Toda a família restaurada

Toda a família restaurada

Quero compartilhar uma experiência que tive envolvendo a Bolsa Verde. Eu trabalho no departamento de orientação cristã em uma escola. Nessa função acabo recebendo para aconselhamento muitos alunos com problemas comportamentais ou que demonstrem tristeza, depressão, agressão. 

Um certo dia, no final das aulas, enquanto esperávamos os pais e responsáveis buscarem seus filhos, Hector, de 6 anos, estava comigo. Seus pais demoraram muito a chegar e passamos muito tempo ali juntos esperando. Quando percebi a demora, sugeri que usássemos aquele tempo para orar pelos seus pais, pois eu sabia que eles estavam se divorciando. Assim fizemos.

No dia seguinte, pedi permissão ao professor para falar com Hector e aconselhá-lo. A ferida dentro daquele menino era muito grande. Ele disse que era como se uma faca perfurasse seu coração. 

Alguns dias depois da nossa conversa com a Bolsa Verde, soube que ele compartilhou com sua família o versículo da Bíblia que estava no cartão de bolso que ele escolheu. Os pais dele, meus amigos de infância, vieram me perguntar o que eu havia conversado com seu filho. Assim tive a oportunidade de apresentar Cristo novamente. 

Os dois oraram e algo muito especial aconteceu: eles decidiram trabalhar juntos pelo relacionamento. Não somente a ferida no coração de Hector foi fechada, mas toda a ruptura que acontecia naquela família foi interrompida e cicatrizada. O pastor da igreja os ajudou e hoje eles fazem parte da nossa igreja. Uma simples conversa atenciosa com uma criança pode ser instrumento de Deus para a restauração de um casamento e uma família inteira. 

A Bolsa Verde é uma ferramenta valiosa para curar os corações feridos de crianças e adolescentes, independentemente de raça, status social, religião. Com ela aprendi como conversar com esses pequenos. Eu gostaria de usá-la ainda mais, mas chegará a hora. Agradeço a Deus o privilégio que me deu, colocando em minhas mãos uma ferramenta com a Palavra Dele, que cura os corações partidos de crianças, adolescentes e famílias inteiras.


Escrita por Beatriz Bastos.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

30 anos do ECA e a disposição em não desistir.

30 anos do ECA e a disposição em não desistir.

Em 13 de julho é comemorado o aniversário do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Em 2020 ele completa 30 anos. Sua construção deu-se com base em uma série de acontecimentos que colaboraram para sua criação, dentre eles a Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989, na Organização Nações Unidas (ONU).   (mais…)

Do vento à chuva

Do vento à chuva

Meu nome é Amitha e tenho 14 anos. Uma mulher que conheço desde muito pequena hoje veio me contar algumas histórias. Eu também a contei muita coisa. Consegui abrir meu coração e confessar o que estava sentindo.  Meu pai faleceu há um pouco mais de um ano e, apesar de parecer bem, ainda estava lutando para aceitar essa perda. 

A verdade é que eu sentia uma solidão esmagadora. Odiava estar na companhia dos meus amigos ou até de outros membros da família. Eu me sentia como o vento, que ninguém pode ver.

Uma das histórias que essa mulher me contou era sobre uma ovelha que se perdia de seu dono, mas ele deixava todas as outras para encontrá-la. Ouvindo essa história, tive uma sensação de conforto e libertação. Entendi que, mesmo sem meu pai aqui, não preciso mais me sentir sozinha, tenho um Pai que pode cuidar de mim e renovar meu coração e minhas forças. Jesus está me protegendo e cuidando de mim. 

Nem mesmo essa mulher, que me conhecia há tanto tempo, sabia que eu estava tão triste e sofrendo tanto. Mas, mesmo sem antes saber como eu me sentia, ela pode, usando as histórias da Bolsa Verde, ser um instrumento de Deus para limpar meu coração. 

Sinto que fizemos um verdadeiro avanço hoje. Não mais me sinto invisível como o vento, mas como uma nuvem que dá chuva, permitindo que as plantas cresçam. 


Publicação original na newsletter mensal da Lifewords – From The Streets, setembro 2014 – com colaboração de Beatriz Bastos.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

A Floresta Fértil

A Floresta Fértil

Leda é uma menina de 8 anos, magrinha e que estava sempre desarrumada. Ela vivia em conflito permanente com todos ao seu redor e andava profundamente triste e mal humorada. Na escola causava problemas com frequência e, em casa, os vizinhos reclamavam constantemente com os pais sobre seu mal comportamento.

