimento de psicopatologias e maior suscetibilidade a vícios. Os estudos apontam uma relação direta de violências, adversidades vividas na infância com o desenvolvimentos de algum transtorno mental, como transtornos de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, suicídio, abuso de substâncias, transtornos de personalidade, bem como obesidade e anomalias no coração. Existem pesquisam que também mostram mudanças na arquitetura cerebral, no que diz respeito ao volume e morfologia, em decorrência desse estresse precoce das agressões vivenciadas na infância. As áreas cerebrais prejudicadas mais apontadas nos estudos são as responsáveis por processar e armazenar reações emocionais; as que desempenham funções importantes na memória e no aprendizado; bem como a responsável pelo planejamento do comportamento cognitivamente complexo, processos de tomada de decisão, regulação emocional e adaptação do comportamento social. É importante ressaltar que os efeitos no funcionamento do cérebro, nem sempre aparecem imediatamente após a exposição ao evento, podem se manifestar na transição da infância para a vida adulta – na adolescência. Assim, mesmo que o adolescente não tenha um diagnóstico psiquiátrico, essas modificações podem influenciar o processamento e a resposta ao estresse psicossocial na vida adulta.
O organismo humano possui diversos mecanismos neurobiopsicológicos que atuam na regulação de respostas à situações adversas, de estresse social e psicológico. O eixo Hipotálamo-Pituitário-Adrenal (HPA) é um dos principais e mais antigos mecanismos de regulação do estresse em humanos. Na presença de eventos estressantes, físicos ou psicológicos, ocorre a estimulação de alguns hormônios que, por sua vez, estimulam as glândulas adrenais – também chamadas de suprarrenais – a produzir cortisona, o cortisol, um hormônio que ajuda o sujeito a se preparar para a reação de lutar ou fugir. Quando esse eixo é ativado com frequência, ele perde essa função adaptativa: salvar a vida. Ele fica hipoativo, se apresenta insensível e menos reativo em situações de estresse agudo. Recomendo a leitura do estudo feito pelo Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul sobre como a violência afeta áreas do cérebro de crianças e adolescentes. Este estudo apontou que crianças e adolescentes submetidos a episódios de violência desligam involuntariamente partes do cérebro responsáveis pela memória, empatia e emoções, colocando a mente, em “modo de sobrevivência”. Desse modo, fica comprometida a capacidade de concentração e de processamento de novas informações.
Diante de todos os prejuízos exposto que a violência, as agressões acarretam para um desenvolvimento infantojuvenil saudável, são urgentes ações que protejam nossas crianças e adolescentes. Não existe uma receita para um cenário compostos por variáveis diversas e complexas. O que temos são medidas, que todos nós podemos adotar, a começar pelo o que estamos fazendo com a escrita e leitura desse texto – a informação. Entender o que configura violência e seus impactos, pode gerar a conscientização e ações para mudanças comportamentais, de pais, cuidadores, professores, instituições e adultos de referência para com as crianças e adolescentes;
Para mudanças de práticas parentais punitivas, seguem algumas dicas para ajudar nesse processo: mudanças comportamentais passam primeiramente pelo autoconhecimento, assim, quando estiver diante de uma situação desafiadora com sua criança/adolescente, pare, se dê um tempo, saia se possível do ambiente e perceba o que está sentindo, que reações está experimentando no seu corpo (coração acelerado, rubor na face, queimação no estômago). Observe seus comportamentos, que atitudes está prestes a tomar? Elas serão pedagógicas e orientadoras, ou vão fazer seu/sua filho(a) sentir-se envergonhado(a) e desencorajado(a)? Escute o que está falando, seu tom de voz e questione seus pensamentos. O que eles estão dizendo para você fala da atitude da sua criança/adolescente ou de alguma parte da sua história de questões irresolvidas? Quando não olhamos para nossa história e buscamos dar sentido a ela, ressignifica-la, podemos repetir padrões nocivos do passado, na nossa forma de ser pai e mãe. Ao fazer essa auto reflexão, poderá ficar mais consciente de si, dos seus pensamentos que geram suas emoções e consequentemente seus comportamentos. Assim, poderá escolher atitudes que caminhem na direção do pai/mãe que deseja ser e dos princípios e valores que deseja ensinar.
