E quando os adultos duvidam?

E quando os adultos duvidam?

É muito comum as pessoas se surpreenderem com a metodologia do Projeto Calçada; alguns até duvidam de que os resultados possam ser mesmo tão imediatos. Esse ano tivemos esse questionamento entre os participantes de uma capacitação presencial que aconteceu no Rio Grande do Norte, a primeira depois de uma pausa na pandemia.

Durante o momento teórico, dois educadores em capacitação achavam que não era necessário seguir tão à risca cada passo da metodologia. Mas a ênfase dada durante o processo de aprendizagem do grupo foi a de que essa metodologia foi muito bem estudada, foi testada, e nesses 22 anos de Projeto Calçada ficou comprovada a eficácia do resultado que ela tem trazido na vida dos aconselhados. 

Houve um momento muito especial na capacitação, que foi o aconselhamento da primeira criança, enquanto o educador era supervisionado no uso da Bolsa Verde. 

Conhecendo a realidade do local, os participantes achavam que esse adolescente, que seria o primeiro a ser aconselhado, nada ia falar, nada ia comentar, por ser um menino muito calado.

Já contrariando a expectativa, o adolescente César*, de 13 anos, ficou muito feliz ao ser recebido para o aconselhamento. Seguindo as etapas da metodologia, chegou o momento em que o educador lhe pediu para que pensasse em uma imagem com a qual ele podia se comparar, diante do que sentia quanto ao abandono do pai. César falou que se comparava a ‘uma árvore’.  Então ele fez o desenho e explicou:

“Eu me sinto uma árvore oca, seca e solitária, porque todo mundo passa e bate em mim e eu fico preso. Não posso sair, não posso falar nada, eu só apanho e só apanho”.

Isso impactou todo o grupo. O educador contou as histórias de Jesus para César. As histórias revelavam o amor de Jesus, e já neste momento foi visível a transformação do menino. Ele ficou tão atento às histórias da Bíblia e ao que o educador falava sobre Jesus e o seu amor pelas crianças. 

Ao final desse aconselhamento com a Bolsa Verde, o educador lhe perguntou como ele se sentia depois de ouvir que Jesus é seu amigo e que o ama, e se poderia pensar em uma imagem com que pudesse se comparar para explicar como se via agora. O grupo em capacitação ficou na expectativa para saber que imagem César escolheria para se descrever. Foi aí que ele desenhou uma árvore igual à anterior. Entretanto, César foi desenhando frutas, colocou o sol, decorou aquele desenho com pássaros e disse:

“Agora eu me sinto assim, uma árvore frondosa, iluminada pelos raios do sol e alimentada pela chuva, cheia de frutos e feliz”.

Esse foi um momento de visível transformação, tanto porque César foi ouvido, quanto porque ele já não se sentia mais aquele adolescente imobilizado, sem poder se defender. Era notório que ele percebia que tinha vida, pois suas expressões físicas transmitiam a alegria que ele esboçava ao final.

O aconselhamento do César foi tão impactante, que o próprio grupo e as pessoas que estavam de certa forma questionando a eficiência da metodologia, ficaram emudecidas vendo como aconteceu uma transformação de uma forma tão rápida, quase imediata. É assim, quando  a  gente insere  a  Palavra de Deus  para  ajudar a criança a ressignificar sua própria história, é emocionante e transformador. Os membros da equipe dessa organização, que atende crianças sertanejas e quilombolas, foram fortalecidos na fé quanto à ação poderosa do Espírito Santo e das histórias da Bíblia. Também estão mais sensíveis que quando damos um tempo de qualidade individual à criança ela pode abrir seu coração e ser curada. 

Colaboração de uma Multiplicadora do Projeto Calçada

*Nome fictício para proteger a identidade da criança.

“Jesus não tolera quem negligencia as crianças”

“Jesus não tolera quem negligencia as crianças”

Celebração online da elaboração da escrita da Política de Proteção de Crianças e Adolescentes.

Mais do que uma reunião online, mais do que a entrega de certificados. A celebração online, que aconteceu no dia 31 de outubro, reuniu testemunhos de como Deus está agindo em igrejas e organizações através da escrita da PPCA – Política de Proteção de Crianças e Adolescentes. Fruto de uma iniciativa do Projeto Calçada em parceria com a Missão Aliança, cinco organizações (MEAP – Missão Evangélica de Assistência aos Pescadores, Primeira Igreja Batista de Itabaianinha (BA), Assembleia de Deus – Ministério Kairos (RJ), Associação Vitória (CE), IBAJI – Igreja Batista no Jardim das Indústrias (SP) concluíram o documento que passa a reger as diretrizes do cuidado, da proteção e dos direitos de crianças e adolescentes.

Iniciado a partir da sensibilização com a realização da Oficina Um Lugar Seguro, ministrado pela equipe do Projeto Calçada, as organizações seguiram avaliando suas práticas e foram orientados por Janaína Camilo, especialista em proteção infantil, que os orientou para a escrita da PPCA, que durou um período de 2 a 7 meses, de acordo com as particularidades de cada organização.

O momento da celebração e entrega de certificados de conclusão, foi conduzido pela coordenadora do Brasil do Projeto Calçada, Luciana Falcão e contou com corações cheios de gratidão por mais um passo em direção ao Reino de Deus para com as crianças. Um Reino o qual profetiza que “as ruas serão cheias de crianças brincando.” – como relembrou Cleisse Andrade.

“Pode parecer impossível pra gente ver a restauração das nossas cidades. Ver que as crianças têm espaços seguros, felizes onde estejam protegidas. Mas a promessa de Zacarias 4.8 é a mesma. Deus é o mesmo e a promessa é para nós também. Então, que a gente mantenha a nossa fé, a nossa esperança nessa visão de uma Jerusalém, de um mundo onde as crianças possam crescer felizes se divertindo.”

Um Reino onde Deus se alegra com aqueles que olham com prioridade para as crianças e não para os processos. Como a equipe da MEAP, que optou por escrever uma PPCA que abrangerá todas as bases da missão espalhadas pelo Brasil. Mesmo com toda pluralidade no país, com o contexto de cada projeto, a política é um documento que prioriza a proteção. E isto é uma linguagem universal. Segundo Jandira Almeida, diretora de comunicação da MEAP, “a política nos colocou no mesmo ambiente (como equipe), a política nos colocou no mesmo foco (a proteção da criança e não a quantidade de crianças por projeto) e a política nos colocou em um lugar seguro também (tanto para crianças, quanto para equipe, que agora possuem um norte.” 

