Agressão contra crianças e adolescentes: Impacto no desenvolvimento

Agressão contra crianças e adolescentes: Impacto no desenvolvimento

Para um desenvolvimento saudável, faz-se necessário um ambiente seguro composto por cuidadores amorosos, estáveis, que supram necessidades básicas da criança. Necessidades como: alimentação balanceada, cuidados físicos, proteção, atenção, afeto e carinho. Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento. Dos 0 aos 3 anos é a fase que o indivíduo mais aprende, não haverá outro momento no ciclo vital que ocorrerá tanto aprendizado. Assim, as primeiras experiências e interações deixarão marcas no corpo e no cérebro que moldarão toda a formação dos circuitos e da arquitetura do cérebro. Uma criança curiosa, que mostra-se animada para aprender, explorar e brincar, sinaliza que teve experiências positivas, pais participativos, presentes, com estímulos adequados, ou seja, um ambiente seguro que a permitiu crescer seguramente e ser nutrida física e emocionalmente. Esse desenvolvimento começa a correr riscos quando esta criança está inserida em circunstâncias muito difíceis, que se estendem por dias, semanas, meses e anos. Circunstâncias estas que configuram ambientes instáveis, com pouca interação positiva, que as expõe à violências.

Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve um aumento de mais de 20% de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes de 2020 para 2021. Apesar de existir uma enorme variabilidade de comportamentos e atitudes que podem ser prejudiciais à criança e ao adolescente por parte dos adultos ou cuidadores, os mais reconhecidos nas pesquisas como maus-tratos infantis, são a negligência física e emocional e o abuso psicológico, físico e sexual.

Os impactos da agressão contra crianças e adolescentes são diversos, tornando não apenas a infância comprometida, mas também a adolescência, pois aumenta o fator de risco já existente nessa fase, para o desenvolvimento de psicopatologias e maior suscetibilidade a vícios. Os estudos apontam uma relação direta de violências, adversidades vividas na infância com o desenvolvimentos de algum transtorno mental, como transtornos de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, suicídio, abuso de substâncias, transtornos de personalidade, bem como obesidade e anomalias no coração. Existem pesquisam que também mostram mudanças na arquitetura cerebral, no que diz respeito ao volume e morfologia, em decorrência desse
estresse precoce das agressões vivenciadas na infância. As áreas cerebrais prejudicadas mais apontadas nos estudos são as responsáveis por processar e armazenar reações emocionais; as que desempenham funções importantes na memória e no aprendizado; bem como a responsável pelo planejamento do comportamento cognitivamente complexo, processos de tomada de decisão, regulação emocional e adaptação do comportamento social. É importante ressaltar que os efeitos no funcionamento do cérebro, nem sempre aparecem imediatamente após a exposição ao evento, podem se manifestar na transição da infância para a vida adulta – na adolescência. Assim, mesmo que o adolescente não tenha um diagnóstico psiquiátrico, essas modificações podem influenciar o processamento e a resposta ao estresse psicossocial na vida adulta.

O organismo humano possui diversos mecanismos neurobiopsicológicos que atuam na regulação de respostas à situações adversas, de estresse social e psicológico. O eixo Hipotálamo-Pituitário-Adrenal (HPA) é um dos principais e mais antigos mecanismos de regulação do estresse em humanos. Na presença de eventos estressantes, físicos ou psicológicos, ocorre a estimulação de alguns hormônios que, por sua vez, estimulam as glândulas adrenais – também chamadas de suprarrenais – a produzir cortisona, o cortisol, um hormônio que ajuda o sujeito a se preparar para a reação de lutar ou fugir. Quando esse eixo é
ativado com frequência, ele perde essa função adaptativa: salvar a vida. Ele fica hipoativo, se apresenta insensível e menos reativo em situações de estresse agudo. Recomendo a leitura do estudo feito pelo Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul sobre como a violência afeta áreas do cérebro de crianças e adolescentes. Este estudo apontou que crianças e adolescentes submetidos a episódios de violência desligam involuntariamente partes do cérebro responsáveis pela memória, empatia e emoções, colocando a mente, em “modo de sobrevivência”. Desse modo, fica comprometida a capacidade de concentração e de processamento de novas
informações.