A comunicação não-violenta, visa promover interações empáticas, compassivas, que levam o outro e a mim em consideração. Abaixo, seguem os quatro componentes para promover essa comunicação:
Percebem que para uma relação pais e filhos que promova uma ambiente favorável para um desenvolvimento saudável, passa pelo autocuidado dos pais? A violência pode estar sendo uma repetição geracional, tendo como uma das consequências as alterações cerebrais identificadas pelos estudos, em que esses déficits acarretam em distúrbios de socialização, facilitam o envolvimento com drogas e álcool, aumentam a agressividade, contribuem na formação de adultos impulsivos, que tendem a acreditar que os apuros da vida são solucionados por meio da força e não do diálogo.
Ana Paula Gonçalves Martins Moreira Psicóloga especialista em Gestão de Competências em Recursos Humanos. Especialista em Terapia Cognitivo-comportamental. Psicóloga clínica de crianças e adolescentes. Palestrante, professora e supervisora de turmas de formação e especialização em Terapia Cognitivo- comportamental.
Olá, meu nome é Marisol Vargas. Sou mãe, professora e durante 20 anos tenho sido abençoada trabalhando com crianças na Colômbia, em ênfase na prevenção de abuso, na educação sobre a sexualidade segundo o que Deus criou, e na restauração emocional delas. Ao longo desta experiência tenho aprendido que é fundamentar guiar e proteger as crianças com base nos princípios bíblicos, que promova afirmação e liberdade em suas vidas. Se fortalecemos a identidade delas, estrão preparadas para enfrentar diversas situações que surgirem.
Apresento 7 estratégias para ajudar crianças e adolescentes a fortalecerem a autoproteção:
Ensine as se verem como criação especial, assim como Deus as vê. Elas foram criadas por Ele com um propósito. Deixe-as saber que foram escolhidas, que são perdoadas e amadas, e que seu valor vem de quem elas são, não apenas do que fazem. Efésios 2:10
Guie-as enquanto estão crescendo. As crianças sempre precisarão ser guiadas por adultos, observando seu bom exemplos, suas boas práticas, enquanto estão crescendo. Deus nos concedeu grande privilégio ao nos dar filhos em nossas famílias. Provérbios 22:6
Crie espaços seguros e de confiança onde as crianças possam conversar sobre diversos temas e encontrar respostas para suas dúvidas, com base na verdade divina. 2 Timóteo 3:16
Demonstre interesse em conhecer seus gostos e fortaleça seu círculo de amigos. Ensine-as que Jesus é o verdadeiro amigo, que as ajuda e que pode satisfazer suas necessidades de aceitação, participação e pertencimento. Provérbios 13:20
Mostre-lhes que todo o seu ser é especial – espírito, alma e corpo – e merece respeito e cuidado. Faça-a entender que são um tesouro dado por Deus e que devem cuidar de si mesmas. 1 Tessalonicenses 5:23
Ajude-as a se protegerem da necessidade de agradar aos outros e de se automutilarem. Sempre haverá um desejo natural nas crianças de serem aceitas, mas devemos fortalecer sua autoestima e autoconfiança. Isaías 43:4-5
Ajude-as a compreenderem que tudo o que veem ou vivenciam afeta sua mente, suas emoções e sua vontade, que seus cinco sentidos são muito importantes. Ensine-as que elas têm autoridade para dizer “NÃO” a qualquer situação que coloque em risco sua integridade. Provérbios 14:16
Espero que estas 7 estratégias sejam úteis para você fortalecer a autoproteção de crianças e adolescentes com as quais convive. Desejo que você tenha muito sucesso em seu trabalho!
Marisol Vargas Coordenadora do Projeto Calçada na Colômbia Lider da Red Viva e do Movimento Juntos pela Infância na Colombia Fundadora de Biblioeseñarte (materiais infantis para a prevenção de maus tratos e abusos) – www.facebook.com/biblioensenarte.bea
Willian chegou até nós em 2021 para receber refeições e cestas básicas durante a pandemia. Mas foi em 2022 que vimos um menino amante de Jesus e de sua transformação
O ano era 2021 quando Willian chegou até nós. Através das ações que realizamos durante a pandemia, com a entrega de cestas básicas e refeições na comunidade em torno ao projeto, a mãe de Willian nos conheceu. Assim que as atividades retornaram pós pandemia, a mãe do menino o matriculou, junto com suas irmãs, para as atividades de esporte e dança.