Wandelery de Jesus Santos, integrante da comissão de escrita da PPCA da PIB de Itabaianinha, relatou que a igreja não só escreveu, mas aprovou em assembleia e registrou o documento em cartório. Além disso, já iniciaram a implementação da PPCA, realizando a troca das portas da igreja, visando a inserção de vidro para que as crianças e adultos possam sempre ser observados e protegidos, ajudando a evitar assim, qualquer tipo de abuso.

“A gente recebeu com muito bons olhos e nos envolvemos na medida do possível para fazer o melhor. Afinal de contas, esta política vem para proteger as nossas crianças, para dar respaldo às famílias que trazem suas crianças. Enfim, a gente fica muito feliz pela ajuda e a contribuição de vocês (Projeto Calçada e Janaína). Todo esse processo foi muito edificante para gente e a gente se sente muito orgulhoso de hoje ter a nossa a nossa política escrita e aprovada.”

Como Diretor Nacional da Missão Aliança, Bebeto Araújo acalentou os corações com a certeza das bênçãos do Senhor sobre a vida daqueles que colocam as crianças no centro, como Jesus fez em Mateus 18. 

“Este texto é conhecido, especialmente para as pessoas, organizações e igrejas que valorizam as crianças, assim como Jesus valorizava. Este é um texto muito chave quando a gente pára para refletir um pouquinho sobre o lugar que a criança tem no coração de Jesus ou na agenda de Jesus. Eu tô cada dia mais convencido que aquilo que a gente faz com as nossas crianças e aquilo que a gente faz por nossas crianças demonstra exatamente o que é que a gente pensa sobre o mundo, sobre Deus e sobre nós mesmos. A gente é chamado para amar aquilo que Jesus ama, mas também para não tolerar o que Jesus não tolera. Jesus não tolera que a criança seja negligenciada, Ele não tolera.”

Assita na íntegra a meditação de Bebeto Araújo, aqui.

Agradecidos a Deus, Clenir elevou ao Senhor uma oração de agradecimento pela vida dos envolvidos na árdua tarefa de escrever, implementar e monitorar a PPCA. O Projeto Calçada reforça o agradecimento à Janaína Camilo que não pôde estar presente na celebração online por questões de conexão, a Missão Aliança pela parceria e a cada organização que se dedicou para este desafio de elaboração da PPCA.

Organizações que elaboraram a PPCA

Assembleia de Deus – Ministério Kairos – RJ – 7 meses

Associação Vitória – CE – 3 meses

Igreja Batista no Jardim das Indústrias – IBAJI – SP – 7 meses

MEAP – Missão Evangélica de Assistência aos Pescadores – 2 meses

Primeira Igreja Batista de Itabaianinha – BA – 2 meses

Amar é combater o trabalho infantil

Amar é combater o trabalho infantil

“Depois disso, algumas pessoas levaram as suas crianças para Jesus pôr as mãos sobre elas e orar, mas os discípulos repreenderam as pessoas que fizeram isso. Aí ele disse: — Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino do Céu é das pessoas que são como estas crianças. Então Jesus pôs as mãos sobre elas e foi embora. ” Mateus 19:13-15 NTLH

Certa vez eu tive a oportunidade de ver um vídeo desses que aparecem sugeridos em nossas redes sociais. O vídeo, realizado por uma emissora de TV brasileira, mostrava um experimento social chamado “Esqueceram de Mim”. Nele duas crianças uma negra e uma branca foram “esquecidas” sozinhas em uma calçada bastante movimentada que aparentava ser de um grande centro urbano, simulando estarem perdidas. O experimento buscava medir o grau de atenção/cuidado que cada uma das crianças receberia.

Em momentos diferentes cada uma das meninas foi deixada sozinha paradas em determinado lugar, monitoradas apenas por rádio e câmeras da equipe. A criança negra ficou quase uma hora sem ser notada pelas pessoas que passavam. A criança branca ficou menos de um minuto sozinha no local marcado. Muitas pessoas passavam e perplexas questionando como essa criança poderia estar ali sozinha! E rapidamente abordaram a criança branca e prestaram assistência. Exatamente no mesmo lugar que a criança negra ficou.

Talvez você tenha ficado extremamente triste com esse relato e se pergunte: como a nossa sociedade chegou a essa situação? Infelizmente situações como a que foi demostrada no experimento acontecem cotidianamente, a sociedade brasileira naturaliza a subalternização das crianças e os adolescentes negros todos os dias. É possível perceber certa “tranquilidade” de grande parte das pessoas diante dos quadros de exploração infantil nos grandes centros urbanos. E é triste constatar que a maioria dessas crianças são negras.

É exploração Infantil

Quantas balas ou doces você já comprou de uma criança ou adolescente negro nas noites ou madrugadas em sinais de trânsito? Em alguma dessas vezes você se perguntou o que aquela criança ou adolescente estaria fazendo ali, vulnerabilizada, correndo riscos? Muitos acionarão a resposta covarde e hipócrita: – É melhor estar vendendo bala do que roubando! Ignorando completamente que o fato de uma criança ou adolescente estar “trabalhando”em tais condições é exploração infantil. A maioria dessas crianças e adolescentes são negros e passam desapercebidos de nossa atenção e cuidado. Essa situação acontece de forma cotidiana em nosso país, a maioria de nossas crianças negras são invisibilizadas, alijadas de seus direitos e de condições de vida dignas.

Jesus e as crianças

Jesus é enfático em Mateus, capítulo 18, versículo 5 quando diz que ao recebermos uma criança nós estaríamos recebendo a Ele. Diante dessa fala poderosa de Jesus nos resta pedir perdão a Deus pelas crianças negras e adolescentes negros que rejeitamos, “apagamos” todos os dias.

Que atitudes devemos ter para mudar esse quadro? O primeiro passo é a conversão, é necessário mudar o olhar, libertar-se do pecado do racismo e da negligência na luta contra a exploração infantil. É urgente tomar posição e organizar atividades e eventos nos espaços em que você atua para falar sobre esse pecado que tem danificado a vida de milhares de crianças e adolescentes no Brasil e no mundo. Outro passo é buscar organizações que atuam no campo da proteção e defesa de direitos das crianças e adolescentes e na construção de relações sociais antirracistas e oferecer seu trabalho voluntário.