Diante de todos os prejuízos exposto que a violência, as agressões acarretam para um desenvolvimento infantojuvenil saudável, são urgentes ações que protejam nossas crianças e adolescentes. Não existe uma receita para um cenário compostos por variáveis diversas e complexas. O que temos são medidas, que todos nós podemos adotar, a começar pelo o que estamos fazendo com a escrita e leitura desse texto – a informação. Entender o que configura violência e seus impactos, pode gerar a conscientização e ações para mudanças comportamentais, de pais, cuidadores, professores, instituições e adultos de referência para com
as crianças e adolescentes;

Para mudanças de práticas parentais punitivas, seguem algumas dicas para ajudar nesse processo: mudanças comportamentais passam primeiramente pelo autoconhecimento, assim, quando estiver diante de uma situação desafiadora com sua criança/adolescente, pare, se dê um tempo, saia se possível do ambiente e perceba o que está sentindo, que reações está experimentando no seu corpo (coração acelerado, rubor na face, queimação no estômago). Observe seus comportamentos, que atitudes está prestes a tomar? Elas serão pedagógicas e orientadoras, ou vão fazer seu/sua filho(a) sentir-se envergonhado(a) e desencorajado(a)? Escute o que está falando, seu tom de voz e questione seus pensamentos. O que eles estão dizendo para você fala da atitude da sua criança/adolescente ou de alguma parte da sua história de questões irresolvidas? Quando não olhamos para nossa história e buscamos dar sentido a ela, ressignifica-la, podemos repetir padrões nocivos do passado, na nossa forma de ser pai e mãe. Ao fazer essa auto reflexão, poderá ficar mais consciente de si, dos seus pensamentos que geram suas emoções e consequentemente seus comportamentos. Assim, poderá escolher atitudes que caminhem na direção do pai/mãe que deseja ser e dos princípios e valores que deseja ensinar.

A comunicação não-violenta, visa promover interações empáticas, compassivas, que levam o outro e a mim em consideração. Abaixo, seguem os quatro componentes para promover essa comunicação:

Percebem que para uma relação pais e filhos que promova uma ambiente favorável para um desenvolvimento saudável, passa pelo autocuidado dos pais? A violência pode estar sendo uma repetição geracional, tendo como uma das consequências as alterações cerebrais identificadas pelos estudos, em que esses déficits acarretam em distúrbios de socialização, facilitam o envolvimento com drogas e álcool, aumentam a agressividade, contribuem na formação de adultos impulsivos, que tendem a acreditar que os apuros da vida são solucionados por meio da força e não do diálogo.


Ana Paula Gonçalves Martins Moreira
Psicóloga especialista em Gestão de Competências em Recursos Humanos. Especialista em
Terapia Cognitivo-comportamental. Psicóloga clínica de crianças e adolescentes. Palestrante,
professora e supervisora de turmas de formação e especialização em Terapia Cognitivo-
comportamental.

Contatos:
paula.psic@hotmail.com
Instagram: @anapaulamoreira.psicologia
12 99231 3125

Como ajudar a criança a fortalecer a autoproteção?

Como ajudar a criança a fortalecer a autoproteção?

Olá, meu nome é Marisol Vargas. Sou mãe, professora e durante 20 anos tenho sido abençoada trabalhando com crianças na Colômbia, em ênfase na prevenção de abuso, na educação sobre a sexualidade segundo o que Deus criou, e na restauração emocional delas. Ao longo desta experiência tenho aprendido que é fundamentar guiar e proteger as crianças com base nos
princípios bíblicos, que promova afirmação e liberdade em suas vidas. Se fortalecemos a identidade delas, estrão preparadas para enfrentar diversas situações que surgirem.

Apresento 7 estratégias para ajudar crianças e adolescentes a fortalecerem a autoproteção:

  • Ensine as se verem como criação especial, assim como Deus as vê. Elas foram criadas por Ele com um propósito. Deixe-as saber que foram escolhidas, que são perdoadas e amadas, e que seu valor vem de quem elas são, não apenas do que fazem. Efésios 2:10
  • Guie-as enquanto estão crescendo. As crianças sempre precisarão ser guiadas por adultos, observando seu bom exemplos, suas boas práticas, enquanto estão crescendo. Deus nos concedeu grande privilégio ao nos dar filhos em nossas famílias. Provérbios 22:6
  • Crie espaços seguros e de confiança onde as crianças possam conversar sobre diversos temas e encontrar respostas para suas dúvidas, com base na verdade divina. 2 Timóteo 3:16
  • Demonstre interesse em conhecer seus gostos e fortaleça seu círculo de amigos. Ensine-as que Jesus é o verdadeiro amigo, que as ajuda e que pode satisfazer suas necessidades de aceitação, participação e pertencimento. Provérbios 13:20
  • Mostre-lhes que todo o seu ser é especial – espírito, alma e corpo – e merece respeito e cuidado. Faça-a entender que são um tesouro dado por Deus e que devem cuidar de si mesmas. 1 Tessalonicenses 5:23
  • Ajude-as a se protegerem da necessidade de agradar aos outros e de se automutilarem. Sempre haverá um desejo natural nas crianças de serem aceitas, mas devemos fortalecer sua autoestima e autoconfiança. Isaías 43:4-5
  • Ajude-as a compreenderem que tudo o que veem ou vivenciam afeta sua mente, suas emoções e sua vontade, que seus cinco sentidos são muito importantes. Ensine-as que elas têm autoridade para dizer “NÃO” a qualquer situação que coloque em risco sua integridade. Provérbios 14:16