O tempo foi passando e em 2022 fomos conhecendo Willian de perto. Um menino de apenas 10 anos que gosta de estudar e é obediente. Possui uma personalidade alegre e gosta de falar. No entanto, um dia Willian chegou e observamos que ele estava triste. Além disso, quase não falava, estava muito quieto para ser o Willian de sempre. Então, percebi uma oportunidade para o convidar a participar do aconselhamento da Bolsa Verde.
Durante aquele encontro, o menino me descreveu a tristeza em seu coração. Relatou que seu pai possui o vício em bebida alcoólica. Todos os dias o mesmo chegava alcoolizado em casa. Isso gerava brigas entre seu pai e sua mãe. Willian chegou a dizer que sentia medo e angústia com tudo o que acontecia. Principalmente, porque ele já havia perdido um familiar por causa do vício e ele não queria que isso acontecesse com seu pai. Pude então apresentar as histórias da Bolsa Verde e durante aquele momento, o menino pôde descansar.
Ao término do aconselhamento era notória a diferença em Willian. Ele estava diferente, mais tranquilo e aliviado. Ao orar, ele pediu por sua família, pedindo para que Jesus cuidasse de seu pai e chegou a declarar que agora sabia que Jesus estava cuidando de sua família, “ele está cuidando do meu pai.”
Passado o aconselhamento, Willian continuava a demonstrar mudança de comportamento para melhor. Ele começou a fazer a diferença até mesmo dentro do projeto! Foi então que decidimos convidá-lo para um discipulado bíblico. No discipulado ele compreendeu sobre o que era batismo e pediu para conversar com o pastor pois queria se batizar. No dia do aniversário do projeto, 5 meses após seu aconselhamento com a Bolsa Verde, Willian se batizou. Foi um momento muito emocionante para todos nós. Vimos Willian, toda a sua família, inclusive seu pai, chorando ao ver o batismo do menino.
Desde então, Willian se tornou agente de transformação. Sua mãe compartilhou que todos os dias seu filho lê a bíblia e compartilha um versículo com os seus pais. Ele tem convidado as crianças da comunidade para irem até o projeto. Esperamos que todas venham!
O Projeto Calçada tem sido uma ferramenta preciosa na restauração e cura das crianças, adolescentes e educadores em nossa organização. A cada aconselhamento percebo a transformação na vida dos que são aconselhados, eu também vejo a diferença acontecendo na vida das crianças e adolescentes que têm um tempo de escuta com a Bolsa Verde.
Contribuição de uma educadora do Projeto Calçada.
*Nome fictício para proteger a identidade da criança.
É muito comum as pessoas se surpreenderem com a metodologia do Projeto Calçada; alguns até duvidam de que os resultados possam ser mesmo tão imediatos. Esse ano tivemos esse questionamento entre os participantes de uma capacitação presencial que aconteceu no Rio Grande do Norte, a primeira depois de uma pausa na pandemia.
Durante o momento teórico, dois educadores em capacitação achavam que não era necessário seguir tão à risca cada passo da metodologia. Mas a ênfase dada durante o processo de aprendizagem do grupo foi a de que essa metodologia foi muito bem estudada, foi testada, e nesses 22 anos de Projeto Calçada ficou comprovada a eficácia do resultado que ela tem trazido na vida dos aconselhados.
Houve um momento muito especial na capacitação, que foi o aconselhamento da primeira criança, enquanto o educador era supervisionado no uso da Bolsa Verde.
Conhecendo a realidade do local, os participantes achavam que esse adolescente, que seria o primeiro a ser aconselhado, nada ia falar, nada ia comentar, por ser um menino muito calado.