O desafio dos cristãos diante da defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Acredito radicalmente no papel das igrejas, movimentos e organizações cristãs na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes entendo que é necessário engajar-se, falar e agir. Não é possível que tantas violações de direitos das crianças e adolescentes aconteçam em um país majoritariamente cristão!

É imprescindível que as igrejas amadureçam teologicamente para esse desafio. Não podemos ignorar que o a Bíblia diz sobre as crianças e o papel delas no Reino de Deus. Não dá para esperar mais, ou a Igreja toma posição pela defesa da vida das crianças e adolescentes ou estará rejeitando Jesus de Nazaré. Cada igreja é uma embaixada do Reino de Deus na terra e precisa estar conectada com esse desafio, sem medo e sem recuos de base moralista, se negando diante daquilo que também é sua responsabilidade, é urgente assumir a causa.

O que é possível fazer?

Orar, participar e trabalhar. Nós cristãos temos muitas dimensões em que podemos nos envolver na promoção do bem viver e dos direitos das crianças e dos adolescentes. “Abrir os olhos” considerar a realidade das crianças e dos adolescentes negros, que são maioria nesse país, não tolerar mais que uns tenham direitos e outros não. Jesus é enfático em dizer que bem-aventurados são os que têm fome de justiça. Jesus também vem nos dizer que das crianças, e porque não dos adolescentes também, é o Reino dos céus. Jesus não diz que o reino pertence à determinadas crianças e adolescentes e às outras não, Ele diz que o reino é delas, ou seja, de todas as crianças e por que não dizer de todos os adolescentes.

Eu e você podemos atuar em muitas frentes e de muitas maneiras para mudar esse quadro tão injusto, podemos ser cooperadores dessa causa.

Ras André Guimarães
pastor metodista

Adoção: Vencendo os desafios emocionais da fase de aceitação

Adoção: Vencendo os desafios emocionais da fase de aceitação

O Dia Nacional da Adoção é celebrado no Brasil em 25 de maio como uma forma de conscientização sobre a importância dessa ação. A adoção é um ato de escolha e amor, em que tanto adotantes quanto adotado(s) passam por grandes desafios, mas também pode ser imensamente gratificante para ambas as partes.

A perda da família de origem

Geralmente, as crianças e adolescentes que estão inseridos no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) estão abrigados em uma instituição por seus direitos terem sido violados ou por questões de orfandade, em que não há mais pessoas da família que possam assumir a responsabilidade por eles, sendo necessário o cumprimento de ações judiciais que visam promover a proteção dos mesmos. Esse procedimento envolve a ruptura não somente da presença, mas também do vínculo familiar e comunitário, o que para estes é confuso de compreender, sendo um fator gerador de sofrimento que implica em um turbilhão de emoções.

A subjetividade infanto-juvenil não está pronta para tamanho luto e trauma, ainda que seja compreendido pelo mundo adulto que aquela decisão é a melhor para sua segurança. A equipe técnica da instituição de acolhimento formada por profissionais tais como: psicólogo, assistente social, pedagogo e educadores, deverá trabalhar as questões individuais de cada criança e adolescente, bem como sobre a proposta de estarem inseridos em um novo contexto familiar através da adoção.

Aceitação de uma nova história…

Podemos dizer que o processo de aceitação na adoção inicia-se antes mesmo do estágio de aproximação e convivência, quando os adotantes tomaram essa decisão e quando a criança e/ou adolescente entendeu a possibilidade de ter uma nova família.

De acordo com Kübler-Ross, autora do livro Sobre a Morte e o Morrer, o luto tem 5 fases: negação, raiva, barganha ou negociação, depressão e por último, aceitação. Essas fases podem ser vividas de forma diferente de acordo com cada indivíduo e não necessariamente nessa ordem. O tempo de vivência dentro de cada estágio também é muito particular. É na aceitação que a criança ou adolescente tem mais tranquilidade e abertura para expressar sobre suas perdas, frustações, medos, e receber melhor a inserção familiar.

A aceitação pode ser demorada para alguns. Envolve aceitar a sua história de vida, o novo modelo parental, a nova realidade social, novas regras, novos ritmos, novo sobrenome, nova identidade. No entanto, do ponto de vista emocional, essas informações também vão formando no indivíduo o senso de pertencimento, o que lhe atribui valor pessoal e consequentemente, retribuição de afeto, podendo levar-lhe a também adotar àquela família como sua, o que é uma resposta positiva e aspecto aguardado e gratificante para os adotantes.

Vinculação, apego e integração

Para que aconteça a formação do vínculo familiar é necessário tempo, confiança e consistência, o que requer paciência, dedicação e amor dos pais para essa construção que não pode ser baseada na própria carência afetiva. Portanto, não é fácil e para que seja mais leve, é indicado a construção de uma rede de apoio formada por profissionais, amigos e a participação em grupos pós adoção.

Sabemos de antemão, que todos nós fomos um dia fomos adotados, o que nos trouxe a possibilidade de sermos chamados filhos e herdeiros de Deus (1Joao 3:1) e este mesmo é o que gera o amor e recursos internos que precisamos.

Depois da superação dos desafios emocionais da aceitação, vem a integração e comprometimento. Já em uma fase mais acomodada e confortável, pais e filhos, vinculados, continuam amando-se mutuamente, apesar de não ser tudo perfeito como em qualquer família. Contudo, na certeza de que vale a pena o esforço e a escolha por adotar, porque é sobre acolher e ser acolhido, amar e ser amado.

Fabiane Nunes Ferreira Queiroz da Silva
Psicóloga com pós-graduação em psicologia clínica; membro de JOCUM – Jovens
Com Uma Missão; multiplicadora do Projeto Calçada – Associação Lifewords Brasil.

Mulheres: Uma Grande Força No Cuidado Emocional Infantil

Mulheres: Uma Grande Força No Cuidado Emocional Infantil

Atualmente, e cada vez mais, estudos científicos na área da saúde mental evidenciam a
importância do cuidado emocional da criança, e repercussões da relação pai-mãe-bebê à
saúde mental infantil e, a longo prazo à de adolescentes e adultos. Dessa forma, diante de tão
vasto assunto, aqui nos propomos introduzir reflexões posteriores sobre tão abrangente
temática.

