O menino de olhos atentos

O menino de olhos atentos

“Com apenas seis anos de idade, minha vida já tinha tido sofrido algumas mudanças. Recentemente, havia me mudado para um lugar que abriga crianças que tinham passado por situações familiares difíceis e precisavam ficar ali, assim como eu. Eu era pequeno, não parava quieto e observava tudo.

Um dia, pouco tempo depois de ir morar no abrigo, uma mulher veio me contar algumas histórias. Ela fez várias perguntas e eu quis responder todas elas, porque a moça me tratava de um jeito muito bom, com atenção e cuidado. Eu disse para ela que, depois de viver aquelas coisas difíceis, me sentia como um cachorro, porque meu filhotinho tinha morrido e eu havia ficado muito triste sabendo que ele estava sofrendo. Depois, ela me contou a história de um menino que parecia muito a minha história. Ele também tinha sofrido e se sentido mal, mas ele ouviu sobre um homem chamado Jesus que disse que o amava e o abençoou e, com isso, aquele menino passou a se sentir melhor.

No final da conversa, a mulher me deu um cartãozinho que tinha a figura de duas mãos protegendo uma criança, e eu, assim como aquele menino, me senti melhor e entendi que nas mãos de Deus eu não vou me perder.”

Os enormes olhos de Jonathan revelavam muitos sentimentos e observavam todos os detalhes das histórias, enquanto eu o atendia com a Bolsa Verde. Quando entreguei o cartão de bolso que ele escolheu, esses olhos ternos pareceram ter ficado menores por causa do grande sorriso que abriu.

Ele era um menino ativo e até fazia travessuras, mas também era muito dedicado nos estudos, o que lhe permitiu recuperar o aprendizado com a ajuda dos seus professores e da família que encontrou nos responsáveis ​​pela Casa Hogar del Niño de Acapulco, abrigo onde ele morava. O professor que lhe deu aulas de inglês nos primeiros anos do primário ficou surpreso quando observou que Jonathan, sem que ninguém sugerisse, sempre ia para um cantinho para ler sua Bíblia sozinho.

Nos anos que se seguiram, entre artes e travessuras, ele cresceu com seus olhos atentos, sempre observador, fazendo perguntas engraçadas e inteligentes, como se estivesse explorando tudo. Entre a escola e o futebol, não se sabia por qual era mais apaixonado. Todos os dias a quadra de futebol o puxava como um ímã, como se lá ele tivesse que marcar o cartão de ponto. Jonathan jogava futebol a tarde toda, chutando e chutando. Com suas luvas de goleiro, reunia cinco meninos e os ajudava a treinar os chutes, um a um, jogando a bola para ele agarrar.

No silêncio, Deus fez a fé desse seu pequeno filho crescer, com o apoio diário da Casa Hogar, a sua casa, cumprindo sua promessa de que "Assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.” (Isaías 55:11 NIV)

Há um ano, já um adolescente e com uma cara muito séria, me pediu para fazer o teste de Orientação Vocacional. Foi emocionante vê-lo terminando o ensino médio e já querendo confirmar o que ele mais gostava. Seu retorno nas idas ao mercadinho era ansiosamente esperado pelos meninos e meninas da Casa, porque sabiam que ele lhes traria um refrigerante e os doces que eles adoravam, sempre mostrando um coração generoso.

No início deste ano, ele decidiu ir morar com a avó, quem o havia levado para viver no abrigo, e quem sempre acompanhava o seu desenvolvimento. Alguns meses atrás, quando sua tia faleceu, ele disse à mãe que quando ele morresse gostaria de ter um velório cristão. Ele não imaginava que esse dia chegaria tão rápido. Pouco tempo depois ele foi se encontrar com Deus, tendo somente 15 anos, vítima de um acidente de trânsito. O velório foi como ele desejava, com leitura da Palavra e canções
inspiradoras.