Já contrariando a expectativa, o adolescente César*, de 13 anos, ficou muito feliz ao ser recebido para o aconselhamento. Seguindo as etapas da metodologia, chegou o momento em que o educador lhe pediu para que pensasse em uma imagem com a qual ele podia se comparar, diante do que sentia quanto ao abandono do pai. César falou que se comparava a ‘uma árvore’. Então ele fez o desenho e explicou:
“Eu me sinto uma árvore oca, seca e solitária, porque todo mundo passa e bate em mim e eu fico preso. Não posso sair, não posso falar nada, eu só apanho e só apanho”.
Isso impactou todo o grupo. O educador contou as histórias de Jesus para César. As histórias revelavam o amor de Jesus, e já neste momento foi visível a transformação do menino. Ele ficou tão atento às histórias da Bíblia e ao que o educador falava sobre Jesus e o seu amor pelas crianças.
Ao final desse aconselhamento com a Bolsa Verde, o educador lhe perguntou como ele se sentia depois de ouvir que Jesus é seu amigo e que o ama, e se poderia pensar em uma imagem com que pudesse se comparar para explicar como se via agora. O grupo em capacitação ficou na expectativa para saber que imagem César escolheria para se descrever. Foi aí que ele desenhou uma árvore igual à anterior. Entretanto, César foi desenhando frutas, colocou o sol, decorou aquele desenho com pássaros e disse:
“Agora eu me sinto assim, uma árvore frondosa, iluminada pelos raios do sol e alimentada pela chuva, cheia de frutos e feliz”.
Esse foi um momento de visível transformação, tanto porque César foi ouvido, quanto porque ele já não se sentia mais aquele adolescente imobilizado, sem poder se defender. Era notório que ele percebia que tinha vida, pois suas expressões físicas transmitiam a alegria que ele esboçava ao final.
O aconselhamento do César foi tão impactante, que o próprio grupo e as pessoas que estavam de certa forma questionando a eficiência da metodologia, ficaram emudecidas vendo como aconteceu uma transformação de uma forma tão rápida, quase imediata. É assim, quando a gente insere a Palavra de Deus para ajudar a criança a ressignificar sua própria história, é emocionante e transformador. Os membros da equipe dessa organização, que atende crianças sertanejas e quilombolas, foram fortalecidos na fé quanto à ação poderosa do Espírito Santo e das histórias da Bíblia. Também estão mais sensíveis que quando damos um tempo de qualidade individual à criança ela pode abrir seu coração e ser curada.
Colaboração de uma Multiplicadora do Projeto Calçada
*Nome fictício para proteger a identidade da criança.
Celebração online da elaboração da escrita da Política de Proteção de Crianças e Adolescentes.
Mais do que uma reunião online, mais do que a entrega de certificados. A celebração online, que aconteceu no dia 31 de outubro, reuniu testemunhos de como Deus está agindo em igrejas e organizações através da escrita da PPCA – Política de Proteção de Crianças e Adolescentes. Fruto de uma iniciativa do Projeto Calçada em parceria com a Missão Aliança, cinco organizações (MEAP – Missão Evangélica de Assistência aos Pescadores, Primeira Igreja Batista de Itabaianinha (BA), Assembleia de Deus – Ministério Kairos (RJ), Associação Vitória (CE), IBAJI – Igreja Batista no Jardim das Indústrias (SP) concluíram o documento que passa a reger as diretrizes do cuidado, da proteção e dos direitos de crianças e adolescentes.
Iniciado a partir da sensibilização com a realização da Oficina Um Lugar Seguro, ministrado pela equipe do Projeto Calçada, as organizações seguiram avaliando suas práticas e foram orientados por Janaína Camilo, especialista em proteção infantil, que os orientou para a escrita da PPCA, que durou um período de 2 a 7 meses, de acordo com as particularidades de cada organização.
O momento da celebração e entrega de certificados de conclusão, foi conduzido pela coordenadora do Brasil do Projeto Calçada, Luciana Falcão e contou com corações cheios de gratidão por mais um passo em direção ao Reino de Deus para com as crianças. Um Reino o qual profetiza que “as ruas serão cheias de crianças brincando.” – como relembrou Cleisse Andrade.
“Pode parecer impossível pra gente ver a restauração das nossas cidades. Ver que as crianças têm espaços seguros, felizes onde estejam protegidas. Mas a promessa de Zacarias 4.8 é a mesma. Deus é o mesmo e a promessa é para nós também. Então, que a gente mantenha a nossa fé, a nossa esperança nessa visão de uma Jerusalém, de um mundo onde as crianças possam crescer felizes se divertindo.”