Leda participa das atividades da igreja cristã na Venezuela, onde eu trabalho com as crianças. Chamei-a para uma conversa e resolvi usar a Bolsa Verde para contar histórias da Bíblia e assim ajudar a Leda a abrir seu coração sobre o que estava acontecendo com ela. Leda contou como se sentia ignorada e com isso ela se mostrava indiferente com todos ao seu redor. Ela se via como a natureza que não escuta nada, que não é percebida, que as pessoas realizam suas atividades do dia a dia sem notá-la. Leda tinha os olhos tristes, sem brilho, e chorou muito enquanto compartilhava sua dor. Quando estávamos terminando a conversa lhe perguntei como como estava se sentindo depois de ouvir as histórias, Leda disse que estava alegre e que agora se sentia novamente como a natureza, mas que era agora uma natureza feliz. Ela disse que sentiu um alívio em seu coração.

O Projeto Calçada chegou como uma grande benção na vida da Leda, que demonstrou rapidamente muitas mudanças. O amor de Deus se manifestou em sua vida de maneira muito clara. Agora quando eu a encontro está sempre está sempre feliz e faz amizade com todos ao seu redor.

Leda aprendeu a escrever e a ler, e está aprendendo histórias bíblicas com muita facilidade. A linda mudança divina que aconteceu por dentro, na sua autoimagem, se refletiu também para fora. Leda agora está sempre arrumadinha e com roupas combinando. Esse é o tipo de diferença simples, mas que significa muito. Hoje Leda entende como tem valor para todos nós que estamos perto dela, e também entende como Deus a vê, especial e importante, e essa transformação é percebida no seu comportamento e atitudes.

Vejo o coração da Leda é como um terreno fértil, uma floresta totalmente preparada para ser regada e cuidada. Ouvindo sobre quem é Jesus e sobre quem ela mesma é pra ele, Leda pode florescer com a chuva de bençãos que caiu na floresta de seu coração.


*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

História da Zuri

História da Zuri

Sempre ouvi falar da Bolsa Verde, mas nunca tive a oportunidade de conhecer de fato. Na verdade, eu sempre me senti incapaz de trabalhar com pessoas vulneráveis, pois sofro muito suas situações, principalmente porque muitas vezes não sabia o que fazer além de orar. 

Um dia, a Clenir* me desafiou a fazer o curso aqui em Moçambique. Confesso que não fiquei animada. Conversei com ela sobre como eu me sentia incapaz para este trabalho. Até que ela me convenceu com o argumento de que eu poderia “ser ponte” para trazer o Projeto Calçada pra cá, sendo multiplicadora. Eu me senti mais responsável ainda e orei muito pra Deus trazer paz ao meu coração e usar a minha vida. 

Foi um treinamento difícil em vários sentidos: financeiro, muito calor, problemas com o carro. A Clenir foi, uma guerreira para fazer tudo dar certo. Ela não me ensinou apenas como aconselhar crianças e adolescentes com a Bolsa Verde. Creio que ela nem imagina como Deus a usou para abençoar a minha vida! 

Hoje, eu ainda me impressiono com a explicação do processo, como a “Palavra Viva” pode transformar a auto-imagem, a auto-estima, mesmo se a situação não for solucionada, há uma mudança significativa na vida de quem ouve as histórias da Bolsa Verde.

Uma das histórias que mais me marcou nesse tempo aconselhando foi a da Alice, uma adolescente de 15 anos que vive em um orfanato. Quando o pai adoeceu, a mãe foi embora de casa deixando os quatro filhos. A menor tinha 3 anos. Depois, com a morte de seu pai, os tios e vizinhos queriam ajuda a ela e seus irmãos, mas a mãe não deixava, mesmo não morando na casa. Diante disso, ela disse se sentir sozinha e abandonada. 

Ela estava muito séria e parecia triste quando fomos conversar. Disse que se sentia como uma tartaruga que, quando está em perigo, tem o casco para se proteger. Um detalhe é que aqui na África, os olhos são a forma de se expressar. Parece que o rosto se congela, mas os olhos falam. Alice tinha os olhos tristes, pois disse várias vezes que se sentia abandonada pela mãe. Mas que mudança linda pode acontecer! Ao final da conversa ela disse que se sentia não como uma frágil tartaruga, mas como uma casa com alicerces bem feitos. 