Espero que estas 7 estratégias sejam úteis para você fortalecer a autoproteção de crianças e adolescentes com as quais convive. Desejo que você tenha muito sucesso em seu trabalho!

Marisol Vargas
Coordenadora do Projeto Calçada na Colômbia
Lider da Red Viva e do Movimento Juntos pela Infância na Colombia Fundadora de
Biblioeseñarte (materiais infantis para a prevenção de maus tratos e abusos) –
www.facebook.com/biblioensenarte.bea

Vamos brincar!

Vamos brincar!

Brincar é coisa séria ou simplesmente um passa tempo? Depende de como compreendemos o brincar. Para a criança brincar é coisa séria, já para um adulto pode ser visto como uma ação de tempo livre, sem intencionalidade. Mas, lembre-se de seu tempo de criança em que você brincava. Quais os sentimentos que você experimentava? Normalmente sentimentos de liberdade e prazer.

As pesquisas e as práticas educacionais têm evidenciado que as atividades lúdicas, os jogos, as brincadeiras, oportunizam o desenvolvimento das aprendizagens cognitivas e socioemocionais, facilitando assim os mais variados processos de expressão, comunicação, socialização, construção do conhecimento, além do desenvolvimento psicomotor. No entanto, no espaço escolar o brincar não recebe seu valor educativo metodológico, sendo atribuído ao segundo plano, nos momentos “livres”.

Para melhor compreender a importância do brincar para o desenvolvimento da criança faz-se necessário entender o que é brincar. A brincadeira é a ação de brincar e para Almeida (2007 p. 26), […] é fruto da tradição cultural oral, da observação, da heterogeneidade e da diversidade de atividades oferecidas pela cultura lúdica do meio ou pela criação e representação espontânea construída a partir de necessidades naturais do ser, sejam elas biológicas (físicas), cognitivas (mentais), psicológicas (afetivas, emocionais, de atenção ou de concentração), sociais (relativas ao grupo social), lingüísticas (relacionadas à linguagem) ou culturais (afeitas às questões contextuais).

No que tange ao aspecto de desenvolvimento da criança, o jogo oferece contribuição em vários aspectos, Vygotsky (1984) , De Aguiar (2004), Kishimoto, (2010) e Santos (2000 abrem o leque de benefícios obtidos no ato de brincar afirmando que é brincando, jogando que a criança experimenta o poder de explorar o mundo e revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e de entrar em relação cognitiva com o meio, os eventos, pessoas, coisas, símbolos e adquire a maior parte de seus repertórios e consequentemente seu desenvolvimento físico, cognitivos, emocionais, sociais e motoras.

Já o lúdico pode está presente no jogo e na brincadeira mas ele não se restringe as essas duas áreas de atividades. Ele vai além, tomando outras dimensões da vida humana que abordam a criatividade e o prazer. Partindo desse entendimento, o lúdico expõe o sentido de uma ação, de como a pessoa vai agir em relação ao objeto e com os pares no ato de manipular, criar, encaixar, experimentar, imitar, entre outras ações que tenham uma significação, de acordo com a motivação dos diferentes indivíduos.

A ação de brincar proporciona o desenvolvimento integral da criança devido a íntima conexão de todas as dimensões que compõem o ser humano e para melhor proveito, o brincar com intencionalidade contribue para o desenvolvimento de áreas específicas de modo que podem influenciar as demais dimensões do ser humano. Através de jogos simples empregados com intencionalidade pode-se favorecer o desenvolvimento em duas áreas importantes para a criança.

Desenvolvimento social: O jogo é espontâneo, motivador, universal e inerente a cada criança. O jogo potencializa a interação na medida em que possibilita novos contatos e construções colaborativas algo essencial na dinâmica de socialização. As conexões que o brincar e o jogo oportunizam, propicia a superação do egocentrismo, desenvolvendo a solidariedade e a empatia, especialmente no compartilhamento de jogos e brinquedos. Serrão, (1999,P.99) afirma: “A sociabilidade das brincadeiras e jogos permitem que se crie laços emocionais, integração produtiva e unidade de grupo.”