Um Reino onde Deus se alegra com aqueles que olham com prioridade para as crianças e não para os processos. Como a equipe da MEAP, que optou por escrever uma PPCA que abrangerá todas as bases da missão espalhadas pelo Brasil. Mesmo com toda pluralidade no país, com o contexto de cada projeto, a política é um documento que prioriza a proteção. E isto é uma linguagem universal. Segundo Jandira Almeida, diretora de comunicação da MEAP, “a política nos colocou no mesmo ambiente (como equipe), a política nos colocou no mesmo foco (a proteção da criança e não a quantidade de crianças por projeto) e a política nos colocou em um lugar seguro também (tanto para crianças, quanto para equipe, que agora possuem um norte.”
Wandelery de Jesus Santos, integrante da comissão de escrita da PPCA da PIB de Itabaianinha, relatou que a igreja não só escreveu, mas aprovou em assembleia e registrou o documento em cartório. Além disso, já iniciaram a implementação da PPCA, realizando a troca das portas da igreja, visando a inserção de vidro para que as crianças e adultos possam sempre ser observados e protegidos, ajudando a evitar assim, qualquer tipo de abuso.
“A gente recebeu com muito bons olhos e nos envolvemos na medida do possível para fazer o melhor. Afinal de contas, esta política vem para proteger as nossas crianças, para dar respaldo às famílias que trazem suas crianças. Enfim, a gente fica muito feliz pela ajuda e a contribuição de vocês (Projeto Calçada e Janaína). Todo esse processo foi muito edificante para gente e a gente se sente muito orgulhoso de hoje ter a nossa a nossa política escrita e aprovada.”
Como Diretor Nacional da Missão Aliança, Bebeto Araújo acalentou os corações com a certeza das bênçãos do Senhor sobre a vida daqueles que colocam as crianças no centro, como Jesus fez em Mateus 18.
“Este texto é conhecido, especialmente para as pessoas, organizações e igrejas que valorizam as crianças, assim como Jesus valorizava. Este é um texto muito chave quando a gente pára para refletir um pouquinho sobre o lugar que a criança tem no coração de Jesus ou na agenda de Jesus. Eu tô cada dia mais convencido que aquilo que a gente faz com as nossas crianças e aquilo que a gente faz por nossas crianças demonstra exatamente o que é que a gente pensa sobre o mundo, sobre Deus e sobre nós mesmos. A gente é chamado para amar aquilo que Jesus ama, mas também para não tolerar o que Jesus não tolera. Jesus não tolera que a criança seja negligenciada, Ele não tolera.”
Agradecidos a Deus, Clenir elevou ao Senhor uma oração de agradecimento pela vida dos envolvidos na árdua tarefa de escrever, implementar e monitorar a PPCA. O Projeto Calçada reforça o agradecimento à Janaína Camilo que não pôde estar presente na celebração online por questões de conexão, a Missão Aliança pela parceria e a cada organização que se dedicou para este desafio de elaboração da PPCA.
Organizações que elaboraram a PPCA
Assembleia de Deus – Ministério Kairos – RJ – 7 meses
Associação Vitória – CE – 3 meses
Igreja Batista no Jardim das Indústrias – IBAJI – SP – 7 meses
MEAP – Missão Evangélica de Assistência aos Pescadores – 2 meses
Primeira Igreja Batista de Itabaianinha – BA – 2 meses
“Depois disso, algumas pessoas levaram as suas crianças para Jesus pôr as mãos sobre elas e orar, mas os discípulos repreenderam as pessoas que fizeram isso. Aí ele disse: — Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino do Céu é das pessoas que são como estas crianças. Então Jesus pôs as mãos sobre elas e foi embora. ” Mateus 19:13-15 NTLH
Certa vez eu tive a oportunidade de ver um vídeo desses que aparecem sugeridos em nossas redes sociais. O vídeo, realizado por uma emissora de TV brasileira, mostrava um experimento social chamado “Esqueceram de Mim”. Nele duas crianças uma negra e uma branca foram “esquecidas” sozinhas em uma calçada bastante movimentada que aparentava ser de um grande centro urbano, simulando estarem perdidas. O experimento buscava medir o grau de atenção/cuidado que cada uma das crianças receberia.