Hoje ela continua orando pela libertação da sua mãe, que trabalha com feitiçaria. Ela me disse que não se sente mais sozinha e que quer ser estilista de moda. Não mais tem olhos tristes, mas um olhar cheio de esperança e planos para o futuro. 

Enquanto eu fazia meu treinamento, eu não entendia o motivo de aprender sobre tudo isso, pois não me identificava com os traumas da maioria. E eu nem imaginava que Deus estava me preparando não só para trabalhar com a Bolsa Verde, mas também para enfrentar um trauma na minha própria vida. 

Alguns meses depois eu e minha família passamos pelo ciclone. Pronto, agora eu tinha um trauma, e dos grandes! Depois que conseguimos sair da cidade e nos comunicar, a Clenir novamente me ajudou muito, conversando comigo, me ajudando a organizar meus pensamentos e sentimentos. Ríamos muito também. Como foi importante entender o processo da cura de um trauma! 

Sei que o treinamento era para eu ficar apta a ajudar crianças e adolescentes como a Alice, mas Deus fez além: usou o Projeto Calçada para me abençoar! Assim como ela, eu também experimentei mudanças incríveis da minha vida.

Educadora Zuri, Moçambique.

*Clenir Xavier é a diretora internacional do projeto Calçada


Escrito pela educadora Mayre com colaboração de Beatriz Bastos

Comemorando nossos 20 anos

Comemorando nossos 20 anos

Neste ano o Projeto Calçada está comemorando 20 anos de atuação. Essa é uma data muito especial e que tem sido esperada há muitos meses. Desde o ano passado começamos o planejamento e preparativos para as comemoração. Com a pandemia do coronavírus, alguns planos precisaram ser mudados, mas não deixamos de celebrar.

No dia 20 de junho tivemos um momento muito especial, nosso culto online em gratidão a Deus pelo aniversário. Na celebração, pudemos, mesmo de longe, comemorar juntos o que Ele tem feito pelo Projeto Calçada nesse tempo. A equipe do Brasil comandou a festa, mas multiplicadores, educadores e crianças de vários países puderam participar. Tivemos orações vindas da Colômbia, da Tanzânia, da Índia, do Zimbábue e da Uganda. Além disso, pudemos ouvir o testemunhos de educadores do Projeto Calçada, como o da Olívia, de Cabo Verde, que foi aconselhada quando criança e hoje é missionária; e a história do Dixon, um educador do Quênia que foi impactado pela Bolsa Verde já adulto. Tivemos um momento de louvor muito animado, vindo lá do Quênia, com a educadora Jane Kiarie.

Clenir Xavier, diretora internacional do Projeto Calçada, trouxe uma palavra inspiradora a partir da história de Hagar e Ismael. A missionária da Junta de Missões Mundiais e multiplicadora do PC, Carmen Lígia também contou um pouco da sua história com a Bolsa Verde.

Durante a celebração, conseguimos sentir o carinho e a admiração pela história do Projeto Calçada através dos comentários ao vivo.

Sue Davie, viúva de Hugh Davies, responsável por trazer a visão do Projeto Calçada à Lifewords em 1998, testificou que para Hugh “o projeto estava muito próximo do seu coração – ele muitas vezes tinha lágrimas nos olhos quando falava disso. Ele adoraria estar aqui!”

“​Louvando a Deus por este ministério tão relevante do Projeto Calçada. Parabéns a toda equipe e as milhares de crianças abençoadas!” – também comentou ao vivo Terezinha Candieiro, coordenadora do PEPE Internacional.

Sonia Cristina Medeiros Rocha, membro do Conselho da Lifewords Brasil, reforçou a importância da metodologia ao comentar: “​A Bolsa Verde é um instrumento abençoador! Que muito mais crianças possam ser atendidas pelo Projeto Calçada para sentirem suas vidas sendo transformadas!”. Bebeto Araújo, nosso parceiro, também participou e enfatizou que “a Missão Aliança é profundamente grata a Deus pela parceria frutífera e tão abençoadora com a Lifewords Brasil.”

Além da celebração online, temos produzido alguns conteúdos em comemoração pelos 20 anos. Em uma página especial, reunimos fotos, testemunhos de parceiros, histórias de transformação de crianças e adolescentes e uma campanha de doação. Você pode acessar aqui.

