
Ele olhou para mim.
Minha casa não tinha nada de luxo. Era na verdade bem simples, com poucos móveis de segunda mão e alguns brinquedos de madeira e pano que eu e meus irmãos fazíamos. (mais…)
Minha casa não tinha nada de luxo. Era na verdade bem simples, com poucos móveis de segunda mão e alguns brinquedos de madeira e pano que eu e meus irmãos fazíamos. (mais…)
O dia oficial é 21 de junho. Mas, com a presença dos multiplicadores para um encontro e algumas reuniões internacionais, a comemoração dos 18 anos do Projeto Calçada foi adiantada para 30 de maio. (mais…)
“Deus tocou os corações das crianças e falou-lhes de forma pessoal. Confirmamos sempre que o instrumento pode mudar, mas o Espírito Santo age da mesma forma.”
Por Clenir Xavier
“Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro.” Sl 40:1
Um dia desses, como geralmente faço, estava conversando com as pessoas ao final do culto de domingo, aquele momento gostoso e descontraído, enquanto as crianças corriam pelos corredores, passando pelas pessoas e tornando o ambiente ainda mais familiar e alegre.
Notei uma garotinha de oito anos, um pouco mais quietinha do que o seu normal. Fiquei intrigada e me aproximei dela. Sentei ao seu lado e perguntei se estava bem, pois notara que não estava brincando com as outras crianças. A Tânia* me disse que se aproximava o dia dos pais e que não queria ensaiar no coral infantil nem cantar naquele dia, pois não conhecia seu pai. Sempre comemorava com seu avô, mas estava cansada de ser diferente dos outros. “Por que eu não posso ter um pai e ser feliz?”, perguntou a Tânia.
Quem poderia imaginar que a Tânia estivesse passando por uma crise tão profunda. Quantas crianças e adolescentes carregam em silêncio dores intensas. Na maioria das vezes quando estão em grupo, sorriem, correm, fazem graça, falam alto, mas só quando encontram alguém que realmente está disposto a ouvir, conseguem revelar o que se passa no seu íntimo.
Tive a oportunidade de conversar com a Tânia sobre o fato de que não conhecia seu pai, mas que Deus é um pai que nunca a abandonará, que sempre cuidará e que poderá fazê-la sempre feliz. E uma das formas do carinho de Deus foi dar a ela um avô tão carinhoso que a ama dobrado, como neta e como filha. A Tânia saiu dali convencida que é diferente sim, mas muito especial também.
Palavras tão simples que fizeram a diferença na vida da Tânia. Quantas vezes estamos tão satisfeitos com nossos amigos ou preocupados com nossos próprios interesses, que nos esquecemos das crianças que estão à nossa volta. Não precisamos ter curso de aconselhamento para ouvirmos o que a criança fala, e tampouco para compartilharmos o que Deus já tem feito na nossa vida. Muitas vezes não precisamos nem sair de casa para dar atenção a uma criança, e ao que ela sente e precisa falar. Mateus 18:10a nos alerta: “Cuidado para não desprezarem um só destes pequeninos!”
Precisamos ficar antenados, prestando atenção nas crianças e adolescentes, e nos colocando à disposição para ajudá-los a caminhar e enfrentar seus conflitos. Quem sabe assim, praticando aquilo que Deus faz conosco, conseguimos diminuir a taxa de depressão e suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10 e 14 anos que cresceu 40% de 2002 a 2012. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5% (Mapa da Violência do Ministério da Saúde). Simplesmente abrindo os nossos olhos para eles, nos inclinando e os ouvindo.
*Nome modificado para proteger a identidade da criança.
Clenir Xavier é Diretora Internacional do Projeto Calçada – Lifewords, Psicóloga, Assistente Social e Conselheira do CONANDA.