Nessa reflexão, introduzimos observações sobre aspectos relacionados ao processo de
crescimento e desenvolvimento integral da criança e a relevância do papel das mulheres nesse
processo, mais especificamente, no Cuidado à Saúde Emocional.
Reforço que esse cuidado perpassa, e conecta olhares e saberes integrados à saúde mental
infantil e juvenil. Que indescritível desafio e privilégio! Esse também pode e deve ser
compartilhado com a participação do homem – pai. Pai presente e participativo no cuidado
emocional do filho/a. Bem, mas aqui o nosso foco é: a força da mulher nessa função: Cuidado
Emocional Infantil.

Mulheres no cuidado e proteção

Oportuno enfatizar que me refiro a um CUIDADO QUE PROTEJE, PROMOVE SAÚDE
EMOCIONAL E PREVINE ADOECIMENTOS NA SAÚDE MENTAL. Um cuidado consciente; baseado
em experiências positivas e consistentes; integrado em fatores protetores e promotores ao
crescimento e desenvolvimento total da criança e adolescente; e que corresponde as
demandas de caracteres pessoais e individuais em contextos ambientais do seu cotidiano –
fatores epigenéticos à Saúde Biopsicossocial infantil. DESAFIADOR? Sim, DESAFIADOR!
Contudo, reiteramos a afirmativa do tema – Mulheres: Uma Grande Força No Cuidado
Emocional Infantil!

Ser Mulher ..

Para tanto, o que resumidamente podemos destacar na pessoa da mulher, e com potencial
resposta positiva à tão enfática afirmação?

Ser Mulher – relevância ímpar da criação; ser com diversidade de potencialidades em sua
própria história; potencial participativo e influente no protagonismo pessoal, familiar,
comunitário, social e espiritual. Dessa forma, com potencialidades a serem desabrochadas nas
diversas fases da vida, papéis e desafios de seu ciclo vital – nasce uma mulher! Capacidades
imensuráveis de: virtudes, competências, habilidades, talentos, criatividade, empatia,
determinismo, persistência, resiliência, superação, … compõem uma mulher! Atributos que
urgem serem instrumentalizados em ferramentas uteis, habilidades imprescindíveis no
cuidado à saúde emocional infantil e juvenil.

Um admirável, abrangente cenário de cuidado emocional: a maternidade! Materno e eterno,
marcas que podem transcender o mundo natural (secular), e impactar o sobrenatural
(espiritual), no sentido da referência materna no cuidado à saúde integral e educação à vida
dos filhos. Que imensurável privilégio e tamanha responsabilidade! Assim, requer de nós,
mulheres; muita atenção, dedicação, compromisso, alerta!
E o que pensamos e enfatizamos, sobre a força desse cuidado emocional feminino em
contextos mais ampliados: social, comunitário, espiritual, profissional; indo além do ambiente
familiar, no atual cenário? Aqui refiro ao cenário extremamente desafiador, sobretudo quando
ainda enfrentamos demandas decorrentes da Pandemia Covid-19, impactos impossíveis de mensurar em suas múltiplas dimensões e expressões a curto, médio e longo prazo. Demandas que requerem ações conjuntas, articuladas e interligadas com estratégias de enfrentamento mobilizando todos os setores sociais atuantes no cuidado à saúde mental do público infanto-juvenil e suas famílias. Eu, você, todos convocados/as a entrar, mobilizar, movimentar uma grande rede de atenção e atuação.

Pela abrangência e possíveis desdobramentos do tema, conforme acima referido,
pretendemos continuar nossas observações em reflexões posteriores. Nesse sentido, aqui
focamos atributos do Ser MULHER relacionados à função cuidado emocional. Lembrando
sempre: para o ser integral – a pessoa, sempre se faz necessário um cuidado individualizado –
pessoal e integrado de suas partes (físico, mental, social, espiritual).

Ressalto que: pesquisas têm evidenciado a importância da relação pai-mãe-bebê; que na vida
intrauterina inicia o desenvolvimento de estruturas cerebrais relacionadas a saúde mental; e
que as experiências positivas, de vínculos relacionais seguros até os três anos de idade são
muito mais importantes do que imaginamos à saúde mental da futura criança. E essa pessoa –
criança, é o futuro adolescente, e a longo prazo, um adulto com suas memórias emocionais,
inseridas e compondo sua história de saúde ou adoecimento mental.

Como ser exemplo de mulher

Nesse sentido, vejamos um cuidado que acompanha fases de desenvolvimento de uma
pessoa, um sumário relato, mas percebo como exemplo de mulheres promotoras do
desenvolvimento integral do educando infanto-juvenil: Lóide e Eunice – avó e mãe de
Timóteo. E o que aqui podemos destacar?

Semelhante ao panorama da sociedade atual: são mulheres que marcam, influenciam
positivamente suas vidas, famílias, a vida de seus filhos, netos, comunidade e sociedade,
mulheres que se destacam por seu exemplo de fé, vida digna, cidadania, honradez, caráter,
vida social referenciada. E sobre o poder, a força dessas mulheres (Lóide – avó e Eunice –
mãe)? Elas foram referências nas credenciais de Timóteo para Paulo. Uau! Ilustres,
Extraordinárias Mulheres! Conforme citações em: 2º Timóteo 1.1-7, 1º Timóteo 1.18-19; Atos
16.1-3. 1º Co.4.17

E nós; mães biológicas, mães sociais, educadoras, pessoas direta ou indiretamente
participantes da rotina, do cuidado cotidiano, influentes no processo educativo de uma
criança, adolescente; que história de referência estamos construindo com nossos educandos?
Quais as marcas estão sendo registradas em suas memórias afetivas, sociais e espirituais?
E aprofundando nossa visão e análises, como estamos ajudando construir a árvore genealógica
da saúde integral da nossa família?

É essa árvore que irá alicerçar raízes, estruturar, ramificar, frutificar a genealogia social,
emocional e também espiritual na vida de filhos, netos e famílias sucessoras. Somos seres
tridimensionais, necessitamos crescer de forma integralmente saudável. E isto, requer um
desenvolver salutar das partes do indivíduo – corpo – alma – espiritual e social.
Árvore frondosa é o que normalmente desejamos, sonhamos, queremos em nossas vidas e
famílias. E o que, e como estamos plantando? Quais sementes estão sendo semeadas? Como
adubamos, regamos, cuidamos da plantinha chamada vida do educando, filho, neto, família?
Esse é tempo de despertar, mobilizar nossa maior atenção em ações preventivas e corretivas
junto as nossas crianças!