Em momentos diferentes cada uma das meninas foi deixada sozinha paradas em determinado lugar, monitoradas apenas por rádio e câmeras da equipe. A criança negra ficou quase uma hora sem ser notada pelas pessoas que passavam. A criança branca ficou menos de um minuto sozinha no local marcado. Muitas pessoas passavam e perplexas questionando como essa criança poderia estar ali sozinha! E rapidamente abordaram a criança branca e prestaram assistência. Exatamente no mesmo lugar que a criança negra ficou.
Talvez você tenha ficado extremamente triste com esse relato e se pergunte: como a nossa sociedade chegou a essa situação? Infelizmente situações como a que foi demostrada no experimento acontecem cotidianamente, a sociedade brasileira naturaliza a subalternização das crianças e os adolescentes negros todos os dias. É possível perceber certa “tranquilidade” de grande parte das pessoas diante dos quadros de exploração infantil nos grandes centros urbanos. E é triste constatar que a maioria dessas crianças são negras.
É exploração Infantil
Quantas balas ou doces você já comprou de uma criança ou adolescente negro nas noites ou madrugadas em sinais de trânsito? Em alguma dessas vezes você se perguntou o que aquela criança ou adolescente estaria fazendo ali, vulnerabilizada, correndo riscos? Muitos acionarão a resposta covarde e hipócrita: – É melhor estar vendendo bala do que roubando! Ignorando completamente que o fato de uma criança ou adolescente estar “trabalhando”em tais condições é exploração infantil. A maioria dessas crianças e adolescentes são negros e passam desapercebidos de nossa atenção e cuidado. Essa situação acontece de forma cotidiana em nosso país, a maioria de nossas crianças negras são invisibilizadas, alijadas de seus direitos e de condições de vida dignas.
Jesus e as crianças
Jesus é enfático em Mateus, capítulo 18, versículo 5 quando diz que ao recebermos uma criança nós estaríamos recebendo a Ele. Diante dessa fala poderosa de Jesus nos resta pedir perdão a Deus pelas crianças negras e adolescentes negros que rejeitamos, “apagamos” todos os dias.
Que atitudes devemos ter para mudar esse quadro? O primeiro passo é a conversão, é necessário mudar o olhar, libertar-se do pecado do racismo e da negligência na luta contra a exploração infantil. É urgente tomar posição e organizar atividades e eventos nos espaços em que você atua para falar sobre esse pecado que tem danificado a vida de milhares de crianças e adolescentes no Brasil e no mundo. Outro passo é buscar organizações que atuam no campo da proteção e defesa de direitos das crianças e adolescentes e na construção de relações sociais antirracistas e oferecer seu trabalho voluntário.
O desafio dos cristãos diante da defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Acredito radicalmente no papel das igrejas, movimentos e organizações cristãs na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes entendo que é necessário engajar-se, falar e agir. Não é possível que tantas violações de direitos das crianças e adolescentes aconteçam em um país majoritariamente cristão!
É imprescindível que as igrejas amadureçam teologicamente para esse desafio. Não podemos ignorar que o a Bíblia diz sobre as crianças e o papel delas no Reino de Deus. Não dá para esperar mais, ou a Igreja toma posição pela defesa da vida das crianças e adolescentes ou estará rejeitando Jesus de Nazaré. Cada igreja é uma embaixada do Reino de Deus na terra e precisa estar conectada com esse desafio, sem medo e sem recuos de base moralista, se negando diante daquilo que também é sua responsabilidade, é urgente assumir a causa.
O que é possível fazer?
Orar, participar e trabalhar. Nós cristãos temos muitas dimensões em que podemos nos envolver na promoção do bem viver e dos direitos das crianças e dos adolescentes. “Abrir os olhos” considerar a realidade das crianças e dos adolescentes negros, que são maioria nesse país, não tolerar mais que uns tenham direitos e outros não. Jesus é enfático em dizer que bem-aventurados são os que têm fome de justiça. Jesus também vem nos dizer que das crianças, e porque não dos adolescentes também, é o Reino dos céus. Jesus não diz que o reino pertence à determinadas crianças e adolescentes e às outras não, Ele diz que o reino é delas, ou seja, de todas as crianças e por que não dizer de todos os adolescentes.