Faça uma lista de jogos sociais levando em conta os aspectos sócios culturais do contexto e incorpore na rotina da sua classe e da sua família, para o desenvolvimento das crianças que estão em volta. Surgiro uma lista sucinta a título de exemplo.

Jogos de representação: jogos simbólicos, dramáticos, ficção, etc

Jogos de imitar: imitar o andar ou pular dos animais (elefante, coelho, sapo, canguru). Imitar os meios de transportes. Brincar de: profissões (médico, dentista, bombeiro, cozinheiro etc), de casinha… utilizando o mesmo objeto (brinquedo) em situações diferentes, assim explorando o imaginário da criança. Jogos de advinhação e mímica.

Jogos de regras: jogo da memória, o gato e o rato, boliche e pique bandeira.

Jogos cooperativos: promovem as condutas pró-sociais (ajudar, cooperar, compartilhar, etc.). Esporte cooperativo: futebol, vôlei, handeball. Cabo de guerra e escravos de Jó etc.

Desenvolvimento psicomotor: Para LIEVRE e STAES, ( 2000, p 10 ) O homem é um ser psicomotor: cada um de seus atos testemunha a manifestação conjunta de suas funções intelectuais, emocionais e motoras. O desenvolvimento psicomotor é o desenvolvimento da criança nas áreas de: habilidades motoras, consciência de si mesmo e do próprio corpo, a relação com os outros, consciência de seu ambiente espacial e temporal e das possibilidades de adaptação a ele.

O desenvolvimento psicomotor é de importância primordial na prevenção de problemas de aprendizagem e na reabilitação do tônus muscular, postura, lateralidade e ritmo. Isso porque, a criança ao se desenvolver fisicamente, com a ajuda do jogo, aprende a correr, pular, saltar, se relacionar, controlar seus sentimentos no meio social de convívio. A criança, cujo desenvolvimento psicomotor é deficiente pode ter problemas de escrita, leitura, direção gráfica, distinção de letras (por exemplo, b/d), ordem de sílaba, pensamento abstrato (matemática), etc.

Desenvolva jogos psicomotores como: jogo de estátua, corrida de saco, pular corda, amarelinha, correr sob comando (correr rápido, correr com um pé só), corrida com obstáculo etc. Dançar variados ritmos batendo palmas, dança da cadeira, basket (lançar a bola no cesto), brincar de bambolê, fazer um percuso: andar sobre uma corda reta, atravessar o túnel, subir e descer uma escada etc.

Muitos são os beneficios que as atividades lúdicas, jogos e brincadeiras proporcionam ao indivíduo que as praticam. Em contrapartida há também problemas que surgem devido a falta ou pouca exploração desse domínio. Para Teles (1997,p.13) há algumas consequências em torno da falta do brincar na infância que leva a criança a desenvolver determinadas posturas como: a falsidade, a dissimulação, a agressividade, o desajustamento sexual, vícios, neuroses, falta de iniciativa, isolamento, timidez, preguiça ou lentidão, falta de criatividade.

No momento do jogo as crianças colaboram entre si, partilham se divertem desenvolvem atitudes de solidariedade, respeito, exercitam a imaginação, os sentidos, o corpo e constroem novos conhecimentos. Isso possibilita a formação de cada indivíduo livre de preconceito. É fundamental que o educador assuma um papel de mediador, auxiliando a criança nas atividades lúdicas para a construção de um conhecimento significativo. Então, vamos brincar!
Escrito por José Ricardo Santos – Bacharel em Teologia- FATIN, Licenciatura em Ciências da Educação Universidade Católica de Dijon, Pós graduação em Gestão e docência pela PUC-PR.


Referências bibliográficas
ALMEIDA, P. N. de. Língua portuguesa e ludicidade: ensinar brincando não é brincar de ensinar. São Paulo: dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, 2007.
KYSHOMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedo e Brincadeiras na Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo Em Movimento. Belo Horizonte: Perspectivas Atuais, Nov.2010
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos.Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
SERRÃO, M. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FTD,1999.
TELES, Maria Luiza Silveira. Socorro! É proibido brincar! Petrópolis: Vozes, 1997.
VYGOTSKY – Aprendizado e desenvolvimento Um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1998.

Entre sonhos e realidades: um olhar para a infância

Entre sonhos e realidades: um olhar para a infância

“Cada criança deveria ter uma placa dizendo:
Trate com cuidado, contém sonhos!”