Mesmo em um tempo difícil como o que estamos vivendo, acreditamos que devemos nos lembrar de tantas coisas boas que passamos nesses 20 anos: cada voluntário; parceria estratégica; educadores e multiplicadores; doadores; e, cada aconselhamento realizado, que já somam mais de 75.000.

Somos gratos a Deus por tudo que Ele fez em nós e através de nós e por “essa celebração com gosto de celebração”, como descreveu Elsie Gilbert, da Rede Mãos Dadas.

Se você deseja rever ou ver a nossa celebração online, acesse aqui.


Separação é uma palavra que incomoda.

Separação é uma palavra que incomoda.

Separação é uma palavra que incomoda. Quase sempre quem a vivencia, caminha no início com um semblante de tristeza ou de desilusão por algo que ficou pra trás, principalmente quando o assunto é relacionamento. Isso acontece, porque ao contrário de outras palavras como amar e gostar, que simbolizam união e caminhar junto, separar significa dividir, significa andar em direções opostas.

A dor dessa divisão não é sentida somente por aqueles que a decidem, mas também por aqueles que estão diretamente ligados a ela. Semelhante a um efeito dominó, a separação faz com que outras desuniões aconteçam. Aos 13 anos de idade, a jovem portuguesa, Paola, da cidade de Portimão sentiu na pele as dores desse processo ao ver o relacionamento de seus pais se desintegrar.

Dias após o término, sua irmã um pouco mais velha colocou a culpa nela pela separação. Esse episódio a machucou profundamente e fez com que Paola começasse a ficar mais calada e olhando constantemente para o chão. Na sua cabeça, se a culpa tinha sido dela pelo fim do relacionamento entre seus pais, se tornar invisível seria a melhor opção.

O descaso de sua mãe também era notório. Em uma determinada noite, quase que de madrugada, Paola decidiu ir à cozinha para pegar algo pra comer. Naquele dia, a única coisa que ela tinha se alimentado era um pedaço de pão velho e água. No caminho para a cozinha, sua mãe chegou em casa. Um pouco embriagada e notoriamente arrumada como se tivesse ido a um baile, a primeira coisa que saiu de sua boca para a sua filha foi: Vai dormir sua infeliz, isso não é hora de criança estar acordada.

Assustada, Paola voltou correndo pra cama. Seu esforço de acordar devargazinho para não acordar sua irmã agora tinha sido em vão. Antes de dormir, sua irmã virou pra ela e a amaldiçoou, dizendo que ela nunca deveria ter nascido e que se fosse chorar, era pra colocar a mão na boca, porque ela queria dormir sem barulho.

Paola estava abandonada. As vezes que se tornava visível para o mundo, que era a sua própria casa, era recebida com desprezo e raiva por aqueles que teoricamente deveriam ser a sua maior fonte de amor e carinho. No entanto, isso estava para mudar.

Em fevereiro de 2019, com a chegada do Projeto Calçada em Portimão, a educadora recém capacitada a amparou. Por meio do Bolsa Verde e do aconselhamento, a educadora conseguiu estabelecer uma conexão com Paola, de 12 anos de idade.

Logo no início da conversa, Paola se comparou a um copo de vidro. Lembrando do episódio em que tinha acordado de madrugada, a última coisa que ela tinha visto antes da sua mãe gritar com ela foi um copo de vidro na bancada da cozinha. Paola contou à educadora que se via como um copo, porque é um objeto que ninguém presta atenção, que não tem nada único, além de ser extremamente frágil.

Durante a conversa, a educadora explicava a Paola sobre alguém que a amava infinitamente e que queria que ela sempre fosse visível, Jesus. Ouvindo aquelas palavras, a jovem portuguesa começava a mudar seu semblante com um sorriso tímido de quem estava feliz com o que ouvia. No fim do aconselhamento, Paola já se comparava a uma ovelha, a alguém que é cuidada. Ela não cansava de repetir que Jesus iria ser pra sempre o seu melhor amigo e que nunca iria abandoná-la.

Hoje, Paola mora com seu pai e sua madrasta, a quem chama de mãe. É uma criança sorridente, cheia de vida e ânimo, do jeito que alguém da sua idade deve viver. A Bolsa Verde mais uma vez se mostrou efetiva em abraçar aqueles que mais precisam, levando amor e união por meio da palavra de Deus.