Todos nós que o conhecemos o imaginamos feliz, jogando na quadra de futebol celestial. Seus enormes olhos atentos, certamente, agora revelam emoções diferentes daquelas que sentia quando o encontrei pela primeira vez, aos seis anos de idade. Consigo imaginá-los ficando pequenininhos com o sorriso em seu rosto, sendo observado de perto pelo Pai, que se alegra com seu amado filho Jonathan.

Sou imensamente agradecida aos criadores da Bolsa Verde por essa ferramenta extraordinária. O primeiro encontro de Jonathan com o Deus da Bíblia, em um dos momentos mais difíceis de sua infância, deu-lhe a garantia, em seu coração pequeno e receptivo, de que ele nunca se perderia nas mãos de Deus.


Escrita por Beatriz Bastos e a educadora Margarita Rosa González Juárez, México.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

A História de Riko

A História de Riko

Era pouco depois da meia-noite quando um forte barulho na parede do quarto 18 acordou a maioria dos companheiros de quarto de Riko. Após noites em claro e atormentado por pesadelos da sua infância, Riko não conteve sua raiva e deu um soco na parede. Um de seus colegas, assustado com a situação, decidiu chamar Dara, uma das supervisoras do orfanato Medan, que fica localizado na região da Sumatra, Indonésia.

A história de Riko é marcada por constantes lutas, dessas que parecem revoltantes e injustas de acontecerem com qualquer um, especialmente com crianças. Ainda pequeno, viu sua mãe sair pra trabalhar e nunca mais voltar. Alguns anos mais tarde, para piorar a situação, viu seu pai ser acometido por uma doença e falecer.

Esses episódios o marcaram profundamente. Pra lidar com a perda de sua mãe, mesmo ainda bem jovem, Riko roubava dinheiro da carteira do seu pai pra beber. Por conta disso, seu comportamento com as mulheres tinha passado a ser agressivo, as via com desprezo e muita raiva. Além desse sentimento de abandono, Riko se sentia culpado pela morte do seu pai. O dinheiro que ele roubou por tanto tempo fez falta na hora do tratamento de saúde do seu pai. Quando Dara chegou no quarto e viu Riko sentado no chão com a cabeça entre seus joelhos e chorando bem baixinho, seu coração ficou apertado. Aquele momento trouxe a memória de Dara a primeira vez que ela o conheceu, ainda bem novo, com seus 15 anos e sentado na porta do orfanato.

Dara pediu a todos que voltassem a domir enquanto se dirigia a Riko, agora, já com seus 23 anos. Riko se sentia envergonhado, ele era o mais velho do orfanato e chorar era o mesmo que se sentir fraco ou vulnerável. Naquela noite, Dara o ouviu e o consolou por alguns minutos e disse que conversariam melhor no outro dia.

Logo na manhã seguinte, ela o chamou pra dar uma volta pelo orfanato e contar pra ela em mais detalhes o que tinha acontecido em seu sonho. Algumas semanas antes do ocorrido, Dara tinha sido capacitada pelo Projeto Calçada e sentiu em seu coração que aquela era uma boa hora de colocar em prática o que tinha aprendido.

Ao longo da conversa, Riko disse que via em seu sonho uma mesa com várias coisas em cima. A mesa balançava, mas não quebrava. A essas alturas, sentados num banco recostados na parede do prédio, Riko começava a lembrar o que estava em cima da mesa e a chorar, a maioria de suas lembranças eram suas dores do passado que ele nunca tinha superado, principalmente a morte de seu pai.

Nesse momento, usando o aplicativo Bolsa Verde no tablet que carregava consigo, Dara contou a história de quando Jesus curou um paralítico. Ao final da história, Riko parecia outra pessoa. Estava alegre, leve e feliz que Jesus o amava e que o perdoava de todos os seus pecados.

Depois daquela conversa inspiradora, Riko caminhava de volta ao seu quarto. Ele queria um tempo pra refletir sobre tudo aquilo que tinha acabado de nascer em seu coração. Durante seu trajeto, começou a chover para a alegria de todas as crianças do orfanato. As crianças amavam a chuva, gostavam de se molhar e de se refrescar, era nítido como o simples fato da chuva podia mudar o humor de todos. A alegria e a risada delas tomou conta do coração de Riko. Durante sua reflexão, ele pediu a Deus pra ser como a água, alguém que traz refrigério pras pessoas, alguém que traz a transformação.