Mirko Badiale

“Quando eu crescer quero ser… Bombeiro! Professor! Doutor! Policial!” foram os sonhos que nossos meninos e meninas compartilharam antes da pandemia da COVID-19. Um ano depois da pandemia, se considerarmos as conclusões do relatório “Acessibilidade da Educação à Distância” (The Remote Learning Reachability), a partir do fechamento das escolas, desde março de 2020, são 463 milhões de crianças em idade escolar afetadas (UNICEF, 2020), as causas são múltiplas, mas a principal é o acesso à educação a distância, que a grande maioria dos países considerou como uma ação alternativa para que pudessem continuar com as aulas.

O relatório da UNICEF destaca as condições de acessibilidade à internet em famílias de baixa renda, o que representa 72% e mesmo em famílias de renda média-alta, 86% dos alunos não têm acesso, já que grande parte deles vive em áreas rurais. É claro que os menores são os mais afetados, pois representam 70% (120 milhões de crianças) sem acesso remoto por rádio, televisão ou internet, com programas pouco eficazes de educação virtual; formação emergente de professores e nula para mães ou pais, bem como materiais adequados para o lar. Meninos e meninas do ensino primário estão nas mesmas condições e representam 29%, ou seja, 217 milhões de alunos.

Os alunos do ensino fundamental 1, que representam 24% (78 milhões, juntamente com 18% (48 milhões) do ensino fundamental 2, apresentam as mesmas situações, acrescentando ainda o pouco apoio em casa que ambos os pais lhes podem oferecer, pela complexidade das questões, que para muitos deles representa, principalmente se tiverem apenas o ensino primário ou o ensino fundamental, especialmente em países com altos índices de analfabetismo.

O isolamento tem trazido repercussões para um número crescente de crianças e adolescentes por serem submetidos à violência doméstica vinculada ao aprendizado em casa, por parte da mãe, maiormente. Por isso, é importante unir esforços para sensibilizar, tanto as mães quanto os pais, para que realizem o acompanhamento educacional dos filhos e filhas com amor e ternura. Vamos motivar nossos professores e professoras a assumirem, com responsabilidade, sua formação virtual, para que desenvolvam aprendizagens altamente significativas e compreendam a lógica da educação virtual ao não saturar os alunos e alunas com tarefas e atividades sem sentido.

Pais e mães, ouçamos atentamente estas belas palavras:

“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles.” Provérbios 22:6 (NVI);

Vamos educar nos ensinamentos para uma vida de amor e serviço; vamos aproveitar este tempo em casa para reforçar nas nossas crianças e adolescentes, atitudes e valores de autoestudo, responsabilidade, organização, atenção, habilidades digitais e de estudo, capacidade criativa, entre outras, que lhes permitirão, diante dessa realidade dolorosa, continuarem sonhando para construir novos sonhos através de um projeto de vida familiar. Lembre-se que projetos e sonhos nascem em casa, envolvendo todo o ambiente.

Esforcemo-nos para que nossos sonhos se tornem realidade, porque a cada dia colocamos um grãozinho de areia de esforço, dedicação e disciplina:

“Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem desanime, pois o SENHOR, o seu Deus, estará com você por onde você andar”. Josué 1:9 (NTLH).

Coragem! Vamos nos preparar para voltar às aulas com um projeto de vida e com sonhos renovados para sermos uma humanidade melhor, porque melhorar as condições atuais da infância e da adolescência exige pessoas com novo vigor, conhecimento e responsabilidade. E essa pessoa é você!

Escritor por Leticia Ramírez Rodríguez – Mexicana, voluntária do Projeto Calçada. Professora em Produção Editorial pelo Instituto de Investigação em Ciências Humanas e Sociais IIHCS e pela Faculdade de Letras da UAEM; Estagiária do Mestrado em Desenvolvimento Educacional e Inovação da UPN; Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Letras da UNAM; Estagiária do Mestrado em Ciências Bíblicas pela Comunidade Teológica do México.


Fontes de consulta
Bible Gateway (2021). Consultado el 14 de marzo de 2021.
UNICEF (2021). COVID-19: Are children able to continue learning during school closures? Consultado el 13 de
marzo de 2021.
UNICEF (2020). “Una tercera parte de los niños…”  Consultado el 13 de
marzo de 2021.

Como podemos trabalhar a prevenção da gravidez na adolescência?

Como podemos trabalhar a prevenção da gravidez na adolescência?

Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. 