E ainda, ampliando nossos olhares ao cuidado integral para com os escolares: Nunca como
antes, na história dos PROCESSOS DE EDUCAÇÃO, precisamos estar cientes em nosso papel
como educadores, instrutores prioritários, tutores na educação básica dos filhos. Escola –
ensino, Família – alicerça e, solidifica a educação! A família e a escola devem ser
complementares, interatuantes, organismos parceiros, e não excludentes nos processos
contínuos de desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais, ensino e aprendizagens.
Oportuno evidenciar: ao cuidado emocional à faixa etária infantil e juvenil, importa também
continuar a atenção aos aspectos relacionados ao desenvolvimento da espiritualidade.
Imprescindível que haja estratégias coerentes, assertivas e efetivas e, uma caminhada de mãos
dadas (família-igreja, família-escola). É vital, e prudente evitarmos, separar essas mãos
(família-igreja, família-escola). Por vezes, em cenários, onde estes organismos vitais ao
crescimento e desenvolvimento integral do indivíduo atuam em partes isoladas; o educando
(filho, aluno) sente-se solto, confuso, perdido, voando, tal qual uma folha solta. Contexto este
muitíssimo perigoso, onde todos podem sair perdendo, em especial, a criança e adolescente.
Especificamente nesse cuidado, é preciso muita atenção à nossa responsabilidade e
convocação à missão integral com os nossos filhos/as, educandos/as!

O privilégio da mulher ser mãe

Que privilégio, e responsabilidade, Deus confia a cada uma de nós. Assim, quando pensamos,
planejamos e gestamos um/a filho/a, temos o compromisso de buscar em Deus – o autor da
vida, a sabedoria, investir na busca de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades e
competências adequadas as necessidades especificas de cada faixa etária e demandas pessoais
e individuais, de forma que: possamos desempenhar com maestria a mais desafiadora,
brilhante e preciosa função feminina – o exercício da maternidade!
E na prática, como desenvolver e quais ações podem promover esse cuidado integral?
Continuaremos com esses desdobramentos em novas reflexões. Assim, até breve, desejando
que cada criança, cada adolescente, em seu ambiente familiar, aonde estiver, ou por onde
passar; desfrutem do CUIDADO que PROTEJE, PREVINE, PROMOVE SAÚDE INTEGRAL!

Joseana de Oliveira Menezes Galvão
Médica com Pós-graduação em Sexualidade Humana, Terapia Familiar, Problemas
Relacionados ao Uso Abusivo de Álcool e Outra Drogas Brasil.
Consultora do Programa Claves Brasil – Programa de Prevenção aos Maus tratos e Promoção
de Bons Tratos em Família – www.clavesbrasil.org
Membro do Conselho da Associação Lifewords Brasil – Projeto Calçada –
www.projetocalcada.org.br

Alienação parental diante da lei

Alienação parental diante da lei

A Lei nº 12.318/2010, em seu art. 2º estabelece o seguinte conceito: “Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a autoridade, guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”, a partir desta análise há que ser entendida a alienação parental como um distúrbio psíquico grave que afeta o pai ou a mãe, vez que não aceitando o fim de um relacionamento (casamento ou união estável), é incapaz de dialogar de forma amadurecida, e utiliza os filhos como veículos de suas frustrações.
A psicanalista niteroiense Lenita Pacheco Lemos nos ensina que “…a prática da “alienação parental” pode ter origem em diversas causas, resultantes de distúrbios psíquicos, emocionais, relacionais, afetivos, entre outros, mas que não configuram uma doença propriamente dita, uma entidade nosológica que apresente características patológicas específicas.”

Vamos deixar claro que, a alienação parental não se verifica, tão somente, com a separação/divórcio dos genitores, podendo ocorrer, e também é muito comum, durante a constância do casamento/união estável, quando um dos genitores, seja por atitudes ou palavras, denigre, desqualifica, desautoriza o outro diante dos filhos, a ponto destes criarem uma falsa imagem do pai/mãe, como incapaz, inferior, desqualificado, alienado. São atitudes que se avolumam e acabam desaguando na separação/divórcio, e só aí tais atos se tornam do conhecimento geral, mas a
síndrome da alienação parental já está instalada.

Diversas condutas são tipificadas na lei de alienação parental, de forma
exemplificativa, conforme dispõe os incisos I a VII do parágrafo único do art. 2º, a
saber:

art. 2º….. Parágrafo único……
I – realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade;
II – dificultar o exercício da autoridade parental;
III – dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,
para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou
com avós.

Sem dúvida que, no exame de um caso concreto outras condutas podem ser entendidas como alienação parental, identificadas pelo magistrado com base em perícias interdisciplinares.
Com a Lei nº 13.058/2014, que regula o instituto da Guarda Compartilhada, passou a ser a regra, de forma que os pais, finda a conjugalidade, compartilhem de forma equânime, a convivência e todas as responsabilidades afetas à vida dos filhos menores, em igualdade de direitos e obrigações. Contudo, existem pais/mãe resistentes à sua aplicabilidade, se valendo de atitudes escusas, a fim de manipularem emocionalmente os filhos afastando-os do outro genitor não guardião, e de seus familiares, e, muitas das vezes, imputando condutas criminosas, como
agressões físicas/sexuais, com a finalidade de destruir, definitivamente, os vínculos parentais.

A incapacidade dos genitores de dialogarem a respeitos dos interesses dos filhos menores, dificulta o estabelecimento da guarda compartilhada, e abre as portas para a alienação parental, o que acarreta graves prejuízos psíquicos aos filhos.
É importante entendermos que a Síndrome de Alienação Parental (SAP) se instaura a partir do momento em que o menor passa a reproduzir as falas do alienador(a), atribuindo ao outro genitor (ou familiar deste) as supostas agressões físicas/sexuais.

O psiquiatra e pesquisador Richard A. Gardner foi o primeiro que conceituou a SAP e o fez da seguinte forma:

“A síndrome de alienação parental (SAP) é uma disfunção que surge primeiro no contexto das disputas de guarda. Sua primeira manifestação é a campanha que se faz para denegrir um dos pais, uma campanha sem nenhuma justificativa. É resultante da combinação de doutrinações programadas de um dos pais (lavagem cerebral) e as próprias contribuições da criança para a vilificação do pai alvo.”

Os malefícios da SAP afetam os menores em formação, trazendo sequelas desde a infância até a vida adulta, daí a necessidade de se reconhecer a prática da alienação parental, e estabelecer tratamento psicológico e psiquiátrico, para os infantes e também para os pais.