Hoje, Riko já não vive mais no orfanato. Entregou sua vida a Jesus e há pouco tempo ligou pra Dara pedindo oração pra começar um curso de teologia. Quando conta sua história de conversão, Riko costuma dizer que o seu choro no quarto e a chuva são a perfeita metáfora da transformação do evangelho. A água que saiu de suas lágrimas simboliza a manifestação da dor que já não cabe mais na alma, mas a água da chuva simboliza um novo começo, é a água que vem dos céus, um presente de Deus, a verdadeira alegria.


Escrita por Gabriel Chácara.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

“Eu achava que ninguém se importava comigo, mas estava enganada.”

“Eu achava que ninguém se importava comigo, mas estava enganada.”

Meu nome é Olívia e hoje quero te contar a minha história. Eu sou de Cabo Verde, na África. Cresci numa família muito desestruturada, meus pais se separaram logo após meu nascimento e, com isso, minha mãe assumiu sozinha a criação das filhas. Ela trabalhava muito e estava sempre ausente, eu cresci com uma carência materna e paterna muito grande. Apesar de estar sempre com minhas cinco irmãs, senti um vazio imenso e, mesmo criança, eu não queria viver. Nós passávamos muitas dificuldades financeiras e muitas vezes éramos desprezadas pelos vizinhos e colegas de escola.

Eu morava em uma comunidade que ficava em um morro, cheio de becos e vielas. Todos os dias eu via uma mulher descendo as ruas carregando uma bolsa verde com uma flor vermelha. Aquela bolsa me chamava muita atenção, mas eu não tinha coragem de ir falar com a mulher, mesmo quando ela me olhava e sorria para mim. Até que um dia resolvi ir até ela e perguntei, branca, o que tem nessa bolsa que você não larga pra nada. Ela me explicou, com muita atenção, que para saber eu deveria ir até um projeto que ficava ali perto.

Eu fui pontual. Na hora exata marcada, estava lá. Aquela moça, a missionária Carmen, me contou histórias lindas e parou para me ouvir de uma forma que ninguém nunca tinha ouvido. Eu abri meu coração para contar as minhas histórias tristes e para receber calma e transformação. Quando terminamos nossa conversa, eu estava muito diferente, me sentia melhor em relação a mim mesma e aos outros, conheci Jesus. A missionária me disse que eu poderia voltar sempre que sentisse algo ruim ou precisasse conversar. Eu passei a ir naquele lugar todos os dias. Cada vez contava sobre uma dor diferente e ouvia mais sobre Deus. Foi nesses encontros que eu entendi o amor Dele por mim, foi um processo de cura, me livrando de todo sentimento de abandono, complexo de inferioridade e falta de confiança. Desde o primeiro dia, quando ouvi as histórias com aquelas figuras bonitas, passei a confiar em Deus e nas suas promessas.

Depois de bastante tempo nessa caminhada, agora já adulta, estava mais uma vez naquele projeto perto da minha casa, onde, quando criança, fui durante tantos dias para falar sobre as minhas dores. A Carmem já tinha ido embora há alguns anos, mas uma outra missionária brasileira veio para ajudar e contar histórias para as crianças. Ela começou a contar uma história usando algumas figuras e eu comecei a chorar na hora.

Eu já tinha visto aquelas figuras antes! Eu as vi quando era uma criança com problemas de inferioridade, abandono e confiança. Foi com elas que conheci Jesus. Mas agora, anos depois, via aquelas mesmas figuras em uma posição totalmente diferente: me tornei professora das crianças do projeto e, da porta da sala, podia vê-las sendo impactadas como eu havia sido. Agora via de fora algo que, há anos atrás, aconteceu dentro de mim, tudo através daquela mesma Bolsa Verde.

