Por Clenir Xavier
“Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro.” Sl 40:1
Um dia desses, como geralmente faço, estava conversando com as pessoas ao final do culto de domingo, aquele momento gostoso e descontraído, enquanto as crianças corriam pelos corredores, passando pelas pessoas e tornando o ambiente ainda mais familiar e alegre.
Notei uma garotinha de oito anos, um pouco mais quietinha do que o seu normal. Fiquei intrigada e me aproximei dela. Sentei ao seu lado e perguntei se estava bem, pois notara que não estava brincando com as outras crianças. A Tânia* me disse que se aproximava o dia dos pais e que não queria ensaiar no coral infantil nem cantar naquele dia, pois não conhecia seu pai. Sempre comemorava com seu avô, mas estava cansada de ser diferente dos outros. “Por que eu não posso ter um pai e ser feliz?”, perguntou a Tânia.
Quem poderia imaginar que a Tânia estivesse passando por uma crise tão profunda. Quantas crianças e adolescentes carregam em silêncio dores intensas. Na maioria das vezes quando estão em grupo, sorriem, correm, fazem graça, falam alto, mas só quando encontram alguém que realmente está disposto a ouvir, conseguem revelar o que se passa no seu íntimo.
Tive a oportunidade de conversar com a Tânia sobre o fato de que não conhecia seu pai, mas que Deus é um pai que nunca a abandonará, que sempre cuidará e que poderá fazê-la sempre feliz. E uma das formas do carinho de Deus foi dar a ela um avô tão carinhoso que a ama dobrado, como neta e como filha. A Tânia saiu dali convencida que é diferente sim, mas muito especial também.
Palavras tão simples que fizeram a diferença na vida da Tânia. Quantas vezes estamos tão satisfeitos com nossos amigos ou preocupados com nossos próprios interesses, que nos esquecemos das crianças que estão à nossa volta. Não precisamos ter curso de aconselhamento para ouvirmos o que a criança fala, e tampouco para compartilharmos o que Deus já tem feito na nossa vida. Muitas vezes não precisamos nem sair de casa para dar atenção a uma criança, e ao que ela sente e precisa falar. Mateus 18:10a nos alerta: “Cuidado para não desprezarem um só destes pequeninos!”
Precisamos ficar antenados, prestando atenção nas crianças e adolescentes, e nos colocando à disposição para ajudá-los a caminhar e enfrentar seus conflitos. Quem sabe assim, praticando aquilo que Deus faz conosco, conseguimos diminuir a taxa de depressão e suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10 e 14 anos que cresceu 40% de 2002 a 2012. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5% (Mapa da Violência do Ministério da Saúde). Simplesmente abrindo os nossos olhos para eles, nos inclinando e os ouvindo.
*Nome modificado para proteger a identidade da criança.
Clenir Xavier é Diretora Internacional do Projeto Calçada – Lifewords, Psicóloga, Assistente Social e Conselheira do CONANDA.
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