Como já dito a alienação parental impede uma convivência social e afetiva salutar da criança com o pai/a mãe e demais familiares, sendo equiparada pela lei ao abuso moral, desenvolvendo sentimentos negativos que lhes são passados pelo alienador(a), e o reflexo disto passa a ser observado desde a tenra idade pelo comportamento em casa e na escola, no convívio com os amigos, que vai da inibição demasiada, desatenção nas aulas, revolta, agressão, até a vida adulta, repetindo os mesmos erros do genitor alienador, se refugiando nas drogas,
cometendo ilícitos sociais, morais e criminais.

Em algumas vezes ao chegar na fase adulta, normalmente com o auxílio de terapeutas, psicólogos, passa a enxergar a verdadeira pessoa do pai/mãe alienado, e um sentimento misto de frustração e revolta tomam conta da pessoa, e às vezes ainda dá tempo de se reconciliar, mas em outras não mais.

A alienação parental dever ser analisada com muita cautela, pois estamos aqui falando do alienador, de quanto mal pode ser causado à criança, mas também ao alienado, porém, quando estivermos diante de caso que envolva agressão física/sexual é imprescindível a atuação de equipe interdisciplinar – assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, para apuração da realidade, pois as consequências são catastróficas para o menor, mas também para aquele a quem forem, falsamente, imputadas tais condutas. A sociedade não perdoa, ela julga e condena sem que os
fatos sejam devidamente apurados. O sensacionalismo fala mais alto e o prejuízo é irreversível.

O magistrado ao aplicar as sansões determinadas na lei penalizando o abuso de poder do guardião alienador, deve fazê-lo com critério, considerando que o caráter é mais pedagógico do que punitivo, mas é fundamental assegurar a convivência parental e restabelecer os laços afetivos da criança com o outro genitor e/ou seus familiares. O direito de convivência é da criança e também dos pais, e é garantia constitucional.

Existem Projetos de Leis do Senado para regular, normatizar e criminalizar e dar novos caminhos à alienação parental, tema complexo e polêmico, exigindo mais estudos e debates.

Bárbara Alcântara Augusto Pereira, advogada, professora universitária Ucam,
membro do IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família
Instagram: @ucam.oficial

Alienação parental: os perigos emocionais para crianças e adolescentes

Alienação parental: os perigos emocionais para crianças e adolescentes

Para entender melhor os perigos emocionais da alienação parental é necessário compreendermos como se dá o desenvolvimento humano. Vygotsky (1930/1996) ressalta que através da aprendizagem e das interações dos agentes mediadores de cultura, (pais, professores, etc.) o sujeito que está em processo de aprendizagem se desenvolve pessoalmente.

Desenvolvimento cultural

desenvolvimento cultural da criança é caracterizada pela lei da dupla formação dos processos psicológicos superiores (desenvolvimento da linguagem, atenção, memoria, raciocínio, formação de conceitos…), tanto a nível interpsicológico quanto a nível intrapsicológico. Essa internalização é feita através das construções sócias e sua reconstrução individual, a interação da criança com os adultos e agentes mediadores concretiza a internalização (VYGOTSKY, 1930/1996).

Também, considerado o ambiente, mais crendo nas emoções e pensamentos, o cognitivismo considera que a noção de esquemas cognitivos é central para a terapia e a teoria cognitivas (Lopes, E., Lopes, R. & Lobato, 2006). A teoria considera que a personalidade é criada por valores centrais que se desenvolvem bem cedo na vida do
indivíduo como resultado da relação de determinismo recíproco entre ambiente, as características e o comportamento do indivíduo (Bandura, 1979).

A história de vida do indivíduo e suas características individuais criam os chamados esquemas cognitivos ainda bem cedo na vida, a relação com o ambiente através dos estímulos externos e internos são responsáveis pela criação das crenças que estabeleceram os valores individuais de cada um. Esse conjunto de fatores serão responsáveis pelo comportamento e emoções dos indivíduos ao longo da sua vida (Beck& Freeman, 1993).

Como podemos comprovar, mediante as afirmações dos teóricos aqui citados, o desenvolvimento do ser humano se dá através da sua interação com o meio ao seu redor, desenvolvendo sua subjetividade através das relações no meio em que vive. Esse desenvolvimento tem seu início já nos primeiros dias de vida quando o recém-nascido já começa sua interação com o mundo externo na relação com os pais, o amamentar, o carinho demonstrado através de beijos e abraços, as falas dos pais na manifestação de amor e cuidado.

Ao longo de seu crescimento essa criança irá se desenvolver dentro de um contexto social em que as figuras dos pais serão um referencial para sua vida até a fase adulta. Ainda na primeira infância, segunda a psicologia cognitiva comportamental, a criança irá desenvolver suas primeiras crenças nucleares que serão responsáveis por todo um esquema cognitivo que determinará seus comportamentos, emoções e reações fisiológicas ao logo de toda sua vida.
Portanto a figura dos pais é responsável pelo desenvolvimento da saúde mental de seus filhos. Quando essa figura, que deveria ser de cuidado e proteção, é denegrida os riscos de crianças e adolescentes desenvolverem crenças desequilibradas é alto.

Alienação parental

Quando um dos pais influencia o filho, criança ou adolescente, a repudiar o outro genitor, caracterizando assim a alienação parental, ele está desfazendo a figura referencial que essa criança ou adolescente tem, a figura do pai ou da mãe são referências para seu desenvolvimento, esse desenvolvimento pode ser saudável ou não dependendo de como será o ambiente.

É muito importante que as pessoas ao redor de crianças e adolescentes que estão passando por uma situação em que seja constatada a prática da alienação parental não fiquem de braços cruzados, é necessário que providencias sejam tomadas no intuito de preservar o desenvolvimento cognitivo e emocional dessa criança e adolescente, zelando assim por sua saúde mental.

Portanto sabedores da importância das figuras do pai e da mãe como referências do desenvolvimento de crianças e adolescentes, é de suma importância a preservação da imagem de cada um deles como símbolos de amor, proteção e valor. A alienação parental destrói esses valores sendo responsável pela criação de crenças desequilibradas geradoras de pensamentos mau adaptativos e consequentemente o aparecimento de transtornos psicológicos.