Cristo entrou em minha vida e transformou minha alma triste em uma alma alegre; uma menina que não tinha gosto pela vida, em uma mulher que ama viver e usa sua vida para abençoar outros. Hoje eu sou a única da minha família que terminou a universidade e que está firme no Senhor. Sou professora e missionária, lidero o grupo de jovens da minha igreja, tenho vários trabalhos de evangelismo e de discipulado, terminei recentemente um curso de missões urbanas para continuar servindo melhor a Deus no meu país. O meu passado ficou para trás, hoje sei que o que realmente importa é como vamos terminar, não como começamos, porque o mais importante na nossa vida é terminar vivendo com Ele e para Ele.

Quando criança, eu achei que ninguém se importava comigo, mas estava enganada. Um dia, escutando histórias que saíam como mágica de dentro de uma Bolsa Verde, eu fiz uma escolha que me deu um futuro que eu pensava ser impossível. Eu escolhi a Deus, eu escolhi ser feliz!


Escritar por Beatriz Bastos.

“Se aconteceu comigo, se mudou a minha história, pode mudar a história de muitas pessoas”.

“Se aconteceu comigo, se mudou a minha história, pode mudar a história de muitas pessoas”.

Era setembro de 2003 e poderia ser um dia normal de atividades no projeto social. Mas, para Jessica, sua vida mudaria de uma forma que os resultados da transformação seriam notórios por toda sua vida.

Deixe-me apresentar Jéssica, uma menina de 9 anos, que viveu grande parte da sua infância numa região violenta da cidade de Niterói (RJ). Recorrentes tiroteios e ações da polícia traziam uma sensação de estar sempre se escondendo de algum perigo e até mesmo com medo da morte. Além disso, a pequena menina presenciava adultos bêbados, gritarias e desprezo dos mais velhos para com os mais novos. Tais situações e sentimentos tornaram-se cotidianos para uma menina que desconhecia outra realidade.

No entanto, os dias de Jessica tinham mais esperança com as atividades no projeto social. Foi lá que ela conheceu a educadora do Projeto Calçada, Ana, que também era sua professora de reforço escolar. Ana percebeu a situação de tristeza em Jéssica e a convidou para ser aconselhada com a Bolsa Verde. Um pequeno convite para ouvir uma história, que transformaria a visão de si mesma e do mundo a sua volta.

Após uma breve introdução, Ana deixou Jéssica bem à vontade para dizer seus medos, suas tristezas, e como se sentia e se via diante de todo um cenário tão estarrecedor. E foi nesse momento de compartilhar que Jéssica confessou à Ana que se sentia como um rato acuado. Ela não tinha condições de se comparar à outra coisa. Ela se via, se sentia e, de fato, se comportava como se fosse um rato que foge, que se esconde pelos cantos, com medo.

Ainda durante o aconselhamento, no momento da oração, Jéssica chorou muito, mas confiante, pediu a Deus para se mudar do lugar onde morava. Ana, em seu coração, achou difícil que isso acontecesse, a realidade não apontava nenhuma possibilidade de mudança, e ela se preocupou com a possível frustração que poderia atingir a menina se aquele pedido não fosse atendido. Contudo, manteve sua preocupação para si e não expressou à Jéssica.

Para fortalecer a fé da pequena Jéssica e trazer à memória a esperança para a Ana, Deus ouviu a oração da criança. Dois meses depois da conversa com a educadora, a mãe da menina passou por situações difíceis por conta da violência do local e foi obrigada a mudar-se de lá. Com a ajuda de conhecidos de fora da comunidade, Jéssica se mudou para um lugar menos violento, junto com sua família.

Jéssica deixou aquele rato acuado para trás e seguiu sendo uma menina calma. Não que ela não perdesse mais a paciência ou que não se sentisse temerosa diante das dificuldades. Mas, agora, ela sabia que não estava mais sozinha, pois tinha Jesus ao seu lado para ajudá-la a se defender diante dos desafios da vida.

