Era pouco depois da meia-noite quando um forte barulho na parede do quarto 18 acordou a maioria dos companheiros de quarto de Riko. Após noites em claro e atormentado por pesadelos da sua infância, Riko não conteve sua raiva e deu um soco na parede. Um de seus colegas, assustado com a situação, decidiu chamar Dara, uma das supervisoras do orfanato Medan, que fica localizado na região da Sumatra, Indonésia.
A história de Riko é marcada por constantes lutas, dessas que parecem revoltantes e injustas de acontecerem com qualquer um, especialmente com crianças. Ainda pequeno, viu sua mãe sair pra trabalhar e nunca mais voltar. Alguns anos mais tarde, para piorar a situação, viu seu pai ser acometido por uma doença e falecer.
Esses episódios o marcaram profundamente. Pra lidar com a perda de sua mãe, mesmo ainda bem jovem, Riko roubava dinheiro da carteira do seu pai pra beber. Por conta disso, seu comportamento com as mulheres tinha passado a ser agressivo, as via com desprezo e muita raiva. Além desse sentimento de abandono, Riko se sentia culpado pela morte do seu pai. O dinheiro que ele roubou por tanto tempo fez falta na hora do tratamento de saúde do seu pai. Quando Dara chegou no quarto e viu Riko sentado no chão com a cabeça entre seus joelhos e chorando bem baixinho, seu coração ficou apertado. Aquele momento trouxe a memória de Dara a primeira vez que ela o conheceu, ainda bem novo, com seus 15 anos e sentado na porta do orfanato.
Dara pediu a todos que voltassem a domir enquanto se dirigia a Riko, agora, já com seus 23 anos. Riko se sentia envergonhado, ele era o mais velho do orfanato e chorar era o mesmo que se sentir fraco ou vulnerável. Naquela noite, Dara o ouviu e o consolou por alguns minutos e disse que conversariam melhor no outro dia.
Logo na manhã seguinte, ela o chamou pra dar uma volta pelo orfanato e contar pra ela em mais detalhes o que tinha acontecido em seu sonho. Algumas semanas antes do ocorrido, Dara tinha sido capacitada pelo Projeto Calçada e sentiu em seu coração que aquela era uma boa hora de colocar em prática o que tinha aprendido.
Ao longo da conversa, Riko disse que via em seu sonho uma mesa com várias coisas em cima. A mesa balançava, mas não quebrava. A essas alturas, sentados num banco recostados na parede do prédio, Riko começava a lembrar o que estava em cima da mesa e a chorar, a maioria de suas lembranças eram suas dores do passado que ele nunca tinha superado, principalmente a morte de seu pai.
Nesse momento, usando o aplicativo Bolsa Verde no tablet que carregava consigo, Dara contou a história de quando Jesus curou um paralítico. Ao final da história, Riko parecia outra pessoa. Estava alegre, leve e feliz que Jesus o amava e que o perdoava de todos os seus pecados.
Depois daquela conversa inspiradora, Riko caminhava de volta ao seu quarto. Ele queria um tempo pra refletir sobre tudo aquilo que tinha acabado de nascer em seu coração. Durante seu trajeto, começou a chover para a alegria de todas as crianças do orfanato. As crianças amavam a chuva, gostavam de se molhar e de se refrescar, era nítido como o simples fato da chuva podia mudar o humor de todos. A alegria e a risada delas tomou conta do coração de Riko. Durante sua reflexão, ele pediu a Deus pra ser como a água, alguém que traz refrigério pras pessoas, alguém que traz a transformação.
Hoje, Riko já não vive mais no orfanato. Entregou sua vida a Jesus e há pouco tempo ligou pra Dara pedindo oração pra começar um curso de teologia. Quando conta sua história de conversão, Riko costuma dizer que o seu choro no quarto e a chuva são a perfeita metáfora da transformação do evangelho. A água que saiu de suas lágrimas simboliza a manifestação da dor que já não cabe mais na alma, mas a água da chuva simboliza um novo começo, é a água que vem dos céus, um presente de Deus, a verdadeira alegria.
Escrita por Gabriel Chácara.
*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.
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