Separação é uma palavra que incomoda. Quase sempre quem a vivencia, caminha no início com um semblante de tristeza ou de desilusão por algo que ficou pra trás, principalmente quando o assunto é relacionamento. Isso acontece, porque ao contrário de outras palavras como amar e gostar, que simbolizam união e caminhar junto, separar significa dividir, significa andar em direções opostas.
A dor dessa divisão não é sentida somente por aqueles que a decidem, mas também por aqueles que estão diretamente ligados a ela. Semelhante a um efeito dominó, a separação faz com que outras desuniões aconteçam. Aos 13 anos de idade, a jovem portuguesa, Paola, da cidade de Portimão sentiu na pele as dores desse processo ao ver o relacionamento de seus pais se desintegrar.
Dias após o término, sua irmã um pouco mais velha colocou a culpa nela pela separação. Esse episódio a machucou profundamente e fez com que Paola começasse a ficar mais calada e olhando constantemente para o chão. Na sua cabeça, se a culpa tinha sido dela pelo fim do relacionamento entre seus pais, se tornar invisível seria a melhor opção.
O descaso de sua mãe também era notório. Em uma determinada noite, quase que de madrugada, Paola decidiu ir à cozinha para pegar algo pra comer. Naquele dia, a única coisa que ela tinha se alimentado era um pedaço de pão velho e água. No caminho para a cozinha, sua mãe chegou em casa. Um pouco embriagada e notoriamente arrumada como se tivesse ido a um baile, a primeira coisa que saiu de sua boca para a sua filha foi: Vai dormir sua infeliz, isso não é hora de criança estar acordada.
Assustada, Paola voltou correndo pra cama. Seu esforço de acordar devargazinho para não acordar sua irmã agora tinha sido em vão. Antes de dormir, sua irmã virou pra ela e a amaldiçoou, dizendo que ela nunca deveria ter nascido e que se fosse chorar, era pra colocar a mão na boca, porque ela queria dormir sem barulho.
Paola estava abandonada. As vezes que se tornava visível para o mundo, que era a sua própria casa, era recebida com desprezo e raiva por aqueles que teoricamente deveriam ser a sua maior fonte de amor e carinho. No entanto, isso estava para mudar.
Em fevereiro de 2019, com a chegada do Projeto Calçada em Portimão, a educadora recém capacitada a amparou. Por meio do Bolsa Verde e do aconselhamento, a educadora conseguiu estabelecer uma conexão com Paola, de 12 anos de idade.
Logo no início da conversa, Paola se comparou a um copo de vidro. Lembrando do episódio em que tinha acordado de madrugada, a última coisa que ela tinha visto antes da sua mãe gritar com ela foi um copo de vidro na bancada da cozinha. Paola contou à educadora que se via como um copo, porque é um objeto que ninguém presta atenção, que não tem nada único, além de ser extremamente frágil.
Durante a conversa, a educadora explicava a Paola sobre alguém que a amava infinitamente e que queria que ela sempre fosse visível, Jesus. Ouvindo aquelas palavras, a jovem portuguesa começava a mudar seu semblante com um sorriso tímido de quem estava feliz com o que ouvia. No fim do aconselhamento, Paola já se comparava a uma ovelha, a alguém que é cuidada. Ela não cansava de repetir que Jesus iria ser pra sempre o seu melhor amigo e que nunca iria abandoná-la.
Hoje, Paola mora com seu pai e sua madrasta, a quem chama de mãe. É uma criança sorridente, cheia de vida e ânimo, do jeito que alguém da sua idade deve viver. A Bolsa Verde mais uma vez se mostrou efetiva em abraçar aqueles que mais precisam, levando amor e união por meio da palavra de Deus.
Escrita por Gabriel Chácara
*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.
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