Escrita por Gabriel Chácara

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

O menino de olhos atentos

O menino de olhos atentos

“Com apenas seis anos de idade, minha vida já tinha tido sofrido algumas mudanças. Recentemente, havia me mudado para um lugar que abriga crianças que tinham passado por situações familiares difíceis e precisavam ficar ali, assim como eu. Eu era pequeno, não parava quieto e observava tudo.

Um dia, pouco tempo depois de ir morar no abrigo, uma mulher veio me contar algumas histórias. Ela fez várias perguntas e eu quis responder todas elas, porque a moça me tratava de um jeito muito bom, com atenção e cuidado. Eu disse para ela que, depois de viver aquelas coisas difíceis, me sentia como um cachorro, porque meu filhotinho tinha morrido e eu havia ficado muito triste sabendo que ele estava sofrendo. Depois, ela me contou a história de um menino que parecia muito a minha história. Ele também tinha sofrido e se sentido mal, mas ele ouviu sobre um homem chamado Jesus que disse que o amava e o abençoou e, com isso, aquele menino passou a se sentir melhor.

No final da conversa, a mulher me deu um cartãozinho que tinha a figura de duas mãos protegendo uma criança, e eu, assim como aquele menino, me senti melhor e entendi que nas mãos de Deus eu não vou me perder.”

Os enormes olhos de Jonathan revelavam muitos sentimentos e observavam todos os detalhes das histórias, enquanto eu o atendia com a Bolsa Verde. Quando entreguei o cartão de bolso que ele escolheu, esses olhos ternos pareceram ter ficado menores por causa do grande sorriso que abriu.

Ele era um menino ativo e até fazia travessuras, mas também era muito dedicado nos estudos, o que lhe permitiu recuperar o aprendizado com a ajuda dos seus professores e da família que encontrou nos responsáveis ​​pela Casa Hogar del Niño de Acapulco, abrigo onde ele morava. O professor que lhe deu aulas de inglês nos primeiros anos do primário ficou surpreso quando observou que Jonathan, sem que ninguém sugerisse, sempre ia para um cantinho para ler sua Bíblia sozinho.

Nos anos que se seguiram, entre artes e travessuras, ele cresceu com seus olhos atentos, sempre observador, fazendo perguntas engraçadas e inteligentes, como se estivesse explorando tudo. Entre a escola e o futebol, não se sabia por qual era mais apaixonado. Todos os dias a quadra de futebol o puxava como um ímã, como se lá ele tivesse que marcar o cartão de ponto. Jonathan jogava futebol a tarde toda, chutando e chutando. Com suas luvas de goleiro, reunia cinco meninos e os ajudava a treinar os chutes, um a um, jogando a bola para ele agarrar.

No silêncio, Deus fez a fé desse seu pequeno filho crescer, com o apoio diário da Casa Hogar, a sua casa, cumprindo sua promessa de que "Assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.” (Isaías 55:11 NIV)

Há um ano, já um adolescente e com uma cara muito séria, me pediu para fazer o teste de Orientação Vocacional. Foi emocionante vê-lo terminando o ensino médio e já querendo confirmar o que ele mais gostava. Seu retorno nas idas ao mercadinho era ansiosamente esperado pelos meninos e meninas da Casa, porque sabiam que ele lhes traria um refrigerante e os doces que eles adoravam, sempre mostrando um coração generoso.

No início deste ano, ele decidiu ir morar com a avó, quem o havia levado para viver no abrigo, e quem sempre acompanhava o seu desenvolvimento. Alguns meses atrás, quando sua tia faleceu, ele disse à mãe que quando ele morresse gostaria de ter um velório cristão. Ele não imaginava que esse dia chegaria tão rápido. Pouco tempo depois ele foi se encontrar com Deus, tendo somente 15 anos, vítima de um acidente de trânsito. O velório foi como ele desejava, com leitura da Palavra e canções
inspiradoras.

Todos nós que o conhecemos o imaginamos feliz, jogando na quadra de futebol celestial. Seus enormes olhos atentos, certamente, agora revelam emoções diferentes daquelas que sentia quando o encontrei pela primeira vez, aos seis anos de idade. Consigo imaginá-los ficando pequenininhos com o sorriso em seu rosto, sendo observado de perto pelo Pai, que se alegra com seu amado filho Jonathan.