A menina cresceu e aprendeu que é possível mudar realidades de outras pessoas. Jovem, resolveu cursar Direito para defender outras crianças. Hoje é uma jovem segura e cheia de conquistas. Jéssica, agora casada e mãe de dois filhos, formada, encara a oportunidade de olhar para o passado. O tempo passa, mas sempre que Jéssica relembra do aconselhamento com a Bolsa Verde tem a certeza da mudança em sua vida. Ela pôde declarar que aquele momento foi especial, único e transformador: “se aconteceu comigo, se mudou a minha história, pode mudar a história de muitas pessoas”.


Escrita por Juliana Gonçalves e Beatriz Bastos.

A Ovelha Perdida

A Ovelha Perdida

A pandemia do coronavírus trouxe uma nova realidade, a do isolamento social. Todos temos lidado com isso, em especial aqueles que estão infectados com a doença, que ficam preferencialmente em um quarto, sem contato com as pessoas, sem pode tocar e nem ser tocado. Não poder partilhar da vida social em família e ficar confinado exige um rigor muito grande, um cuidado para não contagiar outras pessoas da casa. É sem dúvida um tempo estressante, doído, avassalador, ainda mais para as pessoas que gostam dessa convivência; todo mundo gosta na verdade, porém alguns mais e outros se satisfazem com um pouco menos. De qualquer forma é um tempo difícil, um tempo de saudade de se estar perto, mas por precaução e amor é preciso ficar longe. Temos ouvido das pessoas o quanto tem sido difícil ficar em isolamento e não é incomum surgir um sentimento de rejeição. Por prudência, mas também por medo, as pessoas se afastam.

Há uma história na Bíblia, uma das histórias da Bolsa Verde, que fala sobre uma ovelha que também esteve só e isolada em um determinado momento da vida. É uma história que Jesus compartilhou com as pessoas e queremos aqui refletir com você. Ela está no livro de Mateus 18:12-14.

Jesus narra o amor de um pastor pelas ovelhas, que, mesmo tendo cem, ao perder uma não se conforma, embora tivesse ainda noventa e nove ovelhas. Isso porque aquela ovelha tinha importância para ele. Ele tinha afeição pela ovelha, ele a amava; conhecia pelo nome e sabia o quanto que ela poderia estar se sentindo triste, os perigos que ela corria longe dos seus braços. Longe dos cuidados dele e das outras ovelhas, poderia estar se sentindo sozinha, triste, isolada. O pastor então, de forma muito rápida e arriscada, deixa as noventa e nove pastando naquele lugar e vai em busca da perdida.

Algumas pessoas acham que o pastor primeiro levou as outras ovelhas para o aprisco e depois foi em busca da perdida. Mas a Bíblia nos fala que ele deixa as noventa e nove ali pastando e vai atrás da ovelha que se perdeu, pois ela sofreria muito por estar sozinha e corria maiores perigos sem quem a protegesse. Ele foi atrás imediatamente, não demorou. Ele foi atrás porque aquela ovelha era importante, a Bíblia diz que ele procurou até encontrar. Muito maior alegria havia no coração dele por aquela ovelha que ele achou do que pelas noventa e nove que estavam seguras.

É bem interessante o sentimento que o pastor teve ao encontrar a ovelha, deixando claro a importância que ela tinha para ele. Imagine você como aquela ovelha se sentiu quando foi encontrada, em saber que alguém se importou, alguém foi ao seu encontro, empreendeu esforços para encontrá-la e a alegria de saber que não estaria mais solitária.
Essa é uma história de amor incrível e tem uma aplicação muito linda! Ao final da história Jesus afirma que: não é da vontade de Deus que nenhum dos seus pequeninos se perca. (14).

Você que está em isolamento, seja ele qual for, com muitas restrições que são importantes de serem seguidas, mas que causam um efeito no coração muito doído; você não está sozinho. Há uma pessoa que pode entrar no seu quarto, na sua casa. Há uma pessoa que pode chegar até você. Há uma pessoa que pode sentar do lado da sua cama, segurar a sua mão e dizer: olhe para mim, você pode falar o que está no seu coração porque eu estou ouvindo e interessado em saber como está seu coração. porque eu me importo com você. Eu vim até aqui porque eu me importo com você.

