A missionária Hilda Dias da Silveira, que atua na ilha do Bananal, aldeia Macauba localizada em Tocantins/TO, compartilhou um pouco da experiência de atuar com crianças indígenas.
Iniciei o trabalho na região no dia 20 de janeiro de 1983, pois ouvia muito sobre o trabalho ali e decidi ser missionária naquele lugar. A primeira dificuldade que enfrentei foi o desconhecimento da cultura, costumes e a língua do povo.
Hoje conhecendo mais do povo Carajás, da aldeia onde atuo, a dificuldade é a falta de missionários, visitas raras para ajudar no trabalho. Eles são um povo que apreciam visitas.
O trabalho com as crianças
O trabalho com as crianças têm bastante relevância pois no costume Carajá as crianças são o bem uterino. Para iniciar o trabalho com as crianças indígenas deve-se conhecer a cultura, o costume e língua do povo.
Quando eu já me comunicava bem com as crianças, contei a elas a respeito do poder de Deus e comecei a falar sobre ressurreição. Contei que Deus é poderoso, que não há poder igual o de Deus, não há um ser igual a Deus. Como Carajás, eles têm medo da alma daquele que morre, pois acreditam que quando a pessoa morre, após três dias ressuscitam e voltam às casas, com isso ficam sempre atemorizados. Então falei para as crianças que após o falecimento de alguém, não precisavam ter medo do morto, porque o morto não volta. Expliquei o poder de Deus e falei que nós temos um inimigo, como eles já conheciam a história eu apenas relembrei a história do inimigo que desafiou a Deus e foi lançado no lago de fogo e que esse inimigo quer fazer de tudo para destruir o homem “para o homem ir para o lago de fogo junto de satanás e não ficar com Deus.”
Disse que esse é o desejo dele, que veio para matar e destruir o que Deus criou, o homem que Deus ama tanto. E aí falei que ele engana as pessoas, então quando alguém morre, ele engana fazendo com que eles ouçam barulhos e vozes para que sintam medo. Então falei que eles não precisam acreditar em fantasmas, que eles chamam na linguagem deles de uni, falei que o uni, o satanás, os engana, fazendo barulhos, derrubando coisas… Esses são relatos que me contam quando morre alguém, eu disse que é o inimigo das nossas almas que faz tudo isso para amedrontá-los.
Passaram-se alguns dias e eu encontrei um menino com seus 11 anos de idade pescando lá longe no rio e sozinho na canoa. O nome dele era Melque* e eu fui até ele e falei: Melque, você está sozinho aqui no rio? Sem nenhuma companhia, nenhum amiguinho? Pescando.. você não tem medo? Quando eu falei medo eu pensei em animais peçonhentos, ou até mesmo aquele peixe piranha que corta o dedo da pessoa, de repente a pessoa pesca e pode dar um corte, esse tipo de medo. E ele me respondeu: Não, Hilda, eu não tenho medo, porque uni não existe… é satanás que quer enganar as pessoas e eu não tenho medo, porque eu creio em Deus. Achei isso muito bonito e interessante, porque ele entendeu muito bem a palavra de Deus.
*nome fictício para proteger a criança
Hilda Dias da Silveira,
missionária na Aldeia Macauba
Esteja em oração pela vida dos missionários que atuam em aldeias indígenas para que mais crianças e adolescentes sejam livres do medo.
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