Sou imensamente agradecida aos criadores da Bolsa Verde por essa ferramenta extraordinária. O primeiro encontro de Jonathan com o Deus da Bíblia, em um dos momentos mais difíceis de sua infância, deu-lhe a garantia, em seu coração pequeno e receptivo, de que ele nunca se perderia nas mãos de Deus.


Escrita por Beatriz Bastos e a educadora Margarita Rosa González Juárez, México.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

A História de Riko

A História de Riko

Era pouco depois da meia-noite quando um forte barulho na parede do quarto 18 acordou a maioria dos companheiros de quarto de Riko. Após noites em claro e atormentado por pesadelos da sua infância, Riko não conteve sua raiva e deu um soco na parede. Um de seus colegas, assustado com a situação, decidiu chamar Dara, uma das supervisoras do orfanato Medan, que fica localizado na região da Sumatra, Indonésia.

A história de Riko é marcada por constantes lutas, dessas que parecem revoltantes e injustas de acontecerem com qualquer um, especialmente com crianças. Ainda pequeno, viu sua mãe sair pra trabalhar e nunca mais voltar. Alguns anos mais tarde, para piorar a situação, viu seu pai ser acometido por uma doença e falecer.

Esses episódios o marcaram profundamente. Pra lidar com a perda de sua mãe, mesmo ainda bem jovem, Riko roubava dinheiro da carteira do seu pai pra beber. Por conta disso, seu comportamento com as mulheres tinha passado a ser agressivo, as via com desprezo e muita raiva. Além desse sentimento de abandono, Riko se sentia culpado pela morte do seu pai. O dinheiro que ele roubou por tanto tempo fez falta na hora do tratamento de saúde do seu pai. Quando Dara chegou no quarto e viu Riko sentado no chão com a cabeça entre seus joelhos e chorando bem baixinho, seu coração ficou apertado. Aquele momento trouxe a memória de Dara a primeira vez que ela o conheceu, ainda bem novo, com seus 15 anos e sentado na porta do orfanato.

Dara pediu a todos que voltassem a domir enquanto se dirigia a Riko, agora, já com seus 23 anos. Riko se sentia envergonhado, ele era o mais velho do orfanato e chorar era o mesmo que se sentir fraco ou vulnerável. Naquela noite, Dara o ouviu e o consolou por alguns minutos e disse que conversariam melhor no outro dia.

Logo na manhã seguinte, ela o chamou pra dar uma volta pelo orfanato e contar pra ela em mais detalhes o que tinha acontecido em seu sonho. Algumas semanas antes do ocorrido, Dara tinha sido capacitada pelo Projeto Calçada e sentiu em seu coração que aquela era uma boa hora de colocar em prática o que tinha aprendido.

Ao longo da conversa, Riko disse que via em seu sonho uma mesa com várias coisas em cima. A mesa balançava, mas não quebrava. A essas alturas, sentados num banco recostados na parede do prédio, Riko começava a lembrar o que estava em cima da mesa e a chorar, a maioria de suas lembranças eram suas dores do passado que ele nunca tinha superado, principalmente a morte de seu pai.

Nesse momento, usando o aplicativo Bolsa Verde no tablet que carregava consigo, Dara contou a história de quando Jesus curou um paralítico. Ao final da história, Riko parecia outra pessoa. Estava alegre, leve e feliz que Jesus o amava e que o perdoava de todos os seus pecados.

Depois daquela conversa inspiradora, Riko caminhava de volta ao seu quarto. Ele queria um tempo pra refletir sobre tudo aquilo que tinha acabado de nascer em seu coração. Durante seu trajeto, começou a chover para a alegria de todas as crianças do orfanato. As crianças amavam a chuva, gostavam de se molhar e de se refrescar, era nítido como o simples fato da chuva podia mudar o humor de todos. A alegria e a risada delas tomou conta do coração de Riko. Durante sua reflexão, ele pediu a Deus pra ser como a água, alguém que traz refrigério pras pessoas, alguém que traz a transformação.

Hoje, Riko já não vive mais no orfanato. Entregou sua vida a Jesus e há pouco tempo ligou pra Dara pedindo oração pra começar um curso de teologia. Quando conta sua história de conversão, Riko costuma dizer que o seu choro no quarto e a chuva são a perfeita metáfora da transformação do evangelho. A água que saiu de suas lágrimas simboliza a manifestação da dor que já não cabe mais na alma, mas a água da chuva simboliza um novo começo, é a água que vem dos céus, um presente de Deus, a verdadeira alegria.