Por Cleisse Andrade
“Tomando as crianças nos braços, impunha as mãos sobre elas e as abençoava.” Marcos 10:16
Ter as crianças por perto e abençoá-las, foi o exemplo que Jesus nos deixou, relatados mais de uma vez nos evangelhos. Pensar que a criança é um ser humano completo, criado por Deus para ser amado e cuidado, nos responsabiliza. A criança tem necessidades físicas, que são as que mais urgentemente buscamos suprir. Mas ela tem também necessidades emocionais; precisa se sentir amada, aceita, respeitada, incluída, etc. Apresentá-la quando nasce não é suficiente. A criança deve ser visitada quando está doente, deve ser consolada quando enfrenta o luto, deve ser compreendida diante de um fracasso escolar, deve ser encorajada diante de uma vitória, e não são tarefas somente da família, ela também pertence à igreja.
Ouvir a criança a ensina que o que ela pensa é importante e tem valor. Quando o ouvinte demonstra interesse genuíno, ela abre o coração e compartilha seus sentimentos e opiniões. Até mesmo situações ocultas vem à tona diante de um ouvido atento e interessado. Ouvi-la também para conhecer suas necessidades e atendê-las, sejam quais forem. Porque não ouvi-la também para envolvê-la na escolha das atividades do ministério infantil? Ela Pode escolher os brinquedos, opinar sobre cores na pintura das salas, expressar seus sentimentos quanto à equipe, etc.
O dicionário Aurélio diz que pastorear significa: guiar, dirigir, orientar. Em geral os adultos são cuidados por seus pastores, mas, e as crianças? Já viu uma criança ser convidada para ir ao gabinete pastoral? Muitos cristãos adultos compartilham seus traumas por terem sido abusados na infância. Se tivessem sido ouvidos, aconselhados, defendidos quando criança, muita dor teria sido evitada e cresceriam saudavelmente. Cuide da criança na sua individualidade para que ela cresça como Jesus, “com saúde e sabedoria, abençoado por Deus e pelos homens.” Lc 2:52
Por Luciana Falcão da Silva
Durante a Segunda Consulta Teológica com o tema: Criança, a Igreja e a Missão realizada em Brasília, pastores e lideranças de organizações evangélicas que trabalham com crianças e adolescentes reconheceram que precisamos como igrejas e projetos sociais aprender a escutar a criança. Prova disso é que a grande maioria de nossas atividades estão destinadas a atividades em grupo e raros são aqueles que desenvolvem ações de enfoque individual.
Quando a criança for de fato relevante em nossa teologia e missão ela se tornará mais importante que as tarefas que realizamos para elas, por elas e com elas; será tão importante quanto cada adulto e merecerá ser ouvida de modo individualizado e respeitoso. Não será apenas mais uma no grupo, mas um indivíduo com quem se precisa dialogar e investir tempo de qualidade.
E por onde começar?
O primeiro passo já foi dado, reconhecendo que precisamos aprender a escutar a criança em meio as suas peculiaridades e dores. Mediante a prática que temos com o Projeto Calçada sugerimos algumas atitudes:
Separe semanalmente um tempo de qualidade para conversar individualmente com uma criança ou adolescente. Não espere ter tempo livre para isso. Sempre haverá muito o que fazer!
Mantenha uma atitude cordial, é mais fácil para qualquer um de nós conversar com alguém que mantém um sorriso nos lábios e um olhar amoroso; e para criança vale também a mesma regra.
Procure ficar no mesmo nível que a criança, isso lhe trará mais conforto. Mas evite ficar atrás da mesa, geralmente essa atitude impõe mais distância que aproximação.
Seja paciente! Lembre-se: as atitudes corporais e expressões faciais também falam. Ao fazer uma pergunte aguarde a resposta. Nossa ansiedade muitas vezes interrompe o seu pensamento. É muito comum lhe darmos respostas prontas, como exemplo: “Então foi medo que você sentiu?”
Luciana Falcão da Silva, coordenadora do Projeto Calçada no Brasil