Jesus hoje está entrando no seu espaço, onde você está. Ele está entrando na sua casa, com passos tranquilos, mas firmes, indo para dentro do quarto onde você se encontra. Ele abre a porta e sorri para você. Ele te abraça, te acolhe e diz que você não precisa ter medo que ele está ao seu lado, que não precisa se sentir sozinho porque ele está contigo. É o Deus pessoal, o Deus Emanuel, o Deus que se fez carne para habitar entre nós (Jo 1.14). Ele sabe o valor de uma boa companhia e você hoje pode desfrutar da companhia dele, pode falar para ele o que está no seu coração, o que o inquieta, o que amedronta você. Como aquela ovelha que poderia ter tantos medos: do lobo, do penhasco, do frio, da fome, tantos outros medos e você, certamente, também tem os seus. Fale agora para ele. Ele é o pastor que pode proteger você, que o encontrou. Ele ficará ao seu lado o tempo que necessitar ficar em isolamento social. Jesus permanecerá com você. Ele prometeu. (MT28.20).

Aconselhamento Virtual

Aconselhamento Virtual

Com o isolamento social, medida que temos adotado em combate ao coronavírus, os educadores capacitados pelo Projeto Calçada estavam impedidos de realizar aconselhamentos. As brincadeiras e histórias da Bolsa Verde sempre foram contadas pessoalmente, numa conversa muito especial, mas esse tempo de quarentena pedia uma nova solução. Por isso, assim como nos reinventamos na criação do aplicativo da Bolsa Verde, mais uma vez decidimos inovar, agora com os aconselhamentos virtuais. É uma realidade bem diferente da que estamos acostumados, mas resolvemos encarar o desafio.

Para ter certeza de que o atendimento online teria um efeito positivo, realizamos uma testagem, entre os dias 17 ao 29 de abril. Foram 20 aconselhamentos em três países diferentes. Nós mantivemos nosso público alvo: a maioria dos atendidos se encontrava em alguma situação de risco ou até mesmo infectados pelo coronavírus. De todos eles, apenas um já havia sido atendido pessoalmente, para os outros, esse foi o primeiro encontro com a Bolsa Verde. 90% das educadoras consideraram o atendimento eficaz, e a taxa de melhora da autoestima nesses encontros foi a mesma dos encontros presenciais, 95%!

“Quando vi essa taxa tão alta eu cheguei a duvidar, não esperava que seria tão bom. Avaliei muito cada detalhe para ter certeza de que era isso mesmo, e é! Com esses resultados não poderíamos ter outra atitude, a não ser liberar os atendimentos virtuais. Estamos muito felizes”, comentou Clenir Xavier, diretora internacional do Projeto Calçada.

Durante a testagem, a grande maioria dos traumas compartilhados tinham relação com abuso sexual, doença ou luto. Isso mostra como os aconselhamentos são importantes e podem ter uma aplicação especial durante a quarentena.

Os encontros online poderão ser realizados pelos educadores capacitados para usar o aplicativo da Bolsa Verde (com crianças que tenham acesso à internet, o que descobrimos não ser tão raro para muitas famílias da zona urbana). Podem ser atendidas crianças a partir de nove anos, sem limite de idade. Há algum tempo já temos percebido que nossa metodologia também tem efeito transformador nos adultos e acreditamos que ela pode ser um instrumento muito importante nesse tempo.

Nós continuaremos avaliando os resultados dos aconselhamentos virtuais durante a pandemia, e se mantiverem positivos, poderemos no futuro alcançar pessoas em outras situações de isolamento, como casos de internação hospitalar em geral.

Luciana Falcão, coordenadora do Projeto Calçada no Brasil, durante testagem do aconselhamento virtual. A foto da criança é ilustrativa.