Escrita por Gabriel Chácara.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

“Eu achava que ninguém se importava comigo, mas estava enganada.”

“Eu achava que ninguém se importava comigo, mas estava enganada.”

Meu nome é Olívia e hoje quero te contar a minha história. Eu sou de Cabo Verde, na África. Cresci numa família muito desestruturada, meus pais se separaram logo após meu nascimento e, com isso, minha mãe assumiu sozinha a criação das filhas. Ela trabalhava muito e estava sempre ausente, eu cresci com uma carência materna e paterna muito grande. Apesar de estar sempre com minhas cinco irmãs, senti um vazio imenso e, mesmo criança, eu não queria viver. Nós passávamos muitas dificuldades financeiras e muitas vezes éramos desprezadas pelos vizinhos e colegas de escola.

Eu morava em uma comunidade que ficava em um morro, cheio de becos e vielas. Todos os dias eu via uma mulher descendo as ruas carregando uma bolsa verde com uma flor vermelha. Aquela bolsa me chamava muita atenção, mas eu não tinha coragem de ir falar com a mulher, mesmo quando ela me olhava e sorria para mim. Até que um dia resolvi ir até ela e perguntei, branca, o que tem nessa bolsa que você não larga pra nada. Ela me explicou, com muita atenção, que para saber eu deveria ir até um projeto que ficava ali perto.

Eu fui pontual. Na hora exata marcada, estava lá. Aquela moça, a missionária Carmen, me contou histórias lindas e parou para me ouvir de uma forma que ninguém nunca tinha ouvido. Eu abri meu coração para contar as minhas histórias tristes e para receber calma e transformação. Quando terminamos nossa conversa, eu estava muito diferente, me sentia melhor em relação a mim mesma e aos outros, conheci Jesus. A missionária me disse que eu poderia voltar sempre que sentisse algo ruim ou precisasse conversar. Eu passei a ir naquele lugar todos os dias. Cada vez contava sobre uma dor diferente e ouvia mais sobre Deus. Foi nesses encontros que eu entendi o amor Dele por mim, foi um processo de cura, me livrando de todo sentimento de abandono, complexo de inferioridade e falta de confiança. Desde o primeiro dia, quando ouvi as histórias com aquelas figuras bonitas, passei a confiar em Deus e nas suas promessas.

Depois de bastante tempo nessa caminhada, agora já adulta, estava mais uma vez naquele projeto perto da minha casa, onde, quando criança, fui durante tantos dias para falar sobre as minhas dores. A Carmem já tinha ido embora há alguns anos, mas uma outra missionária brasileira veio para ajudar e contar histórias para as crianças. Ela começou a contar uma história usando algumas figuras e eu comecei a chorar na hora.

Eu já tinha visto aquelas figuras antes! Eu as vi quando era uma criança com problemas de inferioridade, abandono e confiança. Foi com elas que conheci Jesus. Mas agora, anos depois, via aquelas mesmas figuras em uma posição totalmente diferente: me tornei professora das crianças do projeto e, da porta da sala, podia vê-las sendo impactadas como eu havia sido. Agora via de fora algo que, há anos atrás, aconteceu dentro de mim, tudo através daquela mesma Bolsa Verde.

Cristo entrou em minha vida e transformou minha alma triste em uma alma alegre; uma menina que não tinha gosto pela vida, em uma mulher que ama viver e usa sua vida para abençoar outros. Hoje eu sou a única da minha família que terminou a universidade e que está firme no Senhor. Sou professora e missionária, lidero o grupo de jovens da minha igreja, tenho vários trabalhos de evangelismo e de discipulado, terminei recentemente um curso de missões urbanas para continuar servindo melhor a Deus no meu país. O meu passado ficou para trás, hoje sei que o que realmente importa é como vamos terminar, não como começamos, porque o mais importante na nossa vida é terminar vivendo com Ele e para Ele.

Quando criança, eu achei que ninguém se importava comigo, mas estava enganada. Um dia, escutando histórias que saíam como mágica de dentro de uma Bolsa Verde, eu fiz uma escolha que me deu um futuro que eu pensava ser impossível. Eu escolhi a Deus, eu escolhi ser feliz!


Escritar por Beatriz Bastos.