“Depois disso, algumas pessoas levaram as suas crianças para Jesus pôr as mãos sobre elas e orar, mas os discípulos repreenderam as pessoas que fizeram isso. Aí ele disse: — Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino do Céu é das pessoas que são como estas crianças. Então Jesus pôs as mãos sobre elas e foi embora. ” Mateus 19:13-15 NTLH
Certa vez eu tive a oportunidade de ver um vídeo desses que aparecem sugeridos em nossas redes sociais. O vídeo, realizado por uma emissora de TV brasileira, mostrava um experimento social chamado “Esqueceram de Mim”. Nele duas crianças uma negra e uma branca foram “esquecidas” sozinhas em uma calçada bastante movimentada que aparentava ser de um grande centro urbano, simulando estarem perdidas. O experimento buscava medir o grau de atenção/cuidado que cada uma das crianças receberia.
Em momentos diferentes cada uma das meninas foi deixada sozinha paradas em determinado lugar, monitoradas apenas por rádio e câmeras da equipe. A criança negra ficou quase uma hora sem ser notada pelas pessoas que passavam. A criança branca ficou menos de um minuto sozinha no local marcado. Muitas pessoas passavam e perplexas questionando como essa criança poderia estar ali sozinha! E rapidamente abordaram a criança branca e prestaram assistência. Exatamente no mesmo lugar que a criança negra ficou.
Talvez você tenha ficado extremamente triste com esse relato e se pergunte: como a nossa sociedade chegou a essa situação? Infelizmente situações como a que foi demostrada no experimento acontecem cotidianamente, a sociedade brasileira naturaliza a subalternização das crianças e os adolescentes negros todos os dias. É possível perceber certa “tranquilidade” de grande parte das pessoas diante dos quadros de exploração infantil nos grandes centros urbanos. E é triste constatar que a maioria dessas crianças são negras.
É exploração Infantil
Quantas balas ou doces você já comprou de uma criança ou adolescente negro nas noites ou madrugadas em sinais de trânsito? Em alguma dessas vezes você se perguntou o que aquela criança ou adolescente estaria fazendo ali, vulnerabilizada, correndo riscos? Muitos acionarão a resposta covarde e hipócrita: – É melhor estar vendendo bala do que roubando! Ignorando completamente que o fato de uma criança ou adolescente estar “trabalhando”em tais condições é exploração infantil. A maioria dessas crianças e adolescentes são negros e passam desapercebidos de nossa atenção e cuidado. Essa situação acontece de forma cotidiana em nosso país, a maioria de nossas crianças negras são invisibilizadas, alijadas de seus direitos e de condições de vida dignas.
Jesus e as crianças
Jesus é enfático em Mateus, capítulo 18, versículo 5 quando diz que ao recebermos uma criança nós estaríamos recebendo a Ele. Diante dessa fala poderosa de Jesus nos resta pedir perdão a Deus pelas crianças negras e adolescentes negros que rejeitamos, “apagamos” todos os dias.
Que atitudes devemos ter para mudar esse quadro? O primeiro passo é a conversão, é necessário mudar o olhar, libertar-se do pecado do racismo e da negligência na luta contra a exploração infantil. É urgente tomar posição e organizar atividades e eventos nos espaços em que você atua para falar sobre esse pecado que tem danificado a vida de milhares de crianças e adolescentes no Brasil e no mundo. Outro passo é buscar organizações que atuam no campo da proteção e defesa de direitos das crianças e adolescentes e na construção de relações sociais antirracistas e oferecer seu trabalho voluntário.
O desafio dos cristãos diante da defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Acredito radicalmente no papel das igrejas, movimentos e organizações cristãs na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes entendo que é necessário engajar-se, falar e agir. Não é possível que tantas violações de direitos das crianças e adolescentes aconteçam em um país majoritariamente cristão!
É imprescindível que as igrejas amadureçam teologicamente para esse desafio. Não podemos ignorar que o a Bíblia diz sobre as crianças e o papel delas no Reino de Deus. Não dá para esperar mais, ou a Igreja toma posição pela defesa da vida das crianças e adolescentes ou estará rejeitando Jesus de Nazaré. Cada igreja é uma embaixada do Reino de Deus na terra e precisa estar conectada com esse desafio, sem medo e sem recuos de base moralista, se negando diante daquilo que também é sua responsabilidade, é urgente assumir a causa.
O que é possível fazer?
Orar, participar e trabalhar. Nós cristãos temos muitas dimensões em que podemos nos envolver na promoção do bem viver e dos direitos das crianças e dos adolescentes. “Abrir os olhos” considerar a realidade das crianças e dos adolescentes negros, que são maioria nesse país, não tolerar mais que uns tenham direitos e outros não. Jesus é enfático em dizer que bem-aventurados são os que têm fome de justiça. Jesus também vem nos dizer que das crianças, e porque não dos adolescentes também, é o Reino dos céus. Jesus não diz que o reino pertence à determinadas crianças e adolescentes e às outras não, Ele diz que o reino é delas, ou seja, de todas as crianças e por que não dizer de todos os adolescentes.
Eu e você podemos atuar em muitas frentes e de muitas maneiras para mudar esse quadro tão injusto, podemos ser cooperadores dessa causa.
Ras André Guimarães
pastor metodista
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