Glauber Mascarenhas psicólogo CRP 124752/06

“Não tenho medo, porque eu creio em Deus”

“Não tenho medo, porque eu creio em Deus”

A missionária Hilda Dias da Silveira, que atua na  ilha do Bananal, aldeia Macauba localizada em Tocantins/TO, compartilhou um pouco da experiência de atuar com crianças indígenas. 

Iniciei o trabalho na região no dia 20 de janeiro de 1983, pois ouvia muito sobre o trabalho ali e decidi ser missionária naquele lugar. A primeira dificuldade que enfrentei foi o desconhecimento da cultura, costumes e a língua do povo.

Hoje conhecendo mais do povo Carajás, da aldeia onde atuo, a dificuldade é a falta de missionários, visitas raras para ajudar no trabalho. Eles  são um povo que apreciam visitas.

O trabalho com as crianças

O trabalho com as crianças têm bastante relevância pois no costume Carajá as crianças são o bem uterino. Para iniciar o trabalho com as crianças indígenas deve-se conhecer a cultura, o costume e língua do povo.

Quando eu já me comunicava bem com as crianças, contei a elas a respeito do poder de Deus e comecei a falar sobre ressurreição. Contei que Deus é poderoso, que não há poder igual o de Deus, não há  um ser igual a Deus. Como  Carajás, eles têm medo da alma daquele que morre, pois acreditam que quando a pessoa morre, após três dias ressuscitam e voltam às casas, com isso ficam sempre atemorizados. Então falei para as crianças que após o falecimento de alguém, não precisavam ter medo do morto, porque o morto não volta. Expliquei o poder de Deus e falei que nós temos um inimigo, como eles já conheciam a história eu apenas relembrei a história do inimigo que desafiou a Deus e foi lançado no lago de fogo e que esse inimigo quer fazer de tudo para destruir o homem “para o homem ir para o lago de fogo junto de satanás e não ficar com  Deus.” 

Disse que esse é o desejo dele, que veio para matar e destruir o que Deus criou, o homem que Deus ama tanto. E aí falei que ele engana as pessoas, então quando alguém morre, ele engana fazendo com que eles ouçam barulhos e vozes para que sintam medo. Então falei que eles não precisam acreditar em fantasmas, que eles chamam na linguagem deles de uni, falei que o uni, o satanás,  os engana, fazendo barulhos, derrubando coisas… Esses são relatos que me contam  quando morre alguém, eu disse que é o inimigo das nossas almas que faz tudo isso para amedrontá-los. 

Passaram-se alguns dias e eu encontrei um menino com seus 11 anos de idade pescando lá longe no rio e sozinho na canoa. O nome dele era Melque* e eu fui até ele e falei: Melque, você está sozinho aqui no rio? Sem nenhuma companhia, nenhum amiguinho? Pescando.. você não tem medo? Quando eu falei medo eu pensei em animais peçonhentos, ou até mesmo aquele peixe piranha que corta o dedo da pessoa, de repente a pessoa pesca e pode dar um corte, esse tipo de medo. E ele me respondeu: Não, Hilda, eu não tenho medo, porque uni não existe… é satanás que quer enganar as pessoas e eu não tenho medo, porque eu creio em Deus. Achei isso muito bonito e interessante, porque ele entendeu muito bem a palavra de Deus.

*nome fictício para proteger a criança

Hilda Dias da Silveira,
missionária na Aldeia Macauba 

Esteja em oração pela vida dos missionários que atuam em aldeias indígenas para que mais crianças e adolescentes sejam livres do medo. 

A Bolsa Verde ao redor do mundo

A Bolsa Verde ao redor do mundo

A Bolsa Verde ao redor do mundo

Nesses meses de fevereiro e março o Projeto Calçada está ampliando o alcance de pessoas capacitadas para a utilização da Bolsa Verde. São sete países envolvidos e mais de 20 educadores em treinamento.

A capacitação com a Bolsa Verde consiste em apresentar, ensinar e exemplificar a utilização do material. A Bolsa Verde é uma ferramenta exclusiva, desenvolvida pelo Projeto Calçada, e aplicada por organizações parceiras. Ela contém peças desenhadas para abordar os problemas específicos que as crianças e adolescentes enfrentam, ajudando-os a compartilhar suas histórias de traumas e dores, a partir de uma reflexão de personagens de histórias bíblicas.

Nesses meses de fevereiro e março já foram seis capacitações de 25 educadores de sete países: Angola, Bolívia, Brasil, El Salvador, Índia, Indonésia e México.

Cremos que ao longo deste ano mais pessoas e mais países serão alcançados pela esperança, a graça e o amor de Jesus, por meio da capacitação.

Seja um(a) Educador(a)

Se você trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco social, você tem muito potencial para se tornar um/a Educador/a do Projeto Calçada. Alguns dos requisitos são: estar trabalhando com crianças em situação de risco e em um ambiente e função onde a atividade individual com crianças seja adequada; ser emocionalmente maduro/a para lidar com as histórias de trauma das crianças; com oportunidade/tempo suficiente para aconselhar crianças regularmente; estar disponível para participar integralmente da capacitação.

Escreva para contato@projetocalcada.org.br e saiba mais.

Vamos brincar!

Vamos brincar!

Brincar é coisa séria ou simplesmente um passa tempo? Depende de como compreendemos o brincar. Para a criança brincar é coisa séria, já para um adulto pode ser visto como uma ação de tempo livre, sem intencionalidade. Mas, lembre-se de seu tempo de criança em que você brincava. Quais os sentimentos que você experimentava? Normalmente sentimentos de liberdade e prazer.

As pesquisas e as práticas educacionais têm evidenciado que as atividades lúdicas, os jogos, as brincadeiras, oportunizam o desenvolvimento das aprendizagens cognitivas e socioemocionais, facilitando assim os mais variados processos de expressão, comunicação, socialização, construção do conhecimento, além do desenvolvimento psicomotor. No entanto, no espaço escolar o brincar não recebe seu valor educativo metodológico, sendo atribuído ao segundo plano, nos momentos “livres”.

Para melhor compreender a importância do brincar para o desenvolvimento da criança faz-se necessário entender o que é brincar. A brincadeira é a ação de brincar e para Almeida (2007 p. 26), […] é fruto da tradição cultural oral, da observação, da heterogeneidade e da diversidade de atividades oferecidas pela cultura lúdica do meio ou pela criação e representação espontânea construída a partir de necessidades naturais do ser, sejam elas biológicas (físicas), cognitivas (mentais), psicológicas (afetivas, emocionais, de atenção ou de concentração), sociais (relativas ao grupo social), lingüísticas (relacionadas à linguagem) ou culturais (afeitas às questões contextuais).