E como podemos trabalhar a prevenção da gravidez na adolescência? – Introduzindo uma reflexão sobre possibilidades de práticas preventivas nessa temática.

A Lei N° 13.798, de 03 de janeiro de 2019, considera a semana que inclua o dia primeiro de fevereiro como a Semana Nacional de Prevenção da Gestação na Adolescência. Assim, esse texto tem como objetivo introduzirmos, juntamente com o leitor, uma breve reflexão sobre a Prevenção Primária de mais essa complexa e crescente problemática de Saúde Pública, a nível Nacional – Gravidez na Adolescência.

Em nosso imenso território brasileiro a Gravidez na Adolescência encontra-se presente em uma variedade de contextos sociais, econômicos, culturais, familiares, individuais e, consequentemente com demandas e repercussões que requerem uma avaliação detalhada, contextualizada, ampliada e especifica, comunitária e singular, em se tratando de propor prevenção nesse tema. Contudo, é fundamental construir, planejar e avaliar conjuntamente com cada público alvo à prevenção da incidência de agravamentos na Saúde de Crianças e Adolescentes, em especial, à Gestação na Adolescência.

Importa enfatizar que aqui estamos diante de uma sobreposição de complexidades: Adolescência (s) e Gravidez na Adolescência (s). Portanto, trabalhar esses temas (Adolescência e Gravidez), e com o público alvo de protagonistas em diversos cenários, é preciso atentar para vários aspectos de extrema relevância na diversidade e singularidade de cada gestante, do casal gestante, da (s) família (s). Assim sendo, desafios pensáveis e inimagináveis podem permear uma proposta de orientação com vistas à Prevenção da Gravidez na Adolescência. Contudo, é gratificante, enquanto despertar e acender de luzes em mais um ponto extremamente relevante à Saúde Integral e à Política de Proteção de Crianças e adolescentes.

Pensar e trabalhar à prevenção da Gravidez na Adolescência é imprescindível incluir vários outros temas
correlacionados, a exemplo: Adolescência, Puberdade, Sexualidade, Educação para Sexualidade Saudável, Saúde Sexual, Família e Sexualidade, Mitos e Tabus sobre Educação Sexual, Saúde e Planejamento Familiar, Contracepção e Métodos Contraceptivos, Saúde da Gestante, Maternidade e Paternidade, Infecções Sexualmente Transmissíveis, Saúde Mental, Sonhos e Projeto de vida, Gestação e Pré-natal, Abstinência do Uso de Álcool e Outra Drogas na Gravidez – Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), Saúde Fetal e do Recém-nato, Parto, Pós-parto, Prevenção de Reincidência da Gestação na Adolescência, e inúmeros recortes e desdobramentos que podem surgir ao abordar a prevenção individualmente, ou em grupo com os adolescentes, famílias e educadores.

Importa também a atenção a aspectos, elementares nos trabalhos de prevenção, como por exemplo:

-Qual o Nível de Prevenção?

-Qual o público (com adolescentes, com pais e/ou responsáveis, com educadores?)

-Como vamos trabalhar (individual, grupo)?

-Quais questões, ou outros temas, o grupo prioriza e propõe dialogar?

E muitas outras questões que cada pessoa, grupo ou proposta especifica vai requerer no planejamento, na implantação, implementação e desenvolvimento de uma proposta preventiva contextualizada aos seus específicos protagonistas e contextos.

Neste texto, elegemos como grupo de prevenção pais e/ou responsáveis e educadores. E, a partir de casos relatados nas ministrações de cursos, palestras, encontros, seminários e atendimentos clínicos procuramos destacar alguns pontos relevantes ao aqui proposto – Introduzir reflexão sobre Prevenção Primária da Gravidez na Adolescência.

“Na minha casa era proibido falar de sexo. Minha irmã mais velha ficou grávida na adolescência, foi tudo muito triste. Meu pai bateu muito nela, ela saiu de casa. Ele falava gritando: por causa da safadeza dela, ela ficou grávida e você vai fazer também?”

“Ninguém me falava dessas coisas, e ainda criança comecei a ter sexo. Era assim mesmo na minha casa,
com minha bisa, com minha avó e minha mãe. Fiquei grávida antes de ver minha primeira menstruação.”

“Quando tive minha primeira filha, eu tinha quatorze anos. Na minha primeira relação sexual, com meu
colega de escola, fiquei grávida. Ele falou que não estava preparado para ser pai, fiquei com minha filha.
Minha família me apoiou, mas a responsabilidade de cuidar era minha. Eu era uma criança cuidando de
outra. Parei os estudos, sonhos mudaram.”