A LUTA PELO LUTO

A LUTA PELO LUTO

“Chorai com os que choram…” Romanos 12.15

A pandemia que estamos enfrentando nos tem feito experimentar algo que nunca havia sequer passado pelas nossas mentes ser possível: não poder velar e sepultar os nossos mortos. Participei de dois velórios durante este tempo de isolamento social. Testemunhei a dor da perda ser sublimada pelo medo. No lugar dos abraços, acenos com a cabeça. Pela primeira vez em minha vida vi as condolências serem abafadas pela máscara higiênica.

Rápido, controlado e frio. Assim são os velórios em tempo de quarentena. Muito semelhante aos tempos de guerra, que ouvimos muitas vezes nossos avós nos contarem. Ouvi histórias de rasgar o coração neste tempo de enfrentamento do coronavírus. Pais que não puderam se despedir de seus filhos. Cônjuges que não conseguiram dar o último beijo. Abraços interrompidos. Declarações de amor suspensas. Luto cruel.

Enquanto escrevo, minha mente é invadida pelas histórias da Bíblia. Jesus chorando a morte de seu amigo de quem não pôde se despedir. Comovido pela dor de Marta e Maria. Compadecendo-se plenamente na alma. Identificando-se profundamente com o aflito. Ninguém deveria enfrentar a morte de quem ama sem a dignidade de poder se despedir. Eu sei que há várias culturas que enxergam a morte com outros olhos, mas o ocidente chora e chora muito, porque dói demais a separação de quem nos é querido. Eu sei por que já velei meus mortos. Tive liberdade para chorá-los. Tive tempo pra recordar histórias. Ouvir palavras confortadoras. E acompanhar o cortejo silencioso até o sepulcro.

Tempos difíceis.

Para você que chegou comigo até aqui e que sabe exatamente do que eu estou falando por ter vivido esta tragédia quase insuportável, meus sentimentos e meu total respeito por sua perda. Queria poder invadir sua mente e seu espírito e enchê-los de paz nesse instante. Queria ordenar à saudade que não te machucasse mais. No entanto você e eu sabemos que não posso fazer nada disso. Me cabe então sugerir. Só sugerir.

Viva um dia por vez. Ponha pra fora essa angústia. Um passo de cada vez. Devagar. Não tenha pressa. Lute com calma pelo teu luto que não foi permitido. Não se culpe. Não se esconda. Feche os seus olhos, respire bem fundo e concentre-se nas preciosas memórias que te trazem alegria. Então seja grato. A gratidão é a melhor de todas as despedidas. Ela pode ser percebida no olhar. Num sorriso. Num suspiro.

Não é uma receita. É um desejo. Uma oração. Pra que você encontre a paz que todo teu ser quase exige pra sobreviver. Jesus sabe o que é isso. Ele também chorou. E acredito que esteja chorando ao seu lado por te ver sofrer.

Confie sua dor a Ele. Tente.

Com amor, lágrimas e esperança de que seus dias sejam cheios de graça e bondade, me despeço na certeza de que Deus fará por você, por mim e por nós muito mais do que sequer imaginamos.

Marcos Davi Ferreira de Andrade

Casado com Andréa Andrade desde 1993, pai de Giovanna e Arthur e Davi. Formado em bacharel em teologia pelo Centro de Estudos Teológicos dos Vale do Paraíba, pós graduado em Filosofia pela Faculdade de Ciências Sociais Fênix de Brasília e mestrado em estudos bíblicos pela ABECAR em Mogi das Cruzes. Pastoreia a Igreja Batista no Jardim das Indústrias, mantenedora do Projeto Calçada e parceira em aconselhamento com a Bolsa Verde.

O coronavírus pode ficar do lado de fora!

O coronavírus pode ficar do lado de fora!

“A Sofia bate no irmãozinho menor, que começa a chorar. Ela, então, cheia de frustração, joga com força seu próprio brinquedo, e ele se quebra – aí, quem começa a chorar super alto é ela. A mãe vem correndo e se agacha surpresa perto da Sofia, para ver o que está acontecendo, e leva um tapa da filha. A mãe se desequilibra e cai para trás…. E começa a chorar também.”