No que tange ao aspecto de desenvolvimento da criança, o jogo oferece contribuição em vários aspectos, Vygotsky (1984) , De Aguiar (2004), Kishimoto, (2010) e Santos (2000 abrem o leque de benefícios obtidos no ato de brincar afirmando que é brincando, jogando que a criança experimenta o poder de explorar o mundo e revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e de entrar em relação cognitiva com o meio, os eventos, pessoas, coisas, símbolos e adquire a maior parte de seus repertórios e consequentemente seu desenvolvimento físico, cognitivos, emocionais, sociais e motoras.

Já o lúdico pode está presente no jogo e na brincadeira mas ele não se restringe as essas duas áreas de atividades. Ele vai além, tomando outras dimensões da vida humana que abordam a criatividade e o prazer. Partindo desse entendimento, o lúdico expõe o sentido de uma ação, de como a pessoa vai agir em relação ao objeto e com os pares no ato de manipular, criar, encaixar, experimentar, imitar, entre outras ações que tenham uma significação, de acordo com a motivação dos diferentes indivíduos.

A ação de brincar proporciona o desenvolvimento integral da criança devido a íntima conexão de todas as dimensões que compõem o ser humano e para melhor proveito, o brincar com intencionalidade contribue para o desenvolvimento de áreas específicas de modo que podem influenciar as demais dimensões do ser humano. Através de jogos simples empregados com intencionalidade pode-se favorecer o desenvolvimento em duas áreas importantes para a criança.

Desenvolvimento social: O jogo é espontâneo, motivador, universal e inerente a cada criança. O jogo potencializa a interação na medida em que possibilita novos contatos e construções colaborativas algo essencial na dinâmica de socialização. As conexões que o brincar e o jogo oportunizam, propicia a superação do egocentrismo, desenvolvendo a solidariedade e a empatia, especialmente no compartilhamento de jogos e brinquedos. Serrão, (1999,P.99) afirma: “A sociabilidade das brincadeiras e jogos permitem que se crie laços emocionais, integração produtiva e unidade de grupo.”

Faça uma lista de jogos sociais levando em conta os aspectos sócios culturais do contexto e incorpore na rotina da sua classe e da sua família, para o desenvolvimento das crianças que estão em volta. Surgiro uma lista sucinta a título de exemplo.

Jogos de representação: jogos simbólicos, dramáticos, ficção, etc

Jogos de imitar: imitar o andar ou pular dos animais (elefante, coelho, sapo, canguru). Imitar os meios de transportes. Brincar de: profissões (médico, dentista, bombeiro, cozinheiro etc), de casinha… utilizando o mesmo objeto (brinquedo) em situações diferentes, assim explorando o imaginário da criança. Jogos de advinhação e mímica.

Jogos de regras: jogo da memória, o gato e o rato, boliche e pique bandeira.

Jogos cooperativos: promovem as condutas pró-sociais (ajudar, cooperar, compartilhar, etc.). Esporte cooperativo: futebol, vôlei, handeball. Cabo de guerra e escravos de Jó etc.

Desenvolvimento psicomotor: Para LIEVRE e STAES, ( 2000, p 10 ) O homem é um ser psicomotor: cada um de seus atos testemunha a manifestação conjunta de suas funções intelectuais, emocionais e motoras. O desenvolvimento psicomotor é o desenvolvimento da criança nas áreas de: habilidades motoras, consciência de si mesmo e do próprio corpo, a relação com os outros, consciência de seu ambiente espacial e temporal e das possibilidades de adaptação a ele.

O desenvolvimento psicomotor é de importância primordial na prevenção de problemas de aprendizagem e na reabilitação do tônus muscular, postura, lateralidade e ritmo. Isso porque, a criança ao se desenvolver fisicamente, com a ajuda do jogo, aprende a correr, pular, saltar, se relacionar, controlar seus sentimentos no meio social de convívio. A criança, cujo desenvolvimento psicomotor é deficiente pode ter problemas de escrita, leitura, direção gráfica, distinção de letras (por exemplo, b/d), ordem de sílaba, pensamento abstrato (matemática), etc.

Desenvolva jogos psicomotores como: jogo de estátua, corrida de saco, pular corda, amarelinha, correr sob comando (correr rápido, correr com um pé só), corrida com obstáculo etc. Dançar variados ritmos batendo palmas, dança da cadeira, basket (lançar a bola no cesto), brincar de bambolê, fazer um percuso: andar sobre uma corda reta, atravessar o túnel, subir e descer uma escada etc.

Muitos são os beneficios que as atividades lúdicas, jogos e brincadeiras proporcionam ao indivíduo que as praticam. Em contrapartida há também problemas que surgem devido a falta ou pouca exploração desse domínio. Para Teles (1997,p.13) há algumas consequências em torno da falta do brincar na infância que leva a criança a desenvolver determinadas posturas como: a falsidade, a dissimulação, a agressividade, o desajustamento sexual, vícios, neuroses, falta de iniciativa, isolamento, timidez, preguiça ou lentidão, falta de criatividade.

No momento do jogo as crianças colaboram entre si, partilham se divertem desenvolvem atitudes de solidariedade, respeito, exercitam a imaginação, os sentidos, o corpo e constroem novos conhecimentos. Isso possibilita a formação de cada indivíduo livre de preconceito. É fundamental que o educador assuma um papel de mediador, auxiliando a criança nas atividades lúdicas para a construção de um conhecimento significativo. Então, vamos brincar!
Escrito por José Ricardo Santos – Bacharel em Teologia- FATIN, Licenciatura em Ciências da Educação Universidade Católica de Dijon, Pós graduação em Gestão e docência pela PUC-PR.


Referências bibliográficas
ALMEIDA, P. N. de. Língua portuguesa e ludicidade: ensinar brincando não é brincar de ensinar. São Paulo: dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, 2007.
KYSHOMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedo e Brincadeiras na Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo Em Movimento. Belo Horizonte: Perspectivas Atuais, Nov.2010
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos.Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
SERRÃO, M. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FTD,1999.
TELES, Maria Luiza Silveira. Socorro! É proibido brincar! Petrópolis: Vozes, 1997.
VYGOTSKY – Aprendizado e desenvolvimento Um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1998.