“Eu sou tia, ela tem 13 anos, pouco tempo que veio de outro estado para morar comigo, e agora tem uma
dor na barriga que não melhora com os remédios.” Ao exame da obstetra: abdome compatível com
gestação no sétimo mês. Quanta dor, quanto sofrimento vimos naquela história e consulta.

A partir dos exemplos acima citados, e pelas particularidades, ainda que sumariamente descritos, muito podemos refletir, dialogar e aprender sobre como sendo um pai, uma mãe, um responsável, um educador podemos fazer diferente, promovendo proteção e prevenção? Como agir de maneira saudável, humana, respeitosa para com uma criança, um adolescente promovendo à Prevenção da Gravidez na Adolescência?

Para o alcance desses desafios, aos pais e educadores destacamos:
-A prevenção da gestação na adolescência não é um fenômeno que acontece de repente, ou quando inicia
o aparecimento dos sinais de início da puberdade. Ela pode estar inserida, fazer parte da educação para o
crescimento e desenvolvimento saudável da pessoa (meninas e meninos).

-Assim, naturalmente inclusa nos processos de Educação, Orientação Sexual, e especificamente abordada, reforçada, evidenciada, sempre que se avaliar necessário nos ambientes socioeducativos, em especial, nas famílias.

-A educação sexual deve ser iniciada nos primeiros anos de vida da criança e continuar durante todo processo de crescimento, desenvolvimento pessoal.

-Nenhum ambiente atuando sozinho (família, escola, espaços a serviço da criança e do adolescente) promove isoladamente a educação sexual e prevenção do tema em foco.

-Pais, educadores, instituições sociais e educacionais integram setores e intersetores responsáveis por esse processo.

Como então enfatizamos, a Prevenção da Gravidez na Adolescência e sua reincidência significa muito mais do que uma simples informação ou instrução a respeito dos fenômenos de reprodução humana (aspectos anatômicos, biológicos e fisiológicos) e gravidez. Significa um processo progressivo de orientação, referência, vínculo, respeito, afetividade, empatia, diálogo, escuta, etc. Assim como, de informação, contextualização social, cultural, individual, familiar, coletiva e comunitária – Uma questão de Saúde Púbica e de Proteção da Infância e Adolescência. Prevenção – MELHOR OPÇÃO!


Joseana de Oliveira Menezes Galvão – Médica com Pós-Graduação em Sexualidade,
Terapia Familiar Sistêmica, Problemas Relacionados ao Uso de Álcool e Outras Drogas, capacitadora do
programa Claves Brasil, e membro do conselho consultivo da Associação Lifewords Brasil.

Dando Voz aos Adolescentes na Pandemia

Dando Voz aos Adolescentes na Pandemia

A pandemia pelo novo Coronavírus tem provocando mudanças consideráveis na nossa sociedade de maneira global, sobretudo decorrente da necessidade do isolamento social, para a redução da proliferação do vírus. Esse é, sem dúvida, um tempo de muitas incertezas, temores e prudência, dado ao número de contaminados e perdas de mais de 1 milhão de vidas no mundo.

Querendo ouvir o que estão pensando e sentindo os adolescentes nesse tempo de pandemia fizemos uma conversa individual com 4 deles, de 3 países: Brasil, Venezuela e El Salvador. Eles têm idade entre 13 e 17 anos. Suas respostas nos surpreenderam, e pudemos compreender um pouco como a pandemia tem afetado seus sentimentos, relacionamentos familiares e de amizade, rotina, vida escolar e seus pensamentos quanto ao futuro. Você pode acompanhar as conslucões como nas respostas de *I.M. que descreveu seus sentimentos de forma bem direta ao ser perguntada sobre seu pensamento em relação ao tempo de pandemia:

Quando penso nesse tempo de pandemia sinto um desespero e ansiedade. Como se eu estivesse parada por muito tempo sem poder fazer nada. Minha rotina tem sido normal, porém mais cansativa. Tenho estudado mais durante o dia do que qualquer outra coisa… Acredito que o que mais mudou foi a minha disposição e determinação. Achei que seria mais complicado (ficar dentro de casa com a minha família). De vez em quando ocorrem alguns desentendimentos, mas são resolvidos rapidamente. Quando penso sobre o futuro, acho que é algo muito incerto mas sinto que vai ser totalmente diferente e mais corrido que antes. Acredito também que as pessoas estarão mais amáveis e calorosas.