(mais…)

O menino que quer ser um missionário.

O menino que quer ser um missionário.

Relato de uma educadora.

Há aproximadamente um ano tenho acompanhado Paulo mais de perto. Nesse tempo, tenho me surpreendido com como ele está crescendo e descobrindo seus dons e talentos. Há duas semanas visitei sua casa. Ele me mostrou orgulhoso a mochila que ganhara da igreja. Dentro estavam seus cadernos, lápis e outros objetos no estojo. Paulo estava preparado para voltar às aulas, confiante, sentindo-se amado e valorizado.
Às vezes ainda me surpreendo com como um aconselhamento bíblico pode ajudar tanto uma criança! Nesse período de um ano, ele foi aconselhado três vezes com a Bolsa Verde. Paulo compartilhou seus medos e pesadelos. Em um deles, falou das vezes que apanhou de sua mãe, especialmente quando a mesma estava nervosa. No decorrer deste aconselhamento, ele disse que a perdoava. Ele reconheceu suas próprias falhas e disse que sua mãe havia lhe pedido perdão e declarou que não queria mais bater nele. Não foi à toa que ao final do aconselhamento ele entendeu o amor e o perdão e disse que se parecia com “Deus que ama as pessoas”. Eu vejo o Paulo mais confiante, sem aquela vergonha e tristeza que percebia em seus olhos.
Paulo, que antes tinha o desejo de aprender a ler, agora lê muito bem as histórias na Bíblia. Ele aprendeu a procurar e marcar os textos que tocam seu coração. Nesta última visita, sua mãe me contou que ele mudou muito. Pontuou que o menino aprendeu a ler e sempre lê a Bíblia; ora com ela e a incentiva a orar; está muito bem na escola, em casa e com os amigos. Ele faz tudo que pode para estar nos cultos da igreja, especialmente na Escola Bíblica Dominical e no culto infantil. Paulo até brinca de culto com os seus sobrinhos! Eles são os pastores e Paulo o missionário.
Missionário é o que Paulo quer ser quando crescer. Nem se deu conta que já é! O pequeno já incentiva a mãe e a faz levar dois sobrinhos e uma sobrinha para o culto. Isso com seus 8 anos de idade!
No Natal, Paulo ganhou uma sacola de presentes com roupas e brinquedos, fruto de doação de uma família. Junto com os presentes, ele recebeu uma carta com um desenho da filha do casal. No desenho tinha Jesus, Paulo e a amiga nova. Mesmo com todos os presentes, disse que o ele mais gostou de ganhar foi a carta! Alguém se importou com ele e lhe escreveu sua primeira cartinha. Ele queria saber se a amiga havia gostado da carta que escreveu também. Pronto! É um missionário mesmo! Há um grupo de pessoas que intercedem por ele enquanto vai crescendo e comunicando sua fé.
Paulo, que antes vivia com o nariz sempre congestionado, uma criança magrinha e acanhada, agora está mais forte fisicamente e já não fica tão resfriado. Vendo isso, me recordo da mudança que houve na casa de Paulo, graças a mobilização dos doadores que receberam as primeiras cartas. Antes, a casa era cheia de mofo e goteiras, mas agora tudo está mais arrumadinho e pintado. Confesso que me surpreendi com a oração da mãe de Paulo nessa visita que fiz: “Senhor, te dou graças pela chuva que cai, que é uma benção e faz tão bem.” Agora com a casa protegida, ela dá graças a Deus pela chuva! E eu choro de emoção porque sei exatamente o que se passa no seu coração: gratidão! Muita gratidão!
Em um ano, como Paulo cresceu! Ele está crescendo em graça, estatura e conhecimento diante de Deus e dos homens (Lc.2.52). Assim como Jesus, que viveu na pequena Belém, um dia Paulo vai levar ao mundo a mensagem do amor de Deus, a mesma que o alcançou, sarou suas feridas, consertou o telhado de sua casa, transformou sua família e sua história.

 

Ana Silva

Educadora do Projeto Calçada