Eu e você podemos atuar em muitas frentes e de muitas maneiras para mudar esse quadro tão injusto, podemos ser cooperadores dessa causa.
O Dia Nacional da Adoção é celebrado no Brasil em 25 de maio como uma forma de conscientização sobre a importância dessa ação. A adoção é um ato de escolha e amor, em que tanto adotantes quanto adotado(s) passam por grandes desafios, mas também pode ser imensamente gratificante para ambas as partes.
A perda da família de origem
Geralmente, as crianças e adolescentes que estão inseridos no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) estão abrigados em uma instituição por seus direitos terem sido violados ou por questões de orfandade, em que não há mais pessoas da família que possam assumir a responsabilidade por eles, sendo necessário o cumprimento de ações judiciais que visam promover a proteção dos mesmos. Esse procedimento envolve a ruptura não somente da presença, mas também do vínculo familiar e comunitário, o que para estes é confuso de compreender, sendo um fator gerador de sofrimento que implica em um turbilhão de emoções.
A subjetividade infanto-juvenil não está pronta para tamanho luto e trauma, ainda que seja compreendido pelo mundo adulto que aquela decisão é a melhor para sua segurança. A equipe técnica da instituição de acolhimento formada por profissionais tais como: psicólogo, assistente social, pedagogo e educadores, deverá trabalhar as questões individuais de cada criança e adolescente, bem como sobre a proposta de estarem inseridos em um novo contexto familiar através da adoção.
Aceitação de uma nova história…
Podemos dizer que o processo de aceitação na adoção inicia-se antes mesmo do estágio de aproximação e convivência, quando os adotantes tomaram essa decisão e quando a criança e/ou adolescente entendeu a possibilidade de ter uma nova família.
De acordo com Kübler-Ross, autora do livro Sobre a Morte e o Morrer, o luto tem 5 fases: negação, raiva, barganha ou negociação, depressão e por último, aceitação. Essas fases podem ser vividas de forma diferente de acordo com cada indivíduo e não necessariamente nessa ordem. O tempo de vivência dentro de cada estágio também é muito particular. É na aceitação que a criança ou adolescente tem mais tranquilidade e abertura para expressar sobre suas perdas, frustações, medos, e receber melhor a inserção familiar.
A aceitação pode ser demorada para alguns. Envolve aceitar a sua história de vida, o novo modelo parental, a nova realidade social, novas regras, novos ritmos, novo sobrenome, nova identidade. No entanto, do ponto de vista emocional, essas informações também vão formando no indivíduo o senso de pertencimento, o que lhe atribui valor pessoal e consequentemente, retribuição de afeto, podendo levar-lhe a também adotar àquela família como sua, o que é uma resposta positiva e aspecto aguardado e gratificante para os adotantes.
Vinculação, apego e integração
Para que aconteça a formação do vínculo familiar é necessário tempo, confiança e consistência, o que requer paciência, dedicação e amor dos pais para essa construção que não pode ser baseada na própria carência afetiva. Portanto, não é fácil e para que seja mais leve, é indicado a construção de uma rede de apoio formada por profissionais, amigos e a participação em grupos pós adoção.
Sabemos de antemão, que todos nós fomos um dia fomos adotados, o que nos trouxe a possibilidade de sermos chamados filhos e herdeiros de Deus (1Joao 3:1) e este mesmo é o que gera o amor e recursos internos que precisamos.
Depois da superação dos desafios emocionais da aceitação, vem a integração e comprometimento. Já em uma fase mais acomodada e confortável, pais e filhos, vinculados, continuam amando-se mutuamente, apesar de não ser tudo perfeito como em qualquer família. Contudo, na certeza de que vale a pena o esforço e a escolha por adotar, porque é sobre acolher e ser acolhido, amar e ser amado.
Fabiane Nunes Ferreira Queiroz da Silva Psicóloga com pós-graduação em psicologia clínica; membro de JOCUM – Jovens Com Uma Missão; multiplicadora do Projeto Calçada – Associação Lifewords Brasil.