Os adolescentes também relataram seus sentimentos de tristeza e estranheza em relação as suas atividades eclesiásticas e relacionamentos sem toque com os amigos. *T.C. disse estar “um pouco triste, porque não estamos indo à igreja como antes.” Mesmo assim, demosntra esperança ao declarar saber que “Deus tem uma saída pra nós.”

Quanto a ter notícias dos amigos, eu tenho contato com eles pelo celular. Às vezes eu desço do prédio e encontro duas amigas e ficamos conversando. Na igreja também os vejo. No começo foi estranho, por causa da máscara, depois foi bom, mesmo não podendo tocar. – afirma I.M.

Outro grande impacto descrito pelos adolescentes foi em relação a educação e o processo de aprendizado. Aos 17 anos, *G.M. tinha grandes expectativas para o ano escolar:

Quando penso nesse tempo de pandemia… é uma confusão de sentimentos, estou no meu último ano do Ensino Médio e com a pandemia todos os meus planos, que foram pensados desde o 7° ano, de viver o melhor ano escolar da minha vida, foram pelo ralo, então é meio frustrante… mas ao mesmo tempo ela me proporcionou um autoconhecimento que nunca teria alcançado se estivesse na rotina normal, e por isso talvez gratidão me defina. Estou tendo aula por meio de um aplicativo. Temos tido aula em horário normal (07h30 as 12h50). Tem sido horrível! (risos) Raramente consigo pegar o horário das aulas e acabo focando nas que foram gravadas pelos professores e nas atividades que eles mandam.

A resiliência encontrada nas falas dos adolescentes entrevistados também nos motivou a crer na esperança de novos tempos. *R.P. crê que a pandemia irá trazer “uma sociedade completamente diferente, pensando de maneira diferente.”

Quando penso no futuro sinto… Medo e uma pitada de ânimo, o mundo está meio que de cabeça para baixo, pensar no mercado de trabalho, faculdade, finanças e saúde mental enquanto tudo isso acontece é mega desesperador. Mas, ainda assim fico na esperança de que tudo vai melhorar e as coisas vão acontecer da melhor forma para mim! Está tudo incerto, mas há esperança, as cores mostram a esperança.

Declara I.M., que descreveu seu sentimento com o desenho feito por ela e que ilustra este relato: “Esse desenho é como se fosse uma pessoa que durante esse tempo passou por coisas difíceis e não conseguiu se reerguer ou lidar com isso. Mas as outras pessoas passam coisas boas, assim preenchendo o vazio com apenas um toque (que ainda não é possível cumprir). Acho que é isso.” – finaliza.

Foi uma experiência muito enriquecedora escutar os adolescentes. Eles se sentiram muito valorizados em saber que alguém estava interessando em ouvir o que pensavam e sentiam, ressaltando que de fato, não é uma atividade comum, quanto é necessária. Mesmo sendo de três realidades culturais diferentes, observamos que eles têm sentimentos e pensamentos muito semelhantes quando expressam o que tem vivido durante pandemia.

Animamos aos que lerem esse relato, que escutem os adolescentes de sua família ou os que estejam próximos, não somente em tempo de pandemia. Se tivermos a sensibilidade necessária, poderemos escutar com empatia o coração de cada adolescente e entender seus sentimentos, oferecer apoio aos que necessitam e também apreciar seu olhar sobre a vida, o mundo e sobre o futuro.

Esse relato é baseado no material apresentado no curso Sociologia da Criança, ministrado pelo Professora Dra. Silvana Bezerra Magalhães, como curso de extensão do CEFET, cujo grupo foi formado por: Carmen Ligia Ferreira de Andrade – Multiplicadora do Projeto Calçada, Cleisse Denise Ferreira de Andrade – Coordenadora do Projeto Calçada na América Latina  e Luciana Falcão da Silva – Coordenadora do Projetro Calçada no Brasil.

* I.M., mora em São Gonçalo/RJ, gênero feminino, religião cristã, pais divorciados. Mora com a mãe e seu esposo. O pai possui dois cursos superiores e a mãe possui o superior incompleto.

* T.C., 13 anos, vive em Acarigua, Venezuela. É do gênero feminino, religião cristã e tem o pai e a mã pós-graduando.

* R.P., vive em Ahuachapan, El Salvador. É do gênero masculino, religião cristã e tem o pai preso por violência doméstica e uso de drogas. A mãe é dependente química e os abandonou. Atualmente, ele mora com a tia, que possui curso superior.

*G.M., 17 anos, mora em São Gonçalo/RJ. Gênero feminino, religião cristã, pais divorciados, mas mora com a mãe e seu esposo. O pai possui dois cursos superiores e a mãe